Intervenção do
deputado Rodeia Machado
Dívida do Ministério da Saúde aos Bombeiros Portugueses
14 de Janeiro de 1999
Sr. Presidente,
Srs. Deputados,
A matéria que hoje trazemos ao Plenário da Assembleia da República diz respeito à situação das dívidas das Administrações
Regionais de Saúde e Hospitais, centrado na volumosa dívida do Ministério da Saúde aos Bombeiros Portugueses, pelo transporte de
doentes em ambulâncias.
De facto, a situação criada pelo Ministério da Saúde às estruturas administrativas dos Bombeiros em Portugal, é uma situação
insustentável a que urge pôr cobro, sob pena de que dezenas de Associações de Bombeiros Voluntários, possam paralisar por falta
de verbas.
Embora a situação não seja idêntica em todos os Distritos, nem em todas as Associações, a verdade é a de que existem exemplos
gritantes.
Podemos referir que aqui na Região de Lisboa, o Hospital de Vila Franca de Xira deve todo o ano de 1998 a várias Associações, e na
área da Federação de Lisboa que comporta 54 Associações de Bombeiros a divida dos Hospitais ascende a cerca de 100.000 contos.
E na área da Federação de Beja a dívida da sub-Região de Beja da Administração Regional de Saúde do Alentejo atinge também um
volume de cerca de 50.000 contos, a 14 Associações de Bombeiros Voluntários.
Acontece mesmo nesta Federação a situação caricata, de os pagamentos mensais terem sido alterados para os equiparar aos
pagamentos de Évora e Portalegre, que se encontravam em atraso há meses.
Parece mentira, mas é a dura realidade.
Nivelou-se pela negativa para que todos ficassem iguais.
Ao tomarmos conhecimento desta situação requeremos ao Governo que nos informa-se do porquê desta atitude. São passados mais
de 2 meses e até agora não obtivemos qualquer resposta.
Sr. Presidente,
Srs. Deputados,
Os atrasos no pagamento de serviços prestados pelo Transporte de Doentes em Ambulâncias é uma matéria já por diversas vezes
abordada nesta Assembleia pelo PCP, e a resposta do Ministério da Saúde é sempre a mesma: "Que o governo vai tentar melhorar a
situação, porque conhece as dificuldades financeiras com que vivem as Associações de Bombeiros Voluntários", mas o que é certo é
que a dívida tem vindo a aumentar.
Vejamos, então, qual é a realidade.
O Ministério da Saúde elaborou há vários anos um Acordo com a Liga de Bombeiros Portugueses para o transporte de doentes em
ambulância. Esse acordo, foi revisto no seu clausulado em 1985 e os valores da contrapartida financeira em 1995, e desde essa data
até hoje, os valores não foram mais revistos, pese embora tenha sido solicitada a sua revisão e se saiba do aumento que tiveram os
combustíveis, as viaturas e as peças para reparações desde 1995.
Basta dizer, que uma ambulância, denominada auto-maca de saúde, custa hoje o dobro do que há cinco anos atrás, ou seja custa
em média 10.000 contos, e mais, e é totalmente custeada pela Associação de Bombeiros.
Uma ambulância medicalizada custa cerca de 20.000 contos.
São custos enormes para quem tem tantas debilidades financeiras.
Por outro lado, no acordo foi fixado o prazo de 90 dias para liquidação das facturas, mas o Ministério da Saúde através das
Administrações Regionais de Saúde e Hospitais, não cumpre os prazos que assumiu, existindo dívidas de 6 meses e mais, para além
dos 90 dias acordados, como é o caso do Hospital de Vila Franca de Xira.
Sem a revisão do acordo, e com os atrasos nos pagamentos, bem se pode dizer que são os Bombeiros que estão a financiar por via
indirecta o Serviço Nacional de Saúde.
Aliás, uma proposta do Ministério da Saúde, ainda recentemente, propunha que as Associações que quisessem receber o dinheiro
que legitimamente lhe pertence e dentro do prazo, deveriam celebrar um protocolo com o Ministério e Banca decorrendo os juros da
operação bancária por conta dos Bombeiros.
É caso para dizer, "com amigos destes quem é que precisa de inimigos?"
Os Bombeiros são obrigados a dever dinheiro a fornecedores de combustível e todo o tipo de material, porque não têm fundos para
fazer face aos pagamentos.
É uma situação insustentável a que o Governo tem que dar resposta positiva, num breve prazo, pois a dívida das estruturas do
Ministério da Saúde aos Bombeiros ascende a cerca de um milhão e meio de contos, e está a criar a asfixia económica das
Associações de Bombeiros Voluntários.
Pela parte do Grupo Parlamentar do PCP tudo faremos para que o Governo cumpra as suas obrigações e nesse sentido vamos
requerer a vinda da Senhora Ministra da Saúde à Comissão.
Não nos calaremos enquanto esta situação não for resolvida.
Nós cumprimos a nossa obrigação, denunciando esta injustiça, assim o Governo do Partido Socialista saiba cumprir a sua, liquidando
a dívida vergonhosa de cerca de um milhão e meio de contos que tem para com os Bombeiros Portugueses.
Disse.