Voto de pesar pelo falecimento de João
Amaral
Intervenção do Deputado Bernardino Soares
15 de Janeiro de 2003
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
A Assembleia da República presta hoje uma justa homenagem a um homem e a um militante comunista que deu ao Parlamento talvez o melhor da sua vida. O João Amaral foi por excelência um grande parlamentar que, através das suas indiscutíveis qualidades, capacidades e méritos, deu um destacado testemunho de ética de serviço público, da generosidade na defesa dos interesses populares e da combativa afirmação de grandes causas democráticas que fazem parte do património e da maneira de ser e de estar do PCP e, assim, prestigiando a Assembleia da República e a acção política em democracia.
Recordamo-lo pela qualidade e rigor das suas intervenções, pela vivacidade que sempre pôs em todos os debates. Lembramos aquela fina e certeira ironia com que não poucas vezes desarmava os seus adversários de debate. Lembramos a dignidade com que, enquanto Vice-Presidente da Assembleia, dirigia os trabalhos parlamentares.
O Parlamento deve-lhe também um permanente empenhamento na sua dignificação, no respeito pelas suas competências e na valorização da discussão e do contraditório político.
Cultivou sempre, no exercício dos seus mandatos, a ligação profunda à sociedade e aos seus problemas, especialmente nos círculos que representou. Eleito por Lisboa e depois pelo Porto em várias legislaturas o João Amaral conseguia a extraordinária proeza de ser ao mesmo tempo do Porto e de Lisboa sem que ninguém, num lado ou noutro, se incomodasse com isso.
João Amaral destacou-se igualmente como autarca de Lisboa, tendo presidido desde 1990 à sua Assembleia Municipal, com isenção e rigor reconhecidos, ainda ontem, por todos os quadrantes políticos.
Mas, neste momento de tristeza, lembramos igualmente o camarada e o militante comunista, que travou connosco, nesta bancada tantas e tantas batalhas políticas, que com o seu saber ajudou a construir a intervenção e as propostas do PCP, e que aqui deixou laços de amizade e respeito, e são essas batalhas e esse percurso que mais guardamos da sua memória. Consideramos que o que melhor respeita a verdade, a história e os laços que se estabelecem entre os homens é não confundir nem o mérito e o reconhecimento da sua intervenção ao longo de quase quatro décadas, nem as questões humanas, com outras questões político-partidárias.
João Amaral pautou a sua vida por uma intensa intervenção cívica, cultural e política, desde a luta estudantil antifascista, antes do 25 de Abril, à importante intervenção no Ministério do Trabalho e na Secretaria de Estado da Estruturação Agrária em vários Governos Provisórios, sempre comprometido com as causas da justiça social, da liberdade, da democracia e do seu aprofundamento.
Neste momento de pesar e tristeza pelo desaparecimento prematuro do João Amaral, quero ainda expressar, também aqui na Assembleia da República, em nome do Grupo Parlamentar do PCP a nossa solidariedade para com a sua família.
Disse.