Senhor Presidente,
Senhores Deputados:
O sector da saúde foi sem dúvida um dos mais atacados pela política neo-liberal
dos Governo do PSD, o que se traduziu em profundas perdas no direito à saúde
dos cidadãos portugueses.
O que se exigia e exige na política de saúde é a inversão completa desta tendência
valorizando e investindo no Serviço Nacional de Saúde, instrumento privilegiado
para garantir um acesso pleno e democrático dos cidadãos à saúde.
Apesar deste imperativo, continua a degradar-se a situação do Serviço Nacional
de Saúde e não há da parte do Governo uma opção clara para a sua defesa e modernização,
nem sequer a capacidade para concretizar algumas intenções positivas para ter
acesso aos cuidados de saúde.
São as listas de espera para consultas de especialidade nos hospitais.
São os milhares de utentes sem médico de família.
É a falta de cuidados prestados nos domicílios a doentes que têm dificuldades
em dirigir-se aos centros de saúde.
É a falta de médicos, enfermeiros e outros técnicos que limita fortemente a
resposta às necessidades das populações.
São as comparticipações insuficientes e os reembolsos demorados que tornam medicamentos
indispensáveis bens de luxo que poucos podem alcançar.
O Governo afirma repetidamente a sua prioridade aos cuidados primários de saúde,
mas na prática fecham-se extensões necessárias às populações e inscrevem-se
verbas irrisórias no PIDDAC que adiam por mais tempo a construção de instalações
essenciais para muitas populações.
E repetem-se, dia após dia, à chuva e ao sol as filas de pessoas desde as 4,
5 e as 6 horas da manhã à porta dos centros de saúde, na tentativa desesperada
de conseguir consulta para si ou para um familiar.
Nos hospitais, continua a sobrecarga da urgência, enquanto nas consultas externas
as demoras aumentam, pagando os doentes esta ineficiência com a degradação do
seu estado de saúde.
A resposta do Governo não é pelo alargamento ou pela melhor organização dos
hospitais. A resposta do Governo é a alteração do estatuto jurídico dos hospitais,
em que se avança no caminho da desregulamentação laboral e do ataque às carreiras
profissionais e em que se abre a porta para uma gradual e mal disfarçada desresponsabilização
do Estado, à semelhança do que acontece noutros sectores sociais.
Outra área em que a situação é de grande gravidade é a dos recursos humanos.
O interior do País está já hoje quase sem médicos e a carência alastra a nível
nacional. Todos assumem que esta situação atingirá níveis insustentáveis dentro
de alguns anos, mas as medidas tardam em chegar.
Quanto aos enfermeiros, nem é preciso esperar alguns anos. Estamos já hoje numa
situação insustentável e mesmo nos centros urbanos é cada vez mais frequente
encontrar quadros de hospitais e centros de saúde preenchidos em menos de metade
no que diz respeito ao pessoal de enfermagem.
É generalizado o recurso aos regimes de acumulação de funções com evidentes
prejuízos para a vida dos profissionais mas também para a qualidade dos cuidados
prestados.
É uma situação insustentável que exige resposta imediata, pela abertura do numerus
clausus em medicina e enfermagem. Não é admissível que as escolas de enfermagem
estejam a formar, por decisão política, apenas metade do que poderiam fazer.
Não é admissível que hoje se formem por ano nas faculdades de medicina menos
médicos do que há 40 anos atrás.
Esta degradação do Serviço Nacional de Saúde passa também pelas questões do
financiamento. É verdade que o SNS deve ser melhor administrado, que há ganhos
de rendimento a atingir. Mas isso não pode fazer esquecer que existe um permanente
e sucessivo sub-financiamento do SNS responsável por grande parte da degradação
a que se assistiu nos últimos anos.
Mais ainda. Ao contrário do que nos tentam fazer crer, a solução não é diminuir
direitos e reduzir o SNS a um sistema assistencial de cuidados mínimos garantidos,
enquanto que aos restantes só quem tem dinheiro tem acesso.
A solução é atacar os interesses instalados dos que se servem com abundância
do orçamento da saúde e diminuir as margens de lucro das multinacionais dos
medicamentos e dos equipamentos, do sector convencionado onde imperam os monopólios
na hemodiálise e nas análises clínicas ou dos construtores civis que entre atrasos
e reformulações de projectos embolsam mais uns milhões à custa do erário público.
Para isso não houve nem há vontade nem coragem.
Que fique claro que os custos com que a política de saúde se deve preocupar
são os custos que paga a saúde dos portugueses e são os custos da discriminação
de quem menos pode e mais precisa.
Disse.