Camaradas:
No momento em que passam 150 anos sobre a publicação do Manifesto do Partido
Comunista, a obra inesquecível de Marx e Engels que deu um impulso teórico decisivo
para um grande movimento de ideias, de combates e de lutas orientados pela perspectiva
inovadora e revolucionária da superação do capitalismo, aqui estamos a celebrar,
com legítimo orgulho e com sentido das responsabilidades, os 77 anos de vida
e de luta do nosso Partido, o Partido Comunista Português.
150 anos depois do Manifesto Comunista e 77 anos depois da fundação do PCP,
aqui estamos de pé e com a cabeça levantada, firmes nas nossas convicções, unidos
e solidários em torno dos ideais comunistas e de um grande projecto humanista
de transformação da vida, empenhados em conquistar para a classe operária, para
todos os trabalhadores e para o povo português e pela acção e vontade da classe
operária, dos trabalhadores e do povo português, os novos horizontes de esperança,
de mudança e de progresso social exigidos pelo tempo que vivemos.
Aqui estamos para prosseguir, com novas energias e combatividade renovada, um
grande património de experiência e de luta que marca a incomparável presença
do PCP na sociedade portuguesa ao longo deste século.
Aqui estamos para dar novas expressões e desenvolvimento a um histórico combate
contra a injustiça e a opressão, pela dignidade humana e pela liberdade e a
democracia e que foi generosamente sustentado pelo esforço e pela coragem de
gerações e gerações de comunistas.
Aqui estamos para dar novo fôlego à intervenção do nosso Partido como partido
de luta e partido de projecto, isto é, como partido tão solidamente empenhado
em animar a resistência e a organizar a luta contra o que está mal quanto empenhado
em ganhar novos apoios para as suas propostas construtivas e para as respostas
que defende para fazer face aos grandes problemas do país.
Aqui estamos como comunistas que somos e que queremos continuar a ser e como
Partido Comunista Português que é e que quer continuar a ser tudo aquilo que
o seu nome, a sua história e o seu futuro exigem que seja.
Saudamos os trabalhadores em luta
Camaradas:
Comemoramos o septuagésimo sétimo aniversário num quadro contraditório de dificuldades
e perigos para os trabalhadores e os seus direitos e para outros sectores e
camadas mais desfavorecidas.
Mas simultaneamente surgem possibilidades e potencialidades com o desenvolvimento
da acção, do protesto e da luta.
O recente acordo negociado na têxtil como corolário de 15 meses de luta dos
trabalhadores do sector, tem um significado e um alcance de grande valor, se
considerarmos o compromisso férreo que existia entre o grande capital da têxtil
e o Governo desde Novembro de 1996.
A conquista das 40 horas com descanso ao sábado e da pausa de meia hora nunca
teria sido alcançada se não fossem as greves, as manifestações, concentrações
e desfiles, a dimensão da solidariedade doutros sectores e de personalidades,
a solidariedade e a iniciativa do PCP.
Vir agora o Governo congratular-se com tal resultado depois da sua responsabilidade
e cumplicidade na abusiva interpretação da lei, não pode deixar de se considerar
como uma atitude farisaica. Mas significa ainda que o governo foi obrigado a
dar a mão à palmatória e a reconhecer a justeza das reivindicações dos trabalhadores.
Mais uma vez se provou que vale a pena lutar. Certamente que estais de acordo
que daqui saudemos os trabalhadores e trabalhadoras têxteis pela sua combatividade
e pelos seus resultados.
Há que prosseguir a luta em torno das pequenas pausas, contra a desregulamentação
e flexibilização do horário de trabalho.
Há que consolidar as 40 horas e considerar a evolução da redução do horário
de trabalho em articulação com a defesa do emprego e a dignificação dos salários.
