Instituto Superior de Tecnologias da Saúde
Intervenção do deputado Bernardino Soares
22 de Abril de 1999

 

Há cerca de um mês que os estudantes do Instituto Superior de Tecnologias da Saúde estão em luta na defesa dos seus direitos e das suas expectativas legítimas.

A situação em que se encontram cerca de 600 alunos é dramática, vendo o seu futuro e o investimento que fizeram nos cursos daquela escola postos em causa. E conhecemos as dificuldades com que tantos deles e das suas famílias conseguiram suportar os encargos da frequência daquele estabelecimento de ensino.

Em toda esta história há uma pecado original seguido de diversos pecados ao longo do percurso. E o pecado original é que estes alunos frequentaram cursos privados na área das tecnologias da saúde porque o numerus clausus não lhes permitiu fazerem-no nas escolas públicas. Mesmo nesta área de formação em que os nossos hospitais e centros de saúde são tão carenciados.

Depois disso o ISTS funcionou durante vários anos, inscrevendo centenas de alunos, sem reconhecimento legal. A verdade é que durante todo esse tempo o Ministério da Educação não quis precaver a situação que agora está criada actuando de forma a não permitir que os alunos se inscrevessem.

É evidente que a decisão de encerramento da escola não oferece qualquer contestação do ponto de vista dos requisitos legais e da legitimidade do Ministério. Mas o problema aqui é outro.

O problema que aqui temos é o de saber se o Ministério da Educação que não quis evitar logo na origem que esta situação se criasse; se o Ministério da Educação que pratica uma política de numerus clausus que frustra as expectativas dos jovens portugueses em aceder ao ensino superior público; se este mesmo Ministério da Educação que não tem tomado atitudes semelhantes em relação a escolas em situações semelhantes, pode agora dizer que não tem nada a ver com o problema dos estudantes.

Aliás, depois de várias semanas de presença diária em frente ao Ministério da Educação ainda nenhum membro do Governo teve a dignidade de os receber. É o autismo completo e uma tentativa de desresponsabilização indigna de qualquer titular de órgão de soberania.

Destes cerca de 600 estudantes, 130 estão prestes a terminar o estágio, outros tantos a iniciá-lo tendo terminado a parte teórica e os restantes nos três primeiros anos. Muitos deles estavam já com perspectivas de emprego nesta área amplamente deficitária em matéria de quadros técnicos.

Exige-se pois uma solução para este problema que tenha em consideração os interesses dos estudantes que não podem ser o bode expiatório de um negócio que durante anos à custa deles foi feito e que o Governo permitiu.

O Governo tem a obrigação de encontrar uma solução para a situação que ajudou a criar. Estes estudantes têm o direito de ver aproveitado o esforço que já fizeram. E estão disponíveis para ser avaliados se necessário for para que possam ser integrados noutra instituição. A solução a encontrar implica obviamente a colaboração e o empenhamento dos estabelecimentos do ensino superior público desta área. Mas o que é indispensável é que o Governo disponibilize os meios para a eventual integração destes estudantes noutras escolas o que implicará necessariamente custos acrescidos.

E a verdade é que noutros tempos este Governo afirmava que em relação a eventuais encerramentos de cursos ou instituições a funcionar ilegitimamente era preciso assegurar a protecção dos estudantes. Vejam-se as actas da Comissão de Inquérito ao processo da Universidade Atlântica.

Os estudantes do ISTS são vítimas da política educativa que tem sido seguida, alicerçada no numerus clausus, privilegiando o negócio do ensino superior privado e a exploração dos milhares de alunos que se vêem obrigados a frequentá-lo.

É pois a estrita obrigação do Governo proteger o elo mais fraco desta cadeia. Porque com a recusa de encontrar uma solução para o problema dos estudantes o que se está a fazer é a deixar intocados os lucros que as instituições ilegais embolsaram. É condenar as vítimas em vez dos culpados reafirmando a cumplicidade evidente com os interesses instalados no ensino privado.