Abertura da 24ª Festa do Avante!

Intervenção de Carlos Carvalhas,
Secretário-Geral do PCP

1 de Setembro de 2000


Caros amigos e camaradas:

Muitos se interrogam porque é que ano após ano tantos jovens, tantos homens e mulheres, prescindindo dos seus tempos livres rumam a este belo espaço da Atalaia para erguer a Festa do "Avante!".

Qual é o segredo que faz com que neste mundo de individualismo, d0 salve-se quem puder, da força do dinheiro, tantos portugueses e também, é justo dizê-lo, tantos jovens estrangeiros aqui assentam arraiais dando o seu trabalho benévolo e a sua contribuição gratuita para que a Festa seja um êxito?

Pode encontrar-se a resposta por a Festa do "Avante!", como já afirmámos, ter a força de um grande e tocante encontro humano em torno da arte, da cultura, do convívio, dos valores e aspirações que fazem parte integrante do património progressista da humanidade; por aqui se viver um clima de fraternidade e uma atitude perante a vida e o mundo, um projecto político, uma capacidade de sonhar e transformar que dão novas razões e energias para se seguir adiante.

Certamente que é por tudo isto.

Mas é também porque os que a constróem têm orgulho nesta Festa que sentem como sua, que lhes pertence. Porque ao longo destas semanas aqui encontram amigos e camaradas de diversos pontos do país em inter-ajuda e em trabalho colectivo. Porque ao seu lado na construção e em cooperação de trabalho, tanto está um jovem como um mais idoso, um homem como uma mulher, um trabalhador manual como um intelectual e porque aqui se respira uma firme confiança no valor e no futuro dos nossos ideais e convicções comunistas, porque aqui se celebra não a resignação mas a vontade de lutar e de transformar, porque aqui está presente a solidariedade e a generosidade e porque aqui não há a exibição e a arrogância das fortunas e do dinheiro, mas da força do trabalho, das razões e das esperanças do povo trabalhador e porque esta é a Festa de um Partido que não vira as costas às dificuldades, de uma grande força da liberdade, da democracia e do socialismo: o Partido Comunista Português!

Caros amigos e camaradas:

A nossa Festa tem lugar depois de o Secretário Geral do Partido Socialista ter anunciado "um novo ciclo político", mas mantendo a velha política. Uma espécie de "vira o disco e toca o mesmo!".

Anunciar um "novo ciclo político" e passar ao lado das necessárias actualizações salariais, do trabalho precário, que continua a aumentar, das baixas reformas, dos jobs for the boys, isto é, dos tachos para a rapaziada socialista é, "virar o disco e tocar o mesmo!".

Anunciar um "novo ciclo político", tal como anunciou eleitoralmente a sua paixão pela educação e depois a sua paixão pela saúde é "virar o disco e tocar o mesmo"! Na educação, por exemplo, continuamos a ter baixas taxas de escolarização e no 2º e 3º ciclos estamos longe dos 100%; temos uma baixa frequência no secundário, a manutenção de elevadas taxas de insucesso escolar e de abandono escolar; mantém-se os numerus clausus no acesso ao ensino superior público e a falta de saídas profissionais. Na saúde continua sem solução a falta de médicos e enfermeiros, as listas de espera, o bom aproveitamento do SNS e até a paralisia no que respeita à concretização de medidas legislativas aprovadas durante o mandato anterior... Tudo isto, sublinhe-se, depois das públicas e declaradas paixões.

E o Primeiro-Ministro, que ao anunciar o "novo ciclo" deu vários exemplos sobre a excelência do futuro Orçamento em relação aos impostos devia ter dito ao povo português porque é que após cinco anos de governação ainda não fez a reforma fiscal e porque é que não aceitou as propostas do PCP sobre esta matéria, que há muito poderia estar em vigor, porque é que só no penúltimo Orçamento aceitou a proposta do PCP que fez com que mais de dois milhões de portugueses pagassem uma taxa inferior de IRS e recebessem ainda este ano reposições de largas dezenas e centenas de contos e porque é que desde a chegada do Partido Socialista ao Governo os benefícios fiscais subiram de 133 milhões de contos para 440 milhões de contos/ano ou porque é que as grandes instituições financeiras pagam um IRC ridículo ou ainda porque é que um governo que enfaticamente disse desde o início querer governar com "consciência social" mantém estas gritantes injustiças. Se um trabalhador ganhar, por exemplo, 2 000 contos a trabalhar, paga 150 contos de IRS, mas se ganhar a mesma quantia em mais valias resultantes da venda de acções não paga praticamente nada! Isto é, quem recebe a trabalhar por conta de outrém paga impostos, mas quem enriquece dormindo é isentado! Magnífica consciência social!

Camaradas, hoje não é dia para analisarmos a situação política, para apresentarmos as nossas propostas e enunciarmos as tarefas partidárias, mas tão só, para formalmente darmos início à Festa do Avante!.

E para saudar todos quantos trabalham no órgão central do nosso Partido e para agradecer e saudar também de uma forma muito especial aos construtores da Festa, à juventude, à JCP, pelas contribuições que aqui deixaram e que, pela sua presença e animação, também a assinalam e marcam como a Festa da juventude!

Com as suas raízes populares, com o seu encanto e magia, a Festa é um espaço aberto a diferentes credos e quadrantes políticos e é também ponto de encontro anual de amigos e camaradas.

Que todos aqui se sintam bem, neste acolhedor espaço da Atalaia, que queremos seja um espaço de convívio, de alegria, de confraternização, de fraternidade, de cultura, de solidariedade e de debate de ideias!

Viva a 24ª Festa do "Avante!"
Viva a JCP
Viva o Partido Comunista Portuguê