Há cerca de um mês que os estudantes do Instituto Superior de Tecnologias da
Saúde estão em luta na defesa dos seus direitos e das suas expectativas legítimas.
A situação em que se encontram cerca de 600 alunos é dramática, vendo o seu
futuro e o investimento que fizeram nos cursos daquela escola postos em causa.
E conhecemos as dificuldades com que tantos deles e das suas famílias conseguiram
suportar os encargos da frequência daquele estabelecimento de ensino.
Em toda esta história há uma pecado original seguido de diversos pecados ao
longo do percurso. E o pecado original é que estes alunos frequentaram cursos
privados na área das tecnologias da saúde porque o numerus clausus não lhes
permitiu fazerem-no nas escolas públicas. Mesmo nesta área de formação em que
os nossos hospitais e centros de saúde são tão carenciados.
Depois disso o ISTS funcionou durante vários anos, inscrevendo centenas de alunos,
sem reconhecimento legal. A verdade é que durante todo esse tempo o Ministério
da Educação não quis precaver a situação que agora está criada actuando de forma
a não permitir que os alunos se inscrevessem.
É evidente que a decisão de encerramento da escola não oferece qualquer contestação
do ponto de vista dos requisitos legais e da legitimidade do Ministério. Mas
o problema aqui é outro.
O problema que aqui temos é o de saber se o Ministério da Educação que não quis
evitar logo na origem que esta situação se criasse; se o Ministério da Educação
que pratica uma política de numerus clausus que frustra as expectativas dos
jovens portugueses em aceder ao ensino superior público; se este mesmo Ministério
da Educação que não tem tomado atitudes semelhantes em relação a escolas em
situações semelhantes, pode agora dizer que não tem nada a ver com o problema
dos estudantes.
Aliás, depois de várias semanas de presença diária em frente ao Ministério da
Educação ainda nenhum membro do Governo teve a dignidade de os receber. É o
autismo completo e uma tentativa de desresponsabilização indigna de qualquer
titular de órgão de soberania.
Destes cerca de 600 estudantes, 130 estão prestes a terminar o estágio, outros
tantos a iniciá-lo tendo terminado a parte teórica e os restantes nos três primeiros
anos. Muitos deles estavam já com perspectivas de emprego nesta área amplamente
deficitária em matéria de quadros técnicos.
Exige-se pois uma solução para este problema que tenha em consideração os interesses
dos estudantes que não podem ser o bode expiatório de um negócio que durante
anos à custa deles foi feito e que o Governo permitiu.
O Governo tem a obrigação de encontrar uma solução para a situação que ajudou
a criar. Estes estudantes têm o direito de ver aproveitado o esforço que já
fizeram. E estão disponíveis para ser avaliados se necessário for para que possam
ser integrados noutra instituição. A solução a encontrar implica obviamente
a colaboração e o empenhamento dos estabelecimentos do ensino superior público
desta área. Mas o que é indispensável é que o Governo disponibilize os meios
para a eventual integração destes estudantes noutras escolas o que implicará
necessariamente custos acrescidos.
E a verdade é que noutros tempos este Governo afirmava que em relação a eventuais
encerramentos de cursos ou instituições a funcionar ilegitimamente era preciso
assegurar a protecção dos estudantes. Vejam-se as actas da Comissão de Inquérito
ao processo da Universidade Atlântica.
Os estudantes do ISTS são vítimas da política educativa que tem sido seguida,
alicerçada no numerus clausus, privilegiando o negócio do ensino superior privado
e a exploração dos milhares de alunos que se vêem obrigados a frequentá-lo.
É pois a estrita obrigação do Governo proteger o elo mais fraco desta cadeia.
Porque com a recusa de encontrar uma solução para o problema dos estudantes
o que se está a fazer é a deixar intocados os lucros que as instituições ilegais
embolsaram. É condenar as vítimas em vez dos culpados reafirmando a cumplicidade
evidente com os interesses instalados no ensino privado.