Intervenção do Deputado
João Amaral
Voto de protesto sobre a dramática
situação de guerra prolongada em Angola
16 de Dezembro de 1999
Senhor Presidente,
Senhores Deputados:
A dramática situação de guerra prolongada em Angola
causa profunda repulsa e preocupa gravemente o Mundo. Através da ONU
e de múltiplas iniciativas diplomáticas, muitos esforços
foram feitos para fazer cessar a guerra e garantir uma vida democrática
e de paz em Angola.
Mas, desde que esses esforços foram empreendidos, a uma qualquer plataforma
de estabilização segue-se sempre uma acção de
rotura, que faz recomeçar a guerra.
Hoje, já ninguém tem dúvidas que é de Jonas Savimbi
e daqueles que o seguem dentro da UNITA que partem essas acções
de rotura.
Isso está declarado em numerosos relatórios e deliberações
da ONU e nas posições de todas as entidades diplomáticas
com responsabilidades no processo angolano, sem excepções.
Por isso, os esforços concertados da comunidade internacional visam
hoje a condenação da UNITA de Savimbi e o seu isolamento, nomeadamente
quanto aos processos que lhe têm permitido manter a sua máquina
de guerra.
A posição do PCP é a de que Portugal deve participar
nas instâncias internacionais e desenvolver esforços diplomáticos
próprios tendo em vista uma contribuição activa para
o fim de uma guerra, que se mantém por responsabilidade da UNITA de
Savimbi e de quem a sustenta.
Esta é a questão essencial na guerra de Angola que vem destruindo
o país e lançado na morte, na deficiência física
e na fome e miséria a sua população.
Propõe o PP (na parte dispositiva do seu texto, que é o e se
vota), que Portugal mude de posição, e apareça na cena
internacional, em contra-corrente, a condenar o Governo de Angola pela manutenção
da guerra, a pretexto do relatório divulgado pela instituição
"Global Witness". Discordamos frontalmente.
Esta é de facto uma guerra em que se movem os mais poderosos interesses
das grandes empresas dos diamantes e do petróleo, que, símbolos
máximos de um capitalismo por natureza voraz e sem ponta de moral,
não hesitam em lançar mão de todos os meios, incluindo
a guerra, para servir os seus lucros.
Mas, esta constatação, que não é de agora, não
pode servir para iludir responsabilidades.
A Assembleia da República não pode passar o tempo a pronunciar-se
sobre a política interna de Angola com o paternalismo mal disfarçado
que emerge de pretensões neo-colonialistas.
O debate internacional sobre Angola é sobre a guerra. E a guerra é
da responsabilidade, internacionalmente definida, da UNITA de Savimbi e de
quem a apoia.
Estamos preocupados com a situação em Angola em todos os planos,
desde o desenvolvimento até à vida democrática.
Mas não se iluda a questão essencial, porque isso é fazer
o jogo da guerra, o que nunca e a nenhum pretexto faremos.
Estamos frontalmente contra a política criminosa das grandes empresas
que actuando em Angola e à semelhança do que fazem em outros
países, praticam grosseiras ingerências e fomentam a guerra.
Mas, não se iluda a questão principal, porque isso é
fazer o jogo da guerra e o jogo dos interesses que dela se alimentam.
Disse.