Balanço da acção do Governo desde a sua tomada de posse
Intervenção de Bernardino Soares
23 de Junho de 2005

 

 

Sr. Presidente,
Sr.ª Deputada Maria de Belém Roseira,

julgo que se há balanço que se pode fazer destes 100 dias de Governo do Partido Socialista é o de que, provavelmente, nunca tão depressa e com tanta rapidez um Governo obteve contestação tão generalizada na sociedade portuguesa. Ainda por cima um Governo que detinha um capital de esperança na mudança da política, que foi, aliás, o que lhe deu a votação do povo português a 20 de Fevereiro. Pois em pouco mais de três meses o Governo desbaratou esse capital de esperança e tem hoje contra si e contra as suas medidas gravosas, que põem em causa o futuro e o desenvolvimento do País, o fundamental da sociedade portuguesa. No fundo, estas medidas vêm traduzir aquilo que sempre dissemos: que a maioria absoluta do Partido Socialista seria uma forma e um instrumento para manter uma política semelhante às que tivemos no passado, obra de sucessivos governos.

O Partido Socialista e muitos comentadores que analisam estes primeiros meses de Governo falam em três fases: a fase do silêncio, que leva a Sr.ª Deputada Maria de Belém, como, noutra ocasião, o Sr. Deputado Alberto Martins e muitos outros socialistas, a dizer que o Governo geriu muito bem a sua formação, com enorme capacidade de silêncio. Tal não se discute, mas isso não é o mais importante, porque depois vem a fase do número, o tal valor de 6,83%.

E, com ele, vem aquele tão mal ensaiado espanto do Primeiro-Ministro José Sócrates, ao dizer que estava muito surpreendido por esse número, quando aqui, nesta Casa, ainda não há um ano, o então líder parlamentar do Partido Socialista disse que sabia que o défice se situava acima dos 6%.

Depois, veio a fase das medidas e quando esta chegou percebemos logo que, apesar de o Governo dizer que os sacrifícios, desta vez, eram para todos, na verdade, continuam a ser, e mais uma vez, para os mesmos. Para os de sempre, para os trabalhadores da Administração Pública e do sector privado, para os reformados e para os sectores sociais, as medidas são concretas e imediatas, têm aplicação imediata. Para os que nunca foram sacrificados, para os que aumentaram as suas benesses ao longo dos últimos anos de crise, as medidas nunca mais aparecem e, já se percebeu, vão ser puramente simbólicas e com pouco efeito prático.

Por isso é que o Governo tenta refugiar-se nesta táctica de pôr trabalhadores do sector público contra trabalhadores do sector privado e de pôr pais e estudantes contra professores, táctica com a qual quer disfarçar a sua política contra os interesses do País e contra os interesses do nosso desenvolvimento. Na realidade, o Governo quer disfarçar o facto de não ter querido romper com a política anterior nas questões decisivas e esse é que é o verdadeiro e triste balanço destes primeiros 100 dias de Governo do Partido Socialista.