Encontro Nacional do PCP
sobre o Poder Local
e as Eleições Autárquicas
Intervenção de abertura, por Jorge Cordeiro
5 de Maio de 2001
Camaradas e amigos
A realização deste encontro nacional assinala por si a importância que atribuímos ás eleições autárquicas e marca de modo distinto o modo de as prepararmos.
Privilegiando o debate e a reflexão colectiva, procurando na participação alargada e na troca de experiências as melhores orientações e o acerto da nossa actividade futura, não reduzindo a preparação de eleições aos limites deste ou daquele objectivo eleitoral mas associando-lhe a legitima preocupação de definir conteúdos, soluções e projectos que contribuam para uma gestão diferente e melhor.
E fazendo-o à nossa maneira: estimulando a opinião franca; admitindo as nossas próprias deficiências e dificuldades como condição para as corrigir; confrontando experiências diferentes; criando com toda a naturalidade espaço e condições para que a par dos militantes do partido dezenas de convidados independentes aqui presentes partilhem e participem na nossa reflexão como diariamente, e de sempre, o fazem no quadro do trabalho da CDU.
Para eles e para os nossos amigos do Partido Ecologista Os Verdes e da Intervenção Democrática aqui presentes, que connosco dão corpo a este projecto comum que è a CDU, uma palavra de saudação.
No decorrer deste Encontro, e em particular no trabalho das secções,
procuraremos encontrar as melhores respostas par uma intervenção
eleitoral dinâmica e eficaz capaz de concretizar e confirmar os nossos
objectivos, bem como debater e identificar as principais linhas de acção
autárquica para o próximo mandato.
E proceder a uma reflexão mais atenta sobre o conteúdo e as formas
de participação popular, indispensáveis a uma gestão
democrática e que marcam de modo distintivo a nossa acção
autárquica e explicam a diferença que justamente é reconhecida
à intervenção dos eleitos do PCP e da CDU nas autarquias.
Não despertámos agora para os valores da democracia participativa.
Realizamo-la de há muito e fazemos dela, nas muitas e diversas formas
de a concretizar, um modo de conduta natural de exercício do poder indispensável
à definição das melhores soluções e ao acerto
de decisão.
Esta iniciativa não é em si um ponto de chegada ou de partida. Essencialmente é um momento de avaliação do trabalho que há muito está lançado e da sua projecção para o futuro num quadro mais exigente e intenso.
É possível afirmar que o trabalho decorre num ambiente de confiança, de confirmação das possibilidades de avançar e crescer, de bom acolhimento, apoio e simpatia às nossa iniciativas.
A definição das candidaturas está a avançar em bom ritmo. Contamos já com cerca de metade das candidaturas municipais definidas 80 das quais já apresentadas ou com data agendada.
Num processo sem alaridos, longe das lógicas de disputas pessoais e das lutas pelo poder, distante da gula noticiosa dos que privilegiam o espectáculo e a polémica fraticida como fonte de interesse informativo.
Mas com base num trabalho tranquilo e sério, de envolvimento democrático e responsável das organizações do Partido, de articulação entre o valor e a contribuição de cada candidato e a valia colectiva das listas a apresentar e das equipas a eleger, de definição das soluções e propostas que melhor garantam o prosseguimento do nosso projecto autárquico.
Um processo de construção de listas e definição
dos candidatos onde prevalece o critério de conhecimento dos problemas,
de proximidade às populações e de mérito autárquico
em alternativa à mera notoriedade e brilho mediático.
Há que manter o esforço para que a construção das
listas reflicta a ligação ao movimento e organizações
representativas locais e a crescente participação de jovens e
de mulheres na sua composição.
Confirma-se também um desenvolvimento favorável do trabalho de dinamização da CDU, de criação das suas estruturas locais, de efectivo alargamento e participação unitária. A realização do ciclo de Debates Poder Local 2001 pode constituir um elemento mobilizador de opiniões, capaz de atrair à reflexão novos apoios e de assegurar uma procura alargada de soluções e propostas para o mandato.
É necessário prosseguir este esforço e procurar ir mais
longe confirmando a CDU como um efectivo espaço de participação
democrática e de envolvimento de milhares de independentes na acção
concreta pela melhoria das condições de vida e a resolução
dos problemas.