Como Partido de luta e de proposta podem as trabalhadoras e os trabalhadores
contar com o PCP. Tal como nos têxteis, também todos aqueles e aquelas que lutam
nos Cabos DÁvila, na Carris e nas Rodoviárias, na Gás de Portugal, na
Indelma, na Ford electrónica, na Administração Pública, na Banca, em que cresce
a arrogância dos banqueiros, no sector Ferroviário, na ex-Renault - Sodia, na
construção civil, todos aqueles dirigentes, delegados sindicais e membros de
Comissões de Trabalhadores que desfilaram anteontem pelas ruas de Lisboa, podem
ter a garantia solene e solidária que o Partido Comunista Português é e continuará
a ser portador das aspirações, interesses e direitos dos trabalhadores, que
por eles se bate e baterá aliando a confiança às suas propostas de progresso
social e de valorização da cidadania do direito do trabalho, por horários de
trabalho e salários dignificados, pelo emprego efectivo, pelo combate ao
desemprego e à desresponsabilização do Estado na Educação, Saúde e Segurança
Social.
E saudando e apoiando todos os que se encontram em luta, queremos também
saudar muito fraternalmente a CGTP-IN, a grande central sindical dos trabalhadores
portugueses. Queremos também em vésperas do 8 de Março saudar muito especialmente
as mulheres que não raramente têm estado na primeira linha de combate e a sua
justa e persistente luta mais geral pela intervenção em igualdade, que se quer
a todos os níveis e a sua luta contra o aborto clandestino.
Queremos saudar a luta dos professores pais e alunos pela democratização e melhoria
do ensino e por leis justas na gestão das Escolas e no financiamento do ensino
superior público. E saudando a juventude, queremos saudar a JCP, a juventude
do PCP e a sua intervenção empenhada em defesa dos direitos e aspirações da
juventude estudantil e trabalhadora.
A juventude pode contar com o PCP e a JCP na luta por melhor ensino, na luta
pelo trabalho com direitos, por salários justos, pelas saídas profissionais.
O PCP também não baixará os braços em defesa de melhores reformas e pensões
para os reformados e deficientes, nomeadamente pela elevação significativa das
mais degradadas.
O PCP não baixará os braços na denúncia e no combate ao leilão das empresas
públicas e sublinha também, a necessidade de se ampliar a oposição popular,
nomeadamente à privatização das empresas prestadoras de serviços públicos essenciais
e aos aumentos escandalosos dos preços que se lhe seguem, como é o caso da Telecom
e da EDP.
Mas uma atenção muito especial que exige o nosso empenho continuado diz respeito
ao desemprego, ao trabalho sem direitos e aos baixos salários.
Mais desemprego e trabalho precário significa mais excluídos, mais toxicodependência,
mais insegurança dos cidadãos, mais conflitualidade potencial, nomeadamente
dos que vivem em autênticos guetos nos grandes centros urbanos.
Esta é uma situação preocupante.
O combate ao desemprego e à toxicodependência e a concretização de uma mais
justa distribuição do Rendimento Nacional deviam estar nas primeiras prioridades,
não em propaganda, mas nas medidas efectivas de um governo com o mínimo de preocupações
sociais.
No pelotão da frente do Euro
e na cauda da Europa quanto ao desenvolvimento
Na semana passada o governo numa iniciativa de grande propaganda celebrou o
facto de o país cumprir os critérios de Maastricht impostos pela Alemanha e
ter assim garantido o lugar no "Euro".
Em primeiro lugar é preciso dizer-se que praticamente só não vão entrar
os países que se auto-excluiram.
Em segundo lugar deve ter-se a noção que para se atingirem estes critérios
que são sobretudo financeiros se penalizou a chamada economia real, isto é,
o aparelho produtivo do país, o investimento público e o emprego. Contrariamente
ao que diz o Eng. Guterres, o Ministro João Cravinho confirmou ainda recentemente
em entrevista que o governo travou o investimento público em 1997 por causa
do cumprimento do défice.
