Por uma política do medicamento ao serviço
dos portugueses
Comunicado da Comissão Política
do PCP
3 de Fevereiro de 2006
Só razões economicistas, enquadradas numa estratégia global
de fazer pesar cada vez mais nos orçamentos familiares os custos com
a saúde, numa clara afronta à Constituição da República,
podem justificar mais uma medida que justificada com a necessidade de combater
a fraude, terá como consequência inevitável, retirar a milhares
de pensionistas com pensões abaixo do salário mínimo nacional,
o direito a terem um apoio de mais 15% na comparticipação dos
medicamentos. Uma parte significativa destes pensionistas são já
hoje confrontados com a necessidade de optarem entre o satisfazerem necessidades
mínimas com a alimentação e o vestuário, e a compra
dos medicamentos que necessitam no dia a dia, tal é o peso dos custos
com medicamentos no quadro de um orçamento familiar de subsistência.
O Ministro da Saúde não pode ignorar as dificuldades em que a
esmagadora maioria dos pensionistas, que têm um rendimento inferior ao
salário mínimo, vivem em Portugal, nomeadamente as dificuldades
que patenteiam quando são obrigados a responder às exigências
colocadas pela burocracia nos serviços do Estado.
Correia de campos não pode fazer de conta que desconhece que a circulação
de informação não é tão eficaz que garanta
que aos pensionistas venham a conhecer atempadamente a decisão do governo;
ignorar as dificuldades de deslocação de muitos daqueles que vivem
isolados, muitas vezes em zonas onde nem sequer existe transporte público;
ignorar os níveis de analfabetismo muito elevados nesta camada social
que dificulta o preenchimento de documentos.
O Ministro da Saúde não só conhece bem esta realidade,
como sabe que esta medida, igual a outras que já tomou na área
do medicamento, apenas serve para que o Estado gaste menos, não à
custa da diminuição dos lucros da indústria, da distribuição
e das farmácias, mas à custa dos utentes.
Há muito que as suas opções foram por transformar a saúde
numa área de negócio, contrariando a concretização
do direito de todos à protecção da saúde, consagrado
na Constituição da República Portuguesa.
Não estamos contra a necessidade de moralizar o sistema a todos os níveis,
não só na área do medicamento. Gostaríamos por exemplo,
que o Ministro da Saúde tivesse a mesma determinação em
acabar de vez com a promiscuidade entre o público e o privado em todos
os sectores da saúde, esta sim uma situação profundamente
imoral.
O que vai acontecer com a concretização da portaria 91/2006 agora
publicada, é que todos os anos muitos milhares de pensionistas, sobretudo
os que têm mais dificuldades, não vão apresentar a tempo
e horas os seus comprovativos. Teremos então mais uma conversa do Ministro
com a imprensa em que certamente não deixará de falar nas virtudes
da medida agora tomada, anunciando com pompa e circunstância mais uma
redução de gastos por parte do estado em medicamentos. O que ele
não vai certamente dizer é que essa redução será
feita, mais uma vez, não porque o ministério tenha definido uma
política do medicamento a nível hospitalar onde se podiam economizar
milhões de euros, não porque tenha definido uma política
racional de gestão de medicamentos a nível nacional, quer ao nível
hospitalar, quer ao nível ambulatório, mas porque muitos daqueles
que vivem num estado de pobreza e que já hoje não têm acesso
a todos os medicamentos de que estão necessitados, perderão parte
das comparticipações a que têm direito pelos seus baixos
rendimentos.
O PCP exige que o Ministério da Saúde encontre uma solução
mais simples e eficaz na resolução deste problema, impedindo desta
forma que mais portugueses morram neste país por dificuldades no acesso
aos meios de combate à doença.