Sobre o comunicado da Presidência da República
e as declarações do Primeiro-Ministro
Declaração de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral
do PCP
30 de Novembro de 2004
1.
Face ao comunicado da Presidência da República e às declarações
do Primeiro-Ministro no final da audiência de hoje, tudo indica que está
aberto o processo conducente à dissolução da Assembleia
da República e à convocação de eleições
legislativas antecipadas.
Confirmando-se esta perspectiva, o PCP considera que uma tal decisão do Presidente da República constitui uma forma democrática e inteiramente constitucional de superar a crise política e governativa que tem estado latente desde que o segundo Governo PSD-CDS tomou posse e também uma forma de respeitar uma forte aspiração existente no país e que incessantemente se tem reforçado face aos sucessivos factores de descrédito da política governamental, de instabilidade e desagregação.
2.
Queremos nesta ocasião propositadamente saudar também todos os
portugueses e portuguesas, e em primeiro lugar, e como é de evidente
justiça, os trabalhadores que, ao longo de dois anos e meio, lutaram
arduamente contra a desastrosa e agressiva política do governo PSD/CDS-PP,
assim contribuindo decisivamente para o seu merecido descrédito, desgaste
e isolamento social que pesaram consideravelmente no desfecho agora felizmente
verificado.
3.
Fora de qualquer estreito cálculo partidário e exclusivamente
guiado por razões democráticas e de vinculação ao
interesse nacional, o PCP regozija-se naturalmente com a provável convocação
de eleições antecipadas.
E, é necessário lembrá-lo, tem tantas mais razões para manifestar esse regozijo quanto a verdade é que, ao contrário de outros partidos da oposição, o PCP – nem mesmo depois da opção tomada em Julho deste ano – nunca se resignou diante da propalada inevitabilidade da coligação governante prosseguir a sua obra de devastação e destruição até 2006, e desde há muito que colocou como essencial objectivo democrático a luta pela criação de condições para que, tão cedo quanto possível e no quadro do funcionamento de regime democrático, a vida do governo de direita fosse interrompida e fosse dada a palavra ao povo português.
4.
Convocadas que sejam eleições legislativas antecipadas, e assumindo
as suas responsabilidades democráticas e nacionais, o PCP intervirá
combativamente para que nelas seja assegurada a derrota eleitoral dos partidos
de direita e para que os portugueses, como é desejável e indispensável,
se pronunciem não apenas por um novo governo mas sobretudo por um novo
rumo e por uma nova política para o país.
E confia que fará caminho entre mais e mais portugueses a justa ideia de que será o reforço eleitoral do PCP que mais pode contribuir para assegurar que destas eleições resulte, não apenas a derrota da política de direita, mas a perspectiva da conquista de uma verdadeira e efectiva política alternativa.
5.
A provável convocação de eleições antecipadas
abrirá um horizonte de esperança na vida nacional e na vida dos
portugueses, uma e outra tão castigadas, agredidas e amarguradas por
mais de dois anos e meio de recessão económica, de agravamento
do desemprego e das injustiças sociais, de mutilação de
direitos sociais, de guerra aberta a quem trabalha, de saque e assalto ao património
do Estado, de prevalência dos interesses do grande capital sobre o interesse
público.
Aqui garantimos que o PCP tudo fará para que esse horizonte de esperança que agora se abre se cumpra e concretize para bem dos portugueses e de Portugal.