E contrariamente ao que diz o Ministro das Finanças, a moeda nacional é, numa
economia globalizada, um dos instrumentos capazes de dar resposta a dificuldades
de competitividade que se venha a verificar na nossa economia. No futuro os
constrangimentos do Euro vão ser utilizados face a dificuldades externas para
novos sacrifícios, despedimentos, liquidação de direitos e manutenção ou diminuição
dos salários reais.
Em terceiro lugar, creio que não nos dá nenhum contentamento o facto
de estarmos no pelotão da frente quanto à moeda única e na cauda da Europa quanto
aos salários, às reformas e ao salário mínimo.
Pensamos também, que não é nenhum orgulho para o país o facto de termos o maior
nível de pobreza na Comunidade (29% de famílias pobres) e os maiores desequilíbrios
na repartição do Rendimento (os 20% mais pobres só dispõem de 6% do Rendimento
Nacional e os 20% mais ricos 46%, isto é, quase 50% do Rendimento do País).
Creio ainda, que não pode deixar de nos preocupar o facto de o nosso crescimento
económico continuar a ser inferior ao da Espanha, o que significa que se agrava
o fosso entre os dois países peninsulares e o facto de o défice comercial continuar
a aumentar, sendo cada vez maior a parcela de riqueza criada que sai para o
estrangeiro. A Espanha em 1997 consolidou-se como o primeiro fornecedor do nosso
país tendo aumentado em 17,9% as suas exportações para Portugal.
Quer dizer: deitam-se foguetes porque o país vai entrar para o Euro e esconde-se
que estamos com uma economia dependente, fragilizada, em que o atraso estrutural
nos coloca na cauda da Europa, quanto aos indicadores fundamentais do desenvolvimento.
Tocam-se as trombetas porque o país cumpre os critérios de Maastricht e fecha-se
os olhos à situação deplorável em que se encontra a nossa agricultura e as nossas
pescas e importantes sectores da nossa actividade industrial. Em relação
à agricultura o ministro do sector até confessou agora que Portugal é contribuinte
líquida da PAC. No entanto o governo continua a esconder aos portugueses as
multas a que estaremos sujeitos se não cumprirmos os critérios do défice orçamental
(Pacto de Estabilidade); a esconder o essencial da proposta da Comissão sobre
a Agenda 2000 que levaria a cortes nos fundos estruturais de cerca de 500 milhões
de contos; a esconder as negociações relativas ao Acordo Multilateral sobre
Investimentos (A.M.I.), que é como já alguém disse uma verdadeira Declaração
de direitos universais das Multinacionais, que ficariam com poderes e direitos
superiores aos Estados nacionais. Segundo este "Acordo" uma multinacional
poderia pedir, por exemplo, indemnizações ao Estado no caso de perturbações
sociais que lhe prejudicassem os lucros! É preciso descaramento! Mas também
sobre isto o governo guarda um prudente silêncio. A transparência é só para
os discursos.
Não é escondendo os factos, nem é com engenharias estatísticas, nem com manipulações
criativas que se altera a realidade, ou que se dá combate à arrogância do capital
transnacional.
As campanhas de marketing em que este governo se especializou podem enganar
os mais distantes dos problemas, mas não alteram a gravidade do desemprego,
do trabalho precário, do trabalho sem direitos.
As campanhas de marketing podem, por exemplo, afirmar que os aumentos salariais
e das reformas não são comidos pelo aumento dos preços, mas a realidade é bem
diferente. Do mesmo modo podem dizer que as chamadas telefónicas descem subindo,
mas quando os consumidores fazem as contas ao fim do mês vêem o preço que estão
a pagar pela privatização desta importante empresa para o país. É um escândalo!
Alguns pontos nos iis
sobre referendos
Não só pela indignação que causou e não só por constituir mais um exemplo como
as raríssimas convergências feitas pelo PS à esquerda logo são trocadas e anuladas
por acordos do PS com a direita, é nosso dever voltar a lembrar aqui o chocante
volte-face que a direcção do PS praticou na questão do aborto, quando 24 horas
depois de ter sido votada a lei na Assembleia da República e quando 24 horas
depois de os deputados do PS terem rejeitado indignadamente as exigências do
PSD de um referendo, o PS passou a aceitar o referendo sobre esta matéria a
troco de um negócio miserável, com a consequente paralisação e congelamento
da lei.
