Era previsível que a partir do
início de Dezembro aumentasse a conflitualidade social
com a entrada da fase mais aguda da Lei da Flexibilidade e da
Polivalência. Em centenas de empresas, particularmente no
sector têxtil, vestuário, calçado, na metalurgia
e indústria automóvel, os patrões criaram
um autêntico estado de sítio, interpretando e aplicando
discricionariamente a Lei, tentando eliminar do trabalho efectivo
as pausas e os tempos de mudança de turnos.
Trata-se de uma ofensiva sem precedentes
contra direitos conquistados mesmo antes do 25 de Abril. As pausas
e os tempos de mudança de turnos nestes sectores são
fundamentais para permitir alguma recuperação física
e mental dos trabalhadores sujeitos a ritmos intensos de produção.
A Comissão Política do
PCP saúda a combatividade dos trabalhadores destes sectores,
particularmente do Vale do Ave, da Corda da Serra e de Aveiro
que deram uma resposta notável ante o arbítrio patronal
e em defesa dos seus direitos consagrados na contratação
colectiva.
Perante as dificuldades e o recuo de
muitos patrões mais uma vez o Governo representado pelo
Secretário de Estado do Trabalho, com a triste e costumeira
cobertura da UGT, resolveu corresponder às exigências
das Confederações patronais vindo apressadamente
a público com uma resolução interpretativa
abusiva da Lei à revelia dos tribunais e do órgão
de soberania, Assembleia da República que legislou sobre
a matéria.
A Comissão Política do
PCP considera tal atitude como um acto politicamente inqualificável,
socialmente condenável e simultaneamente uma manifestação
de neo-corporativismo para as relações laborais
que não se conforma com o funcionamento das instituições
nem com o regime democrático consagrado na Constituição.
Surpreendentemente quando se esperava
do Governo e do 1º Ministro a demarcação e
a rectificação da atitude do Secretário de
Estado do Trabalho, a Ministra do Emprego e da Qualificação
Profissional em Conferência de Imprensa veio declarar que
aquele membro do Governo agiu em conformidade com as orientações
do Conselho de Ministros.
A Ministra em causa, invocando o acordo
e quem o subscreveu, veio colocar em causa a legitimidade moral
de quem recusa a aplicação arbitrária da
Lei e a sua abusiva interpretação. Para além
de constituir uma manobra de diversão é mais um
sinal de arrogância que parece começar a fazer escola
no Governo quanto se confronta com o protesto e a luta dos trabalhadores.
A Comissão Política do
PCP classifica esta posição do Governo - Confederações
Patronais e UGT -, como uma clara e inaceitável jogada
de antecipação à auditoria parlamentar com
carácter de urgência "sobre a aplicação
dos horários de trabalho e actuação da Inspecção
de Trabalho proposta pelo PCP através do seu Grupo Parlamentar,
procurando assim o executivo de Guterres pressionar e condicionar
a Assembleia da República às posições
agora assumidas, e inclusive contrariar o parecer já elaborado
pela Comissão Parlamentar de Direitos Liberdades e Garantias.
A Comissão Política do
PCP que desde a primeira hora alertou os trabalhadores para os
perigos que decorreriam da Lei da Flexibilidade e da Polivalência
não regateará esforços para que, na sua acção
política geral e nas instituições, o direito,
ao horários de trabalho dignificado e às 40 horas
semanais seja defendido e alcançado. Mas o que é
decisivo é o envolvimento, a mobilização
e a luta dos trabalhadores em torno deste direito histórico.
Envolvimento, mobilização e luta que não
é separável da aspiração a salários
mais justos, à valorização do salário
mínimo nacional, do direito à segurança social,
ao emprego e contra os despedimentos, a destruição
do aparelho produtivo e as privatizações.
A Comissão Política do
PCP chama a atenção dos trabalhadores para a contradição
insanável entre as abundantes declarações
de diálogo e de boas intenções sociais na
denominada Concertação Estratégica e o conteúdo
do Orçamento de Estado para 97 em fase final de aprovação
designadamente as orientações para conter os salários,
as reformas e subsídios sociais, manter a injustiça
fiscal e prosseguir a entrega ao grande capital de sectores e
empresas públicas estratégicas, antecipada de eliminação
de milhares de postos de trabalho efectivo.
Prisioneiro da sua própria opção
de defesa dos interesses e privilégios do grande capital,
amarrado ao dogma de Maastricht e da moeda única, o Governo
PS assume a responsabilidade de agravar os problemas sociais e
inevitavelmente gerar a conflitualidade. A luta que se trava em
centenas de empresas industriais, contra a desregulamentação
dos horários, a grande manifestação dos trabalhadores
da Administração Pública no passado dia 5
de Dezembro, a luta dos trabalhadores da Grundig e dos Ferroviários,
o Plenário Nacional de Sindicatos da CGTP-IN, alargado
a activistas sindicais e membros de Comissões de Trabalhadores,
o maior dos últimos 15 anos, a sua decisão em convocar
acções e manifestações diversificadas
para o próximo fim de semana e para 19 de Dezembro, demonstram
que o descontentamento latente se transforma em protesto e luta
contra a política de direita do Governo PS.
A Comissão Política do
PCP apela à mobilização dos militantes comunistas,
às organizações representativas dos trabalhadores
para participarem activa e massivamente nessas acções
para impor outro rumo e outra política que comporte e garanta
os direitos económicos e sociais das classes trabalhadores.
12 de Dezembro de 1996
A Comissão Política do CC do PCP