Carlos Carvalhas comenta Declaração de
Carlos Carvalhas,
2. Foi o discurso de quem julga que os grandes problemas são de direcção, coordenação e comunicação, fugindo à evidência que o problema de fundo é o da natureza da política que prossegue e o da recusa do PS em mudar de política. 3. Foi um discurso que pode ter respondido às ansiedades estivais de alguns ministros mas não respondeu aos reais factores e motivos de descontentamento que se manifestam e avolumam na sociedade portuguesa. 4. Ficámos a saber que, segundo António Guterres, virá aí um novo ciclo mas ainda ficámos a saber melhor que se propõe enfrentá-lo com uma política velha ( aquela que, nas suas linhas mestras, nos foi imposta por 10 anos de cavaquismo e 5 anos dos Governos de Guterres). 5. Imitando Cavaco, falou muito da estabilidade do seu governo, mas esqueceu-se da enorme desestabilização que a política do Governo provoca nas condições de vida e nos orçamentos familiares dos portugueses. 6. Neste aspecto, é sintomático e muito revelador que, num discurso com tantas palavras de conveniente "humildade" e tanta estudada "compreensão" por queixas e insatisfações populares, o Secretário Geral do PS e Primeiro-Ministro tenha omitido completamente : - o facto de, surdo face às insistências e reclamações do PCP, manter há oito meses a teimosa recusa de restabelecer a taxa de bonificação no crédito à habitação que o seu Governo diminuiu absurdamente quando as taxas de juro já estavam a castigar violentamente centenas de milhar de famílias;- o facto de ter omitido não apenas a clamorosa fraude que o seu Governo praticou com as insignificantes actualizações salariais que logo foram devoradas e ultrapassadas pelo crescente aumento do custo de vida, mas também de não ter dado qualquer sinal em sentido favorável à urgente e inadiável reposição do poder de compra dos salários, como o PCP firmemente defende e reclama. 7. Finalmente, é a todos os títulos inaceitável a chantagem e a devolução de responsabilidades que, em matéria e Orçamento para 2001 o Eng. Guterres pretendeu exercer sobre as forças à esquerda do PS. De facto, é o máximo do descaramento que o Primeiro-Ministro lance ao PCP a pergunta se se quer aliar à direita na rejeição do Orçamento ou no derrube do Governo. Porque se trata do mesmo Primeiro- Ministro que sempre se aliou à direita ( ora ao PSD ora ao CDS-PP) para aprovar cinco Orçamentos, inseridos numa política ao serviço dos poderosos ( que critica agora verbalmente) e da manutenção de uma gritante injustiça fiscal. E é também o máximo do despudor que seja só agora, quando anuncia mais austeridade, apertos do cinto, cortes nas despesas sociais e corrosão do poder de compra dos salários, que o Secretário Geral do PS descubra as maldades da direita e as alegadas responsabilidades ou pretensos deveres de solidariedade da esquerda. Se o Primeiro-Ministro se sente prisioneiro dos constrangimentos do Pacto de Estabilidade e das imposições do Banco Central Europeu quanto às taxas de juro, e se não quer mudar de política, então devia exigir solidariedade e apoio mas era aos que, como o PSD e mesmo o PP, aliados ao PS meteram o país em tais sarilhos. |