Programa Nacional de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais
Proposta do PCP
19 de Novembro de 1998

 

INTRODUÇÃO

A droga e o branqueamento de capitais são dois graves problemas do mundo contemporâneo. A droga constitui um autêntico flagelo social que toca profundamente o nosso país. O combate a este problema implica uma acção multidisciplinar, na prevenção, no tratamento e reinserção social, na redução de riscos, mas também no combate ao tráfico de droga e ao branqueamento de capitais que lhe está associado.

O branqueamento de capitais tem no tráfico de droga uma das suas principais fontes. Milhares de milhões de contos, somas geradas pelo sórdido negócio da droga e por outras práticas ilícitas entram no circuito legal dos negócios e tendem a envolver uma parte importante da economia no mundo da criminalidade. O branqueamento de capitais é um problema de amplitude mundial, envolvendo poderosíssimas organizações criminosas que, com as actividades e dinheiro ilícitos minam e se interligam com o sistema económico e financeiro e com o poder económico e político, fomentam a corrupção, põem em causa a soberania e independência dos Estados e comprometem a própria democracia.

O combate ao branqueamento de capitais é uma das formas mais eficazes de atacar o tráfico, uma vez que não se limita à apreensão desta ou daquela quantidade de droga, atinge os traficantes e todos aqueles que beneficiam do tráfico naquilo que mais lhes dói, nos seus lucros e patrimónios ilícitos, reduzindo e liquidando o poder económico dos indivíduos e das organizações criminosas.

A desregulamentação e liberalização da economia e das actividades financeiras, dominantes no mundo actual, os paraísos fiscais, a crescente sofisticação das técnicas e a mundialização do branqueamento, a falta de vontade política e a insuficiência da legislação em muitos países, têm facilitado o branqueamento de capitais e dificultam um combate eficaz a estas práticas criminosas.

É certo que a prevenção e o combate ao branqueamento de capitais, cuja criminalização foi consagrada na legislação de muitos países, incluindo na portuguesa, tem vindo a ganhar apoios, mas sem que se verifique uma alteração efectiva da situação.

Em Portugal a legislação foi aprovada há cinco anos e os resultados até agora são mínimos, poucos processos e ainda menos condenações, embora haja a consciência que defrontamos um grave problema de branqueamento no nosso país e exista a previsão de um agravamento futuro, com a progressiva eliminação de fronteiras e a introdução do Euro.

No mundo de hoje o salto qualitativo que se impõe para combater o tráfico de droga e o branqueamento de capitais exige, uma real vontade política e implica profundas alterações no sentido de uma nova e mais justa ordem internacional e de uma alternativa global de sociedade.

A promoção e reactivação da actividade produtiva real, com respeito pela natureza e ao serviço das necessidades humanas, o controlo, regulamentação, redução drástica e reorientação socialmente útil dos fluxos de capital especulativo, o aprofundamento em todos os planos da democracia e da participação dos cidadãos, o seu controlo e capacidade para influir no poder, o combate contra o pensamento único, são elementos essenciais nesta direcção.

O êxito na luta contra o tráfico de droga e o branqueamento de capitais depende igualmente da capacidade e vontade internacional, na promoção duma política de cooperação efectiva com os países menos desenvolvidos, que passe por uma economia de substituição e controlo da cultura de plantas base de produção de estupefacientes, pela implementação de planos de desenvolvimento sustentável, que lhes permita romper o ciclo da pobreza e subdesenvolvimento, e pela anulação da dívida externa, autêntico garrote ao seu progresso económico e social.

Proposta de criação do Programa
Nacional de Prevenção e Combate ao
Branqueamento de Capitais


No seguimento do Fórum "Droga: branqueamento de capitais em questão" que realizou em Maio deste ano e da reflexão desenvolvida, o PCP propõe a criação de um Programa Nacional de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais e adianta quatro linhas de orientação essenciais com um conjunto de propostas, como contributo para esse programa.

No âmbito da sua acção política e em iniciativas legislativas o PCP formalizará essas orientações e propostas, com o objectivo de prevenir a criminalização da economia e do sistema financeiro, combater o narcotráfico, fazer recuar a toxicodependência e para defesa da própria democracia.

1ª - Alargar a aplicação das normas sobre a prevenção, criminalização e repressão do branqueamento de capitais e reforçar a cooperação internacional de modo a dar eficácia a este combate, com respeito pela soberania e pelos princípios orientadores da ordem jurídica de cada Estado.

2ª - Adoptar mecanismos de regulamentação, controlo, transparência e fiscalização das actividades financeiras que permitam um mais eficaz combate à fraude fiscal e ao branqueamento de capitais, que utiliza designadamente os "off-shore", o desenvolvimento das telecomunicações e as actividades financeiras exteriores ao sistema bancário clássico.

3ª - Aperfeiçoar a legislação portuguesa para prevenir e combater o branqueamento de capitais e a acção das associações criminosas, para uma mais fácil confiscação dos patrimónios de origem criminosa e para ultrapassar o obstáculo do segredo bancário.

4ª - Aprofundar a acção das entidades que intervêm na prevenção e repressão do branqueamento de capitais, implementar, uma entidade de coordenação e avaliação da prevenção do branqueamento e reforçar e dar eficácia às estruturas e meios das magistraturas e das autoridades policiais.

Linhas de orientação e propostas,
contributo
do PCP para o
Programa Nacional de Prevenção
e
Combate ao Branqueamento de Capitais


1ª - Alargar a aplicação das normas sobre a prevenção, criminalização e repressão do branqueamento de capitais e reforçar a cooperação internacional de modo a dar eficácia a este combate, com respeito pela soberania e pelos princípios orientadores da ordem jurídica de cada Estado. 2ª - Adoptar mecanismos de regulamentação, controlo, transparência e fiscalização das actividades financeiras que permitam um mais eficaz combate à fraude fiscal e ao branqueamento de capitais, que utiliza designadamente os "off-shore", o desenvolvimento das telecomunicações e as actividades financeiras exteriores ao sistema bancário clássico. 3ª - Aperfeiçoar a legislação portuguesa para prevenir e combater o branqueamento de capitais e a acção das associações criminosas, para uma mais fácil confiscação dos patrimónios de origem criminosa e para ultrapassar o obstáculo do segredo bancário. 4ª - Aprofundar a acção das entidades que intervêm na prevenção e repressão do branqueamento de capitais, implementar uma entidade de coordenação e avaliação da prevenção do branqueamento e reforçar e dar eficácia às estruturas e meios das magistraturas e das autoridades policiais.


A concretização da resposta política que a dimensão do problema do branqueamento de capitais e a perspectiva do seu agravamento impõem, exige orientações, iniciativas e medidas ajustadas, mas depende acima de tudo da vontade política para atacar este problema.

O PCP, que foi pioneiro na abordagem da prevenção do branqueamento de capitais no nosso país e tem intervido regularmente sobre esta questão ao longo dos anos, assume e continuará a assumir as suas responsabilidades, contribuindo para um mais profundo conhecimento destes problemas, criticando, apontando caminhos e propondo medidas para prevenir e combater a droga e o branqueamento de capitais, no quadro da luta por uma nova e mais justa ordem internacional e por uma alternativa global de sociedade.