E assim demonstrar , como o atesta os mais de 30% de candidatos independentes
apresentados em 1997, que a CDU é hoje, e de há muito, um espaço
disponível para a participação de muitos milhares de cidadãos
e cidadãs sem partido.
Um espaço com rosto público, projecto conhecido e responsabilidade
comprovada.
Preparamo-nos para concorrer a todos os órgãos municipais no
quadro da CDU e em Lisboa no âmbito da Coligação Mais Lisboa.
Propomo-nos ultrapassar o universo de freguesias a que concorremos em 1997 confirmando
a CDU como uma grande força autárquica nacional, com uma presença
insubstituível em todo o país na acção de esclarecimento
e mobilização cívica e eleitoral. Conhecemos o esforço
que este objectivo envolve, designadamente nas zonas de menor influência,
e sublinhamos a sua importância.
Vamos para estas eleições para crescer e avançar, para confirmar e reforçar as nossa posições em maioria, alargar a nossa presença em minoria, conquistar novas posições.
Conscientes da exigência da batalha, dos meios que os outros dispõem
mas também das nossas possibilidades e razões para confiarmos
num bom resultado.
Contasse apenas no juízo eleitoral e na formação da opinião
a avaliação do mérito autárquico, o valor das propostas
em presença, a qualidade dos candidatos e seguramente que as possibilidades
eleitorais se ampliariam.
Sabemos que assim não é. Teremos as dramatizações
do costume, as falsas bipolarizações para desanimar as verdadeiras
alternativas, o uso e abuso do aparelho de Estado.
Pela mãos do PS estão recuperadas todas aquelas ilegítimas
atitudes que antes condenava ao governo do PSD. Já nem há o pudor
de o disfarçar.
É o vale tudo e quanto mais, maior é o prémio.
Não será por acaso que Armando Vara transite do escândalo
da Fundação para coordenador da campanha do PS ou que Paulo Pedroso
notabilizado enquanto secretário de Estado por ter utilizado escandalosamente
uma reunião de responsáveis da administração central
em reunião de estratégia eleitoral tenha sido premiado com nomeação
a ministro.
O resto é o que se sabe: governadores civis de cheque na mão,
canalização de investimento público de acordo com a estratégia
do PS, directores regionais que o são por serem candidatos do PS, instrumentalização
dos fundos comunitários, inquéritos e sindicâncias decididas
por medida e encomenda cirurgicamente dirigidas para Câmaras da oposição.
Pelo nosso lado temos a favor aquilo com que outros não podem contar. Um percurso de trabalho realizado, uma obra que não teme comparações, uma comprovada e reconhecida honestidade e competência.
A verdade é que a CDU se pode apresentar como força que deu prova
de uma intervenção distintiva nas autarquias que, ancorada na
proximidade às populações, deu solução aos
problemas básicos, lançou e concretizou as bases de planeamento
e desenvolvimento sustentável, equipou e animou sócio-culturalmente
os concelhos e assegurou uma gestão que atenuou desigualdades.
Um trabalho e uma gestão a que presidem, como orientação,
critérios de unidade para a resolução dos problemas, de
isenção e de participação, de respeito pelos trabalhadores
das autarquias e dos seus direitos.
As autarquias geridas pela CDU são as que apresentam as mais elevadas
taxas de atendimento e cobertura de infra-estruturas básicas. Aquelas
onde é mais expressivo a participação e envolvimento populares
e o apoio e estimulo ás inúmeras expressões do associativismo.
As que deram os primeiros passos no domínio do planeamento e ordenamento
do território e que hoje apresentam os mais avançados planos estratégicos
de desenvolvimento gerais ou sectoriais.
Mas também as que não se limitando a dotar os respectivos concelhos
dos equipamentos colectivos indispensáveis à valorização
sócio-cultural das populações conceberam e implementaram
programas de animação e de desenvolvimento cultural e desportivo.
As autarquias da CDU estão associadas ao trabalho de afirmação
e valorização urbana que permitiu conduzir concelhos do interior
à situação de cidades e vilas reconhecidas pela sua exemplaridade
e que possibilitou a construção de cidades urbana e ambientalmente
equilibradas em concelhos metropolitanos que até aí não
eram mais do que áreas suburbanas, urbanísticamente desqualificadas
e sem vida própria.
