Intervenção do deputado
Joaquim Miranda no PE
Conselho Europeu de Santa Maria da Feira
15 de Junho de 2000
Sr. Presidente,
São previsíveis os temas que marcarão a próxima
cimeira da Feira.
Mas já são de duvidoso e limitado alcance os resultados que
aí se obterão, ao menos para alguns deles, uma vez que o debate
respectivo extravasou o âmbito das instituições e desta
presidência e os olhos estão já virados para Nice.
Ainda assim, há razões para fortes inquietações.
O processo de alargamento avança e é particular argumento para
alterações institucionais. Mas omitem-se as suas incidências
e escamoteiam-se as medidas indispensáveis ao nível das diferentes
políticas e no âmbito orçamental.
E à medida que o debate avança ao nível da CIG ela ganha
contornos inadmissíveis.
Em nome da eficácia pretende-se impor um novo modelo de poder interno
e uma opção marcadamente federalista. Em nome dum ilusório
perigo de bloqueio por parte dos países de pequena e média dimensão,
vai ganhando terreno a ideia de dotar os grandes com um verdadeiro e exclusivo
direito de veto. Entretanto, esquece-se o essencial: a necessidade de associar
e fazer participar os cidadãos nestes debates, particularmente os mais
desmunidos e afastados dos centros de decisão.
Por seu lado, joga-se forte nas "cooperações reforçadas", mas omite-se que elas representariam a consagração de uma Europa a várias velocidades a que, inevitavelmente, seria associado um núcleo duro e um inaceitável directório político.
No tocante à segurança e à defesa - e sempre com o argumento falacioso da autonomia e na base duma efectiva concepção de bloco político-militar - seguem-se os caminhos ínvios da militarização e do reforço do pilar europeu da NATO quando o tempo deveria ser de desmantelamento definitivo dos blocos, de desarmamento e de cooperação na procura duma paz duradoura.
Mas, estranhamente, esta presidência - que se deixou ultrapassar pelos acontecimentos - acabou alinhando com todas estas concepções. E, pior, aplaudiu mesmo alguns dos seus mentores, mesmo se a aceitação das suas propostas e métodos de discussão, tomados à letra, conduziria ao inevitável encerramento da própria CIG.
Insiste na controversa Carta dos Direitos Fundamentais como quem quer ainda
pôr uma flor na lapela.
Mas não quis ou não soube sequer concentrar atenções
e esforços em domínios de particular importância par os
países de menor desenvolvimento relativo, como o do país de
que é originária. Por exemplo, a dimensão social ou as
questões da coesão.
Preferiu, antes, a gasta via da flexibilização dos mercados
de trabalho e da liquidação dos serviços públicos.
Não temos, por tudo isto, grandes expectativas relativamente à
cimeira da Feira.
Mas esperamos, ainda assim, que ao menos quanto a Timor algo de positivo aí
se consiga. E bem necessário é, dado o atraso que se verifica
na reconstrução do território e na sua preparação
para a independência.