Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«Eles sabiam»

Tony Blair e George W. Bush não mentiram apenas. Manipularam informações alegadamente fornecidas pelos serviços secretos e entraram na obscenidade paranóica da espionagem: os Governos inglês e americano procederam, de comum acordo, à ilegalmente monstruosa escuta - seguramente entre muitas outras - dos telefones do secretário-geral da ONU e do chefe dos inspectores da ONU no Iraque, Hans Blix.

Tais factos colocam não uma, mas duas questões. A primeira é puramente ética e política: os Governos de Washington e Londres sentem-se no direito de fazer tudo, mas rigorosamente tudo. Mesmo o que os seus ordenamentos jurídicos nacionais condenam. Mesmo o que o direito internacional condena e qualquer opinião pública condena. Falar ainda de democracias e Estados de direito começa a ser risível.

Mas a segunda questão é mais relevante: levando a espionagem a níveis dignos do nazi-fascismo, é credível que «não soubessem»? Que tenham sido «incompetentemente informados»?

Se escutavam Blix, assim conhecendo a repetida ausência das armas de destruição maciça, se escutavam Annan sabendo da sua opinião e dos seus esforços para evitar a guerra - claro que sabiam. E por isso, porque sabiam, mentiram. Deliberada e conscientemente.

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