Os resultados estão à vista. Ainda hoje passados mais de 25 anos
é possível confrontar os índices de cobertura plena garantidas
de há muito nas autarquias geridas pela CDU designadamente no Alentejo
e Baixo Ribatejo com valores deploráveis que subsistem em algumas regiões
do Norte e do Centro do país.
Factos são factos. Dados de fontes oficiais referentes a 1999 revelam
que 58 municípios do Continente continuam a apresentar índices
de população servida por abastecimento público de água
abaixo dos 50%. E que 35 municípios apresentam índices de drenagem
de esgotos inferiores a 20%. Entre eles não é possível
encontrar um único município gerido pela CDU.
É comparar a ausência de uma política de fomento desportivo
nacional mais preocupada em despender um milhão de contos para promover
uma prova do circuito de ténis profissional com a política de
democratização da prática desportiva e de envolvimento
regular de milhares de jovens praticantes de que os jogos do Alentejo, as Seixaliadas
ou os jogos de Lisboa são exemplo.
É olhar para o trabalho de requalificação e de reabilitação
urbanas realizadas com as populações e para as populações
quer nos bairros de génese ilegal quer nos bairros e centros históricos.
È comparar a atenção dada à valorização
ambiental, à construção de espaços verdes e parques
urbanos, à preservação do património cultural e
à sua valorização e fruição de que são
exemplo Almada, Loures, Moita e entre outros.
É observar a política e as opções de uso do solo
orientada, não para favorecer a apropriação especulativa
de investimentos públicos, mas sim para fixar e construir equipamentos
e zonas de uso público em áreas nobres e bem localizadas.
Foi nas autarquias da CDU que se elaboraram os primeiros planos directores municipais
e os primeiros planos de desenvolvimento regionais.
E é uma autarquia da CDU, Évora, a primeira a dispor de um plano
estratégico de desenvolvimento cultural.
Foi em autarquias da CDU que se deram os passos mais consistentes de apoio ao
teatro, que se criou a primeira e única companhia teatral de serviço
público (a Amascultura) agora liquidada pela acção dos
socialistas, que o teatro amador se revela mais pujante.
É em autarquias da CDU que se podem encontrar os primeiros projectos
de difusão do ensino da música e da dança assente numa
política de equipamentos e em projectos como o da alfabetização
musical no Seixal.
É nas autarquias da CDU que se constrói uma nova relação
com a escola e da sua ligação ao meio, um nova fruição
da leitura, do livro do audiovisual.
Mas a presença da CDU é não apenas um factor de valia
na condução da gestão e na realização de
obra.
A vida tem demonstrado, muitas das vezes pela amarga experiência da sua
ausência, que a CDU é uma voz indispensável na defesa dos
interesses das populações, uma presença indelegável
para dar corpo a causas e aspirações locais e assegurar uma presença
critica, exigente e construtiva para garantir uma gestão transparente
e eficaz.
Não nos consideramos isentos de erros. Procuramos identificar os principais problemas e manter viva uma atitude critica de avaliação do nosso próprio trabalho.
Até porque conhecemos que os erros e as deficiências em nós,
são olhadas com uma grau de exigência e de penalização
maior do que relativamente a outros.
Mas continuamos convictos, e com fundadas razões que temos uma obra que
não teme comparações e um trabalho comprovada e reconhecidamente
superior.
Vamos procurar, com a mesma determinação e o mesmo empenhamento,
dar continuidade a esse trabalho e a encontrar como sempre novas respostas e
melhores soluções para os novos problemas.
Vamos continuar a aprofundar a realização dos nossos princípios
fundamentais, a exercer de modo distintivo o poder assumindo-o não como
um privilégio mas a tomá-lo como um serviço ao povo, a
recusar benefícios pessoais pelo exercício dos cargos públicos.
Até Dezembro há muito trabalho a fazer. Vamos agora entrar numa
fase mais exigente.
Vamos para este combate fortes na nossa unidade, certos da nossa razão,
confiantes na possibilidade de em Dezembro realizarmos os nossos objectivos,
mantermos as actuais maiorias da CDU e a maioria em Lisboa e alcançar
mais mandatos, novas maiorias, melhores posições.
Tudo para termos mais trabalho a favor das populações, da democracia,
do nosso povo e da nossa luta.