A este respeito, queremos reafirmar que, pela nossa parte, continuamos e continuaremos
a lutar até ao último minuto para que a Assembleia da República cumpra a sua
obrigação, isto é, discuta a lei na especialidade e proceda à sua aprovação
final, para que se dê combate efectivo ao aborto clandestino. E queremos também
sublinhar que nesta luta, como é sabido, agimos em consonância com uma fortíssima
corrente de opinião, em que entram personalidades dos mais diversos quadrantes
e sensibilidades políticas, que não está disposta a aceitar resignadamente os
negócios que o PS faz e preza justamente os valores da coerência e do respeito
pelos compromissos assumidos.
Queremos também reafirmar que, se porventura vier a ser convocado um referendo,
o PCP honrará plenamente as suas responsabilidades nesta causa de que é há muitos
anos o principal protagonista político e trabalhará activamente para uma vitória
do sim.
Queremos também esclarecer que valorizamos seriamente a possibilidade de se
constituírem grupos de cidadãos que participem activamente na luta pela vitória
do SIM nesse eventual referendo e que os comunistas estão disponíveis para agir
em conjunto com outros democratas, nesse âmbito e nessa forma de intervenção.
Dito isto, não haja porém nem ilusões nem confusões: ao mesmo tempo, o PCP
anuncia desde já que não prescindirá de ter uma voz e uma intervenção próprias
e autónomas nesta batalha.
E consideramos que essa intervenção é não apenas legítima como é também
necessária e indispensável, como poderá ser facilmente compreendido por quem
tiver uma noção mínima das exigências que esse referendo coloca. E porque alguns
para desculpabilizar o PS e o PSD já começam a brandir uma certa hostilidade
contra a intervenção dos partidos no eventual referendo sobre o aborto, aqui
queremos deixar bem claro que razões de crítica e de escândalo terão de ser
encontradas não na atitude de um partido, como o PCP, que intervirá nessa consulta
com a mesma coerência com que luta na sociedade e na Assembleia da República,
mas na atitude do PS se, como se diz, depois de ter votado uma lei na Assembleia
da República, não vier a ter posição como Partido na campanha do referendo.
Esta é a nossa perspectiva combativa para o caso de vir a ser convocado
um referendo, o que neste momento nem sequer é absolutamente certo, acontecendo
até que a data mais falada 5 de Julho não pode deixar de ser por
nós considerada como muito imprópria dado que muitos portugueses, sobretudo
das zonas urbanas, já poderão estar de férias. Mas o que o PS e o PSD querem
é passar a "batata quente" para o Presidente da República e lavarem
as mãos das "golpadas" e de toda a trapalhada que arranjaram para
paralisarem de vez a aprovação da lei!
Mas há uma coisa mais que devemos acrescentar: é que antes de alguns descobrirem
tarde demais que um referendo sobre o aborto afinal é susceptível de trazer
à vida nacional uma violência verbal e uma confrontação com uma dureza, agressividade
e intolerância como já há muito não se via, é bom lembrar desde já que não foi
o PCP que escolheu o caminho desse referendo.
Falando de referendos, não podemos também deixar de advertir que o que o PS
e o PSD preparam quanto aos referendos sobre a regionalização e sobre a Europa
é um insulto ao povo português e um enxovalho para a democracia.
De facto, só partidos que se julgam donos do regime, patrões da democracia e
tutores dos direitos dos portugueses é que podiam vir com a ideia absurda de
fazer em simultâneo referendos sobre a regionalização e a Europa e de fazer
um referendo sobre a Europa com uma pergunta viciada, porque não contém o que
de facto devia ser perguntado aos portugueses a moeda única e a sujeição
de Portugal ao Pacto de Estabilidade e porque está desonestamente redigida
para obter um "sim" esmagador.
