Debate de urgência sobre a situação da
TAP
Intervenção do deputado João Amaral
18 de Fevereiro de 1998
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Senhores Membros do Governo:
A posição do Partido Comunista Português sobre a TAP é a defesa da continuidade
e dinamização da transportadora aérea como companhia de bandeira, controlada
nacionalmente, com a diversificação de actividade que hoje a caracteriza, assegurando
um nível elevado de emprego, e prestando serviços de reconhecida qualidade.
A existência de uma transportadora aérea portuguesa com estas características,
como deve ser a TAP, tem importantes vantagens para o País. Desde logo, o valor
como "reserva estratégica", assegurando a Portugal em todas as condições
um determinado nível de capacidade própria de transporte. Depois, a ligação
à Comunidade de Países de Língua Portuguesa, com a presença de uma companhia
com a bandeira portuguesa, sem esquecer a presença em países com forte comunidade
emigrante. Em terceiro lugar, a prestação de serviço público, como o é a ligação
às Regiões Autónomas. Depois, os níveis de emprego que permite, não só nos postos
de trabalho directos, como nos que gera a montante e a jusante. Em quinto lugar,
o volume de divisas que permite captar. Tudo isto sem esquecer o efeito geral
de prestígio para o País que decorre de ver a sua própria companhia a trabalhar
em vários continentes, bem como na maioria dos países da União Europeia.
Depois da fúria desregulamentadora que foi imposta ao transporte aéreo pelo
lobby dos que pensaram ganhar assim o controlo mundial da aviação, uma companhia,
como a TAP, para garantir o seu futuro e poder progredir, tem de fazer acordos
com outras companhias. Esses acordos deviam ser justos e mutuamente vantajosos,
permitindo a ligação ao mercado europeu com expansão da fidelização de passageiros
e também algumas vantagens de escala (como por exemplo a aquisição conjunta
de aviões). Era também importante a ligação ao fortemente protegido mercado
americano, bem como uma ligação a Oriente. Tudo isto era essencial, garantindo
a autonomia de decisão da TAP e defendendo os interesses do País, dos trabalhadores
e da própria empresa.
Infelizmente, o que se tem vindo a passar com a TAP ao longo dos anos está muito
longe destes objectivos. E assim continuará a ser, enquanto a TAP for usada
pelos governos como palco de jogos de poder partidário e para promoção de interesses
totalmente alheios aos interesses do País.
É por isso que os trabalhadores da TAP estão altamente apreensivos, como pudemos
constatar numa visita que uma delegação do PCP, presidida pelo Secretário-Geral
Carlos Carvalhas, e integrando também o Presidente do Grupo Parlamentar do PCP,
efectuou à empresa no passado dia 10 de Fevereiro.
Os maiores factores de preocupação vêm do acordo com o grupo da Swissair, da
privatização, do futuro do sector de handling, do regime de transporte para
as Regiões Autónomas, das negociatas com outras transportadoras portuguesas,
dos regimes de trabalho, designadamente a questão dos tempos de trabalho. Os
grandes riscos que se desenham são a perda de postos de trabalho e a perda de
autonomia e do controlo nacional da TAP. No limitado tempo que o Grupo Parlamentar
do PCP dispõe, abordam-se algumas dessas questões.
O acordo com a Swissair faz por si a demonstração dos perigos que cercam a TAP.
O acordo foi feito à pressa e a à socapa, sem consulta às organizações representativas
dos trabalhadores, nem qualquer processo de diálogo com o País, com esta Assembleia.
Nada justifica esta precipitação. A TAP não estava com a corda na garganta,
ainda há pouco tempo recebeu uma injecção de fundos públicos, cerca de 180 milhões
de contos, para a sua viabilização, que o desnorte de Administrações políticas,
sem verdadeiro sentido de gestão, puseram em risco. O futuro da TAP não é um
negócio privado do PS. Ora, este acordo que quiseram confidencial, com a Swissair,
dá a esta todas as vantagens, mas traz para a TAP riscos e sujeições que nada
tornava necessário. Para quê oferecer a privatização da TAP, assegurando à Swissair
uma fatia de 10% da empresa? Dizem que assim o grupo Swissair fica amarrado
à TAP. A realidade é a inversa: assim é a TAP que fica amarrada à Swissair e
dela dependente. Ainda por cima quando esta operação se conjuga com a entrega
à Swissair do estratégico sector das reservas. Colocar a TAP na dependência
tecnológica da Swissair nesta área, e entregar-lhe a gestão das reservas, da
fidelização de passageiros e de outras actividades do sector comercial, é absolutamente
desastroso do ponto de vista do interesse da TAP em conservar a sua própria
autonomia. Os acordos parcelares que estão a ser celebrados em diferentes áreas
de actividade da TAP (vendas a bordo, lojas francas,etc.) não obedecem a nenhuma
estratégia da TAP. São no fundamental a estratégia e o interesse da Swissair.
E no termo deste processo, quem pode assegurar seriamente que não surgirão "excedentes"
entre os trabalhadores da TAP?
O mesmo tipo de opções descuidadas e atentatórias dos interesses da TAP têm
sido tomadas nos acordos com outras transportadoras portuguesas. Todos os acordos
têm, como ponto comum, a garantia da viabilização dessas empresas à custa da
TAP. É o que se passa com o acordo com a Portugália, mas mais nebulosamente
ainda, no acordo com a Air Madeira (e a Air Zarco), para a rota do Canadá. O
escândalo é tal que foi até a TAP a avançar com meio milhão de dólares para
a Air Madeira iniciar a rota, no avião que a TAP lhe cede através de leasing
feito com outra "Air" qualquer. Qual é a lógica de pôr a TAP a alimentar
a concorrência? Que protecção é esta ao grupo Pestana?
Uma palavra ainda, para falar da directiva europeia sobre handling. É essencial
garantir legalmente, como fizeram os franceses que eventuais novos operadores
tenham de respeitar as convenções em vigor entre a TAP e os trabalhadores que
fazem hoje este serviço. Só assim se defendem os interesses dos trabalhadores,
só assim se garante a qualidade do serviço, só assim se asseguram os postos
de trabalho respectivo na transportadora nacional, e o seu equilíbrio económico.
O que o PCP considera essencial é que o Governo tenha quanto à TAP uma política
de defesa da empresa, de combate às campanhas que contra ela se desenvolvem,
de garantia da sua autonomia e da sua característica de empresa nacional e de
bandeira, de melhoria da qualidade do seu serviço, de manutenção dos seus níveis
de emprego. É fundamental, finalmente, que o Governo e a TAP saibam chamar os
trabalhadores da TAP a participar na grandes decisões, porque foram eles que
construíram a TAP como ela é, e são os primeiros a saber defendê-la, desenvolvê-la
e dinamizá-la.
Disse.