Sr. Presidente,
Srs. Deputados:
O Grupo Parlamentar do PCP acompanha também a profunda preocupação
que atravessa alguns dos partidos desta Câmara em relação
à abertura de um processo que visa, no seu limite, a eventual adesão
da Turquia à União Europeia. Mas acompanhamos essa preocupação
por uma razão nuclear, afastando-nos de argumentos que têm matrizes
aparentes de intolerância religiosa, entre outras. A questão
nuclear, Sr. Presidente, é a contradição evidente entre
o actual regime turco e aquilo que se afirma ser a matriz fundacional da União
Europeia, centrada na democracia, na defesa dos direitos humanos, no respeito
pelas minorias.
A ocupação de Chipre, a perseguição do povo curdo
e a intolerância perante a existência de uma nação
curda, a manutenção da pena de morte, que neste momento está
a ameaçar o líder curdo Öcalan, são exemplos a que
poderíamos juntar o desrespeito, por parte da Turquia, de mais de uma
dezena de acórdãos do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem
em relação a várias atitudes do seu Estado e do seu regime,
atitudes de desrespeito evidente pelos direitos humanos.
É, pois, neste contexto, Sr. Presidente, que nos causa preocupação
este processo que pode vir a conduzir à adesão da Turquia à
União Europeia, sobretudo se antes dessa adesão - e sempre depois
de ouvido o povo turco - estas condições não estiverem
previamente resolvidas de forma sustentável.
Quero recordar que ainda recentemente, integrado numa delegação
do Grupo de Esquerda do Conselho da Europa, não tivemos possibilidade
de fazer uma conferência de imprensa em Istambul, porque o regime turco
não criou as condições necessárias para que ela
tivesse lugar, em torno do caso Öcalan.
Por estas razões, Sr. Presidente, acompanhamos o voto do Bloco de Esquerda
no quadro desta argumentação e esperamos que, antes de o processo
de adesão da Turquia ser eventualmente encerrado, estas condições
de democratização do Estado turco, de respeito pelas minorias,
de respeito pelos direitos humanos, seja efectivamente cumprido.