As objecções que levantamos não são ditadas por nenhumas razões de estreito
e sectário interesse partidário, mas sim por elementares razões de transparência,
de seriedade, de dignidade democrática, de respeito pelos portugueses, que nenhum
bloco central PS-PSD se devia atrever a pôr em causa e muito menos condicionar
ou influenciar o juízo e as decisões soberanas que cabem ao Presidente da República.
Governar à esquerda
Camaradas:
Nós somos, na verdade, o grande partido da esquerda porque somos na esquerda
o grande partido que em coerência entre as palavras e os actos levanta firmemente
as bandeiras da esquerda e as bandeiras de Abril fortemente ancoradas nas aspirações
de milhões de portugueses.
De facto não se governa à esquerda penalizando os rendimentos dos trabalhadores
na distribuição do Rendimento Nacional como aconteceu nestes dois últimos anos
agravando ainda mais as desigualdades sociais. Não se governa à esquerda concedendo
dezenas de milhões de contos em benefícios fiscais para as operações financeiras
e especulativas; ou utilizando o aparelho de Estado da forma mais descarada
em benefício do partido do governo como foi feito nas últimas eleições autárquicas;
ou rejeitando avanços da civilização como se verificou, por exemplo, com a não
aprovação dos projectos de lei do PCP sobre a interrupção voluntária da gravidez,
as 40 horas ou a reposição da idade da reforma das mulheres para os 62 anos.
Não se governa à esquerda tendo uma posição na oposição e outra no governo,
como o testemunha, por exemplo, a introdução das propinas ou a pressa e a obstinação
em penalizar os cortes de estrada.
Não se governa à esquerda privatizando empresas básicas e estratégicas e reduzindo
o sector público da economia a dimensões inferiores às que verificam inclusivamente,
em países europeus ou continuando a precarizar o emprego de tal maneira que
hoje o mercado de trabalho português é reconhecido internacionalmente como um
dos mais desregulamentados e flexíveis da Europa. Não se governa à esquerda
com uma política neoliberal tendo uma atitude de crescente desresponsabilização
do Estado nas suas funções sociais e sacrificando os desempregados, os reformados
e milhares e milhares de famílias, ao enriquecimento de meia dúzia ou aos dogmas
dos critérios de Maastricht.
Na verdade o quadro económico e social em que vivemos é de tal ordem e a submissão
do poder político ao poder económico começa a atingir tais dimensões que um
conhecido socialista (Victor Constâncio/VISÃO de 20.12.97) não hesitou em afirmar
que «Portugal vive a hora mais liberal de toda a sua história».
Poderíamos continuar a multiplicar os exemplos e as interrogações e lembrar
também aquele acto indecoroso da concessão de subsídios a fundo perdido às vítimas
das cheias e temporais que atingiram o Alentejo, que foi transformado num acto
público e mediático de «mão estendida à caridade» o que levou um articulista
da área do PS, a sublinhar e bem que um governo democrático não pode
comportar-se como o "Movimento Nacional Feminino" ou lembrar
ainda o silêncio do Sr. Primeiro-Ministro que devia tirar as consequências que
se impõem face ao conjunto de acontecimentos que conduziu à arrastada demissão
do Almirante Fuzeta da Ponte e às graves afirmações do Ministro da Defesa de
que as Forças Armadas não conseguem assegurar a defesa estratégica da totalidade
do território nacional, o que no mínimo revela um ministro com clara inaptidão
para desempenhar o cargo e com um não menos claro desconforto para o desempenhar
no quadro de Abril e da Constituição.
Creio também, que os militantes do PS em geral não deixarão de se sentirem
incomodados com os elogios dos grandes senhores do dinheiro e de dirigentes
de grandes confederações patronais à actual governação e de que são exemplo
as sarcásticas declarações do Presidente da Associação Industrial (Público,
25/12/97) «Costuma dizer-se que os governos PS são melhores para os empresários
porque o governam à direita...».
