Intervenção do Deputado
Carlos Carvalhas
Debate mensal do Primeiro Ministro
com a Assembleia da República
28 de Março de 2001
Senhor Presidente
Senhores Deputados
Senhor Primeiro Ministro
Hoje não o vou questionar sobre as suas paixões publicamente declaradas...
Não falarei sobre o ensino, porque o insucesso escolar, a revisão
curricular,o sub-funcionamento do ensino superior e os protestos dos estudantes,
dos professores e das associações de pais falam por si.
Não falarei sobre a saúde, porque as queixas generalizadas, os
atrasos na recuperação das listas de espera e as derrapagens orçamentais
são o espelho de um sector e de uma política. Mas não deixarei
de lhe assinalar a agudíssima carência de profissionais da saúde
a exigir sem tibiezas, um efectivo plano de emergência. Segundo os últimos
dados disponíveis, 40% dos actuais médicos do SNS terão
mais de 55 anos em 2005 e não é com duas novas Faculdade de medicina
que se dá resposta aos problemas em tempo útil.
Mas hoje, o que gostaria de saber, é que análise o Governo faz
sobre o que a tragédia de Entre-os-Rios nos veio confirmar e revelar.
- As debilidades, fragilidades e atrasos do país e muito especialmente
do seu interior, que não se resolvem com discursos sobre a Internet.
- A política dos jobs for the boys. Os três Institutos que substituíram
a JAE, têm no conjunto, o triplo dos administradores que detinha aquela
Junta, ganhando o dobro daquilo que ganhava cada um dos administradores da JAE
e sem demonstração até hoje de maior eficácia.
- A insegurança em muitas estradas e pontes mas também por exemplo,
na CP (as operações de manutenção e reparação
do material circulante passar dos 200.000 Km para os 400.000Km, a perspectiva
economicista a sobrepor-se à segurança).... e a deterioração
de muitos serviços públicos fruto da política neoliberal
e das privatizações. São por exemplo, inaceitáveis
os inúmeros e sucessivos apagões da EDP... A redução
dos postos de atendimento público... O lucro a sobrepor-se aos interesses
das populações...
Esta política neoliberal que vem comprometendo a qualidade da prestação
de serviços e o nosso aparelho produtivo - agricultura, pescas, industria
(Siderurgia...) Portugal já não produz 1 grama de aço-
reflecte-se depois no gravíssimo défice da Balança Comercial.
Como pensa o Governo reduzir este défice? À custa de novas doses
da chamada moderação salarial?
Lembro ao Sr. Primeiro Ministro que há seis anos o Secretário
Geral do PS apontava o dedo a Cavaco Silva dizendo-lhe que o desenvolvimento
do País não podia assentar nos baixos salários. Seis anos
depois Portugal tem os mais baixos salários médios, o mais salário
mínimo, as mais baixas reformas e as mais altas taxas de lucro da União
Europeia! É esta a marca de um governo socialista?