Senhor Presidente,
Senhores Membros do Governo,
Senhores Deputados,
A matéria que hoje vamos discutir no Plenário da Assembleia da República, tem
como base dois pedidos de autorização legislativa do Governo, assente na discussão
feita em mesas negociais com os sindicatos da Função Pública.
Foram necessários muitos anos de luta dos trabalhadores da Administração Pública
para que o Governo, se senta-se à mesa das negociações, e aceita-se negociar
matérias, que desde há muito são reclamadas com inteira justiça quer pelos trabalhadores,
quer pelas suas estruturas representativas, mas o Governo não respeitou, em
nosso entender, nem os prazos ali acertados, nem os compromissos ali assumidos,
em relação a muita da matéria negociada.
Já tivemos oportunidade de aqui o afirmar, em nome do Grupo Parlamentar do PCP,
e voltamos hoje aqui a fazê-lo, reafirmando quer o Governo do Partido Socialista
não tem cumprido os calendários propostos em sede de mesas negociais e existem
matérias, nomeadamente das ajudas de custo, que sofreram um enorme retrocesso,
para já não falar da integração do pessoal a recibos verdes, cujos resultados
práticos são hoje praticamente nulos.
Os concursos não avançaram. ou se avançaram foram fora do prazo que o Governo
a si mesmo impôs.
É uma desorientação completa, ou má-fé perfeitamente institucionalizada, sendo
que a segunda é mais credível que a primeira.
Nos pedidos de autorização legislativa, que hoje aqui discutimos o Governo actuou
de forma semelhante, ou seja, nas propostas de lei formulou os parâmetros dessas
mesmas autorizações, mas não enviou à Assembleia da República, os projectos
de diploma que entretanto negociou com as estruturas representativas dos trabalhadores.
Com efeito, desde há muito que o Governo do Partido Socialista apresentou aos
Sindicatos uma versão final de Projecto de Decreto-lei sobre o Regime Geral
de Recrutamento e Selecção de Pessoal para os quadros da Função Pública, bem
como o Regime de duração e Horário de Trabalho.
Aliás o Governo foi mesmo ao ponto de afirmar para os meios de comunicação social,
com grande pompa e circunstância, a redução de horário e recrutamento de pessoal,
enquanto à Assembleia da República, aos deputados sonegou a informação necessária,
a quem lhe vai dar essa mesma autorização legislativa. É inacreditável, mas
é a realidade.
Por tudo isto, tivemos necessidade de por via não oficial, procurarmos obter
os textos dos projectos-lei em causa, e é sobre eles que iremos fazer uma análise
tão circunstancial quanto possível.
Quanto ao primeiro o 136/VII, entendemos que deveria, desde já ser aceite, como
principio, que na área do recrutamento e concretamente dos concursos internos
o acesso de funcionários ou trabalhadores que a qualquer título exerçam
funções, nos organismos ou serviços à mais de um ano no serviço. Este principio
permitiria resolver grande parte das situações dos trabalhadores a recibo verde,
já que esta é uma situação que justificadamente nos preocupa, porque apesar
da aprovação do Decreto-Lei 145/97, a questão está longe de ser resolvida.
Podemos mesmo afirmar que a admissão para a Administração Pública de milhares
de trabalhadores, com contratos a prazo, indicia que a precaridade é para continuar.
Quanto à Proposta de Lei 138/VII, existem princípios que deveriam ser lavados
à prática em toda a sua verdadeira extensão, ou seja, a uniformização da semana
dos 5 dias de trabalho, e tal não é liquido na proposta de Decreto-lei.
Por outro lado o Governo anunciou, com pompa e circunstância a semana dos 4
dias, mas à custa de redução salarial, com a qual não estamos de acordo, e vai
ao ponto de afirmar que a mesma será realidade, quer haja ou não acordo sobre
esta matéria.
Senhor Presidente,
Senhores Membros do Governo,
Senhores Deputados,
Qualquer alteração no horário de trabalho da Função Pública terá forçosamente
que ter em atenção dois princípios fundamentais:
Em primeiro lugar, reduzir o tempo de trabalho sem reduzir o salário, já de
si desajustado da realidade da União Europeia, e em segundo lugar permitir uma
melhor organização da Administração Pública, que conduza à eliminação do emprego
precário.
Queremos reafirmar aqui, que o Grupo Parlamentar do PCP, se oporá frontalmente
às soluções já enunciadas pelo Governo, pois na prática o que aconteceria, é
que esta redução levaria a breve prazo a uma desregulação laboral e a uma maior
precariedade de emprego na Função Pública.
O que aconteceu na Bélgica, deve servir como ponto de reflexão, e não como exemplo
a seguir.
Outra das situações identificadas como negativas é a não aceitação do principio
do suplemento de trabalho nocturno. Existem carreiras profissionais na função
pública que só são previsíveis com recurso a trabalho nocturno, e essas deveriam
ser objecto da consagração desse princípio, quer pela sua perigosidade quer
pela sua penosidade.
Esperamos que o Governo seja sensível, a estes e outros aspectos que consideramos
serem necessários analisar em sede de discussão de especialidade, permitindo
alterações em concreto que levem a uma significativa melhoria da legislação
proposta.
As propostas de lei e consequente autorização legislativa agora em apreciação
podem ser um passo significativo para o edifício legislativo, do estatuto do
pessoal da Administração Pública, desde que correctamente aplicadas, sendo que
para isso o Governo do Partido Socialista se mostre disponível a algumas alterações
consideradas pertinentes e justificadas.
Da nossa parte, manifestamos aqui, a total disponibilidade do Grupo Parlamentar
do PCP para discutir, analisar, e contribuir para a melhoria destas propostas
de lei, assim o Governo o faça no mesmo sentido.
Disse.