Não se mascara uma política neoliberal, uma política de concentração de riqueza
e de crescente domínio do poder económico sobre o poder mediático e político,
com medidas, como por exemplo, o Rendimento Mínimo Garantido, ou com o pré-escolar.
E mesmo estes, tiveram que ser arrancados a "ferros" na Assembleia
da República pelo nosso Partido. Mesmo no campo dos valores é infelizmente uma
realidade que com tal política a hipocrisia tem triunfado sobre a verdade, que
a solidariedade se tem desvalorizado e que a sociedade se tornou mais tolerante
perante as desigualdades e as injustiças.
Reforçar o PCP
para a mudança de política
Camaradas:
Como se adverte no comunicado do Comité Central de 14 e 15 de Fevereiro, é previsível
que, com a aproximação das eleições legislativas, o PS e o PSD procurem cada
vez mais aprisionar os eleitores na falsa opção, entre manter o PS no governo
com uma política de direita e o regresso da direita ao governo. É possível
uma alternativa progressista e de esquerda à alternância entre o PS e o
PSD.
Para que haja uma mudança de rumo é necessário que as medidas e as propostas
do PCP tenham expressão crescente na prática política. Isto é, para que haja
uma governação à esquerda é necessário que o PCP se reforce, e é necessário
que a relação de forças entre o PS e o PCP, nomeadamente no campo eleitoral
se altere. Se nas últimas eleições legislativas o PS não tivesse tido uma maioria
tão próxima da maioria absoluta e se o PCP tivesse tido uma maior expressão
eleitoral, a política seguida por este governo teria sido diferente e bem melhor
para os portugueses e para o País.
É da máxima importância por isso, que os trabalhadores e os portugueses que
aspiram a uma viragem na prática política compreendam e é sobretudo fora do
debate eleitoral que esta pedagogia deve ser feita, que o que conta na formação
do governo não é o partido mais votado, mas sim, as maiorias que se formam na
Assembleia da República. Que o que importa é que os deputados eleitos pelo PCP
e pelo PS sejam em maior número dos que os eleitos pela direita. Mas naturalmente
que não é indiferente a relação de forças entre os eleitos dos dois partidos.
É da máxima importância que um número crescente de portugueses compreendam que
o reforço do PCP e da CDU tem sempre uma dupla vantagem: conta sempre para vencer
a direita e dá força à pressão de esquerda (PCP, cidadãos sem filiação partidária
e ala esquerda do PS) para que o país tenha uma política de esquerda.
Mas para que se verifique esse reforço, para além da dinamização da nossa intervenção
a todos os níveis, das nossas propostas alternativas e da intensificação da
luta de massas, é também necessário que se vençam preconceitos e ideias feitas
sobre o que na verdade somos e queremos e sobre o que de facto defendemos.
É necessário, por isso, desenvolver um grande esforço de convencimento e travar
um grande combate para que a generalidade do povo português nos conheça com
verdade. Isto é, que conheça os nossos programas eleitorais, os projectos de
lei que apresentamos na Assembleia da República, o que defendemos nas instituições
e fora delas, que conheça o nosso projecto para Portugal, que conheça aquilo
porque lutamos e porque nos batemos. A democracia, o pluralismo e a democracia
política que só por si tem um valor intrínseco são para nós, valores não de
ordem táctica, nem valores formais, mas valores fundamentais. Do mesmo modo
o são a democracia económica, com a coexistência de diversas formas de propriedade,
a democracia social e a democracia cultural.
E, por isso, afirmamos que o nosso país precisa, não de menos, mas de mais democracia,
de mais pluralismo, de mais justiça social e de mais verdade nos actos eleitorais.
O PS e o PSD querem alterar em sentido antidemocrático as leis eleitorais
de modo a imporem círculos uninominais, cujo objectivo central é o de pressionarem
os eleitores a concentrarem os votos nestes dois partidos. É necessário dar-lhes
combate. A verdade dos actos eleitorais, a liberdade, a transparência, a
democracia e a justiça social são vectores fundamentais na transformação positiva
da nossa sociedade.
Rejeitando "modelos", nós comunistas portugueses, temos por horizonte
o socialismo fortemente ancorado na nossa própria história e no nosso combate
ao longo dos últimos 77 anos, assente no aprofundamento da democracia nas suas
diversas componentes, nas experiências de Abril e num projecto renovado que
acolha o que de mais positivo a prática, as experiências passadas e o que o
futuro trouxer à marcha da humanidade. E é continuando a luta, virados para
o futuro, confiantes na necessidade e na possibilidade da construção de uma
nova sociedade que também prestamos o melhor tributo à actualidade dos 150 anos
do "Manifesto do Partido Comunista".
Mas para que este combate tenha sucesso, para que a ligação à classe operária,
aos trabalhadores e às populações seja efectivo, para que a iniciativa política
esteja mais presente em todos os organismos partidários, nomeadamente nos organismos
de base, é também necessário que se dinamizem todas as organizações e se proceda
com determinação e sem peias, à renovação e ao rejuvenescimento. O crescente
fluxo de jovens ao Partido que a todos nos alegra, naturalmente com os seus
traços, com a sua forma própria de ser e de estar, deve ser acompanhado por
um grande empenho na sua organização e pela sua crescente responsabilização
a todos os níveis.
A renovação e a dinamização do Partido é uma exigência vital para todo o reforço
da nossa influência social, política e eleitoral.
É neste sentido que se enquadra o vasto movimento em curso, de reflexão e de
debate, tomada de decisões e a adopção de medidas que poderá e deverá constituir
um novo impulso à dinamização da organização, a uma maior afirmação do nosso
Partido e à ampliação da nossa influência na sociedade portuguesa.
Queremos um Partido que com a sua identidade, reafirmada no nosso último Congresso,
seja cada vez mais activo, actuante, aberto à sociedade e virado para o futuro.
Um Partido que não pode ser considerado como uma entidade abstracta, que está
afastado dos seus militantes e que se revela às vezes em certas expressões como
«o partido não tem vindo aqui». Não! O Partido é uma realidade viva, constituído
por homens, mulheres e jovens, constituído por militantes, que somos todos nós,
e que colectiva e individualmente fazemos o Partido Comunista Português, este
grande Partido da esquerda, que marca a diferença, insubstituível, que abraça
as causas mais generosas, que não vira a cara às dificuldades, que está e estará
sempre com os trabalhadores, com o povo, com Portugal.
Um Partido que quer reforçar os seus laços e raízes com os trabalhadores e o
povo, e intensificar a abertura à sociedade num dinâmico movimento de diálogo
com forças sociais e políticas, com respeito pelas diferenças, cuja opinião,
experiência e intervenção são alavancas fundamentais para que se venha a ter
uma saída pela esquerda.
Continuaremos, como ao longo destes 77 anos, a levantar as bandeiras do progresso
social, da paz, do fim da exploração e da opressão do homem pelo homem.
Continuaremos, como ao longo destes 77 anos, firmemente, comunistas e portugueses,
não prisioneiros de esquemas do passado, ou de fórmulas mortas, mas abertos
para a "árvore frondosa da vida" e para a mudança, com uma concepção
e um projecto próprio de socialismo para Portugal, fruto da nossa análise e
enriquecido pela nossa e pela experiência dos outros povos, confiantes na luta
libertadora dos trabalhadores e convictos da necessidade e indispensabilidade
de transformar a sociedade.
Continuaremos, com a juventude, com as mulheres, com os trabalhadores e o povo
defendendo as suas aspirações e justas reivindicações, defendendo intransigentemente
a soberania e a independência de Portugal.
Viva o Partido Comunista Português!
Viva Portugal!