INTERVENÇÕES
Intervenção
de Agostinho Lopes no encerramentos dos trabalhos da
Conferência Nacional - O PCP e o Poder Local
11 de Maio de 2003
Na Proposta de Resolução
Política no Capítulo IV “O trabalho autárquico
e a intervenção local do Partido” destaca-se
um título “A acção e iniciativa próprias
das organizações locais” onde se afirma: “O
trabalho nas autarquias locais como espaço de acção
política constitui uma expressão que, ainda que muito
importante, não esgota a intervenção das organizações
locais do Partido em torno dos problemas concretos e na defesa dos
interesses das populações.
A intervenção do Partido no plano local, na qual
o trabalho nas autarquias se insere, pressupõe desde logo
a iniciativa própria das organizações, o envolvimento
e a proximidade do conjunto da organização aos problemas
locais, a dinamização da luta e das reivindicações
populares, o apoio e estímulo à organização
das populações, a acção dos seus militantes
no movimento associativo e nas organizações populares.”
Não é que os camaradas não saibam ler, mas
esta longa citação, justifica-se para melhor radicar
nesta Conferência as breves notas desta intervenção
sobre a campanha “Mil Localidades”, sob o lema participação
e desenvolvimento. Campanha no âmbito da acção
que estamos a realizar “Em movimento por um Portugal com futuro”.
Campanha que será lançada publicamente durante a próxima
semana e que terá, de forma emblemática, como iniciativa
de arranque as Jornadas da Zona do Pinhal, a fazer na Casa da Cultura
da Sertã no próximo dia 25 de Maio.
Campanha destinada a alertar para as situações de
carências existentes em muitas localidades sobretudo nas zonas
do interior mas não só, tantas vezes esquecidas e
reclamando linhas de apoio ao desenvolvimento. Campanha assente
numa acção geral do Partido e pretendendo abranger
mil localidades.Com uma interpretação lata do conceito
de “localidade”, podendo ser naturalmente uma freguesia,
uma aldeia, um lugar, bairro ou rua, mas também uma vila/cidade,
um concelho, uma região ou uma fábrica/local de trabalho.
Campanha inserida nos objectivos de reforço da capacidade
orgânica, da acção, da proposta e iniciativa
das organizações do Partido. Campanha a realizar entre
Maio e Outubro com o desenvolvimento de um conjunto de acções
e iniciativas em torno de problemas sentidos pelas populações.
Campanha que deverá envolver na sua organização,
para além dos membros do Partido, simpatizantes e nossos
aliados no plano local. Campanha que poderá ser um importante
momento de reanimação dos colectivos criados e da
intervenção dos candidatos da CDU aquando das últimas
eleições autárquicas.
O que agora vos propomos, a todas as organizações
locais do Partido, pode parecer estranho, mas é, fazer o
que sempre fizemos! O que fizemos, não só nos últimos
30 anos depois de Abril, mas nos 82 anos de vida que leva este Partido.
Responder politicamente, de forma concreta a problemas concretos
de gente concreta.
Articular de forma viva três níveis da nossa intervenção,
a acção de massas, a acção institucional,
a acção e o reforço do Partido.
Desenvolver caminhos de esclarecimento e pedagogia políticas.
Denunciando a política de direita pelos problemas e carências
das populações. Fomentando a participação
e a organização das gentes na luta pelos seus direitos
e reivindicações. Evidenciando a utilidade do PCP
e dos comunistas, a necessidade da sua presença e reforço,
o valor do seu programa, propostas e ideais.
O que agora propomos como “novidade”, para este fazer
o que sempre fizemos, para estas acções que há
muito fazem parte da actividade quotidiana do colectivo do PCP,
é dar-lhes uma dimensão e visibilidade nacionais,
uma dinâmica integrada e concentrada. O que implica logicamente
uma apurada planificação e programação
desta iniciativa.
Quando num Centro de Saúde faltam médicos ou enfermeiros
aí temos uma localidade-saúde a agarrar. Quando o
“apagão” da energia eléctrica não
se verifica por culpa da cegonha mas pela degradação
dos serviços de manutenção ou falta de investimentos
da EDP, ou quando os CTT se preparam para encerrar o Posto dos Correios
da nossa freguesia aí temos uma localidade-serviços
públicos para trabalhar. Quando a empresa SAAS encerra porque
vai ser deslocalizada com as consequências dramáticas
que se conhecem aí temos a localidade-trabalho para intervir.
Quando o governo ou a camara municipal viola os direitos dos compartes
do baldio de Labregos do Monte com a instalação de
uma eólica sem a autorização daqueles a quem
cabe a seu legítimo usufruto e posse, aí temos uma
localidade-agrícola para defender. Quando a Região
de Cima Rio se encontra a braços com sérios e persistentes
estrangulamentos no seu desenvolvimento económico e social
aí temos a localidade-região a requisitar a nossa
iniciativa política. Etc, etc e etc.
Mil Localidades para quê ???
Para denunciar a política de direita de todos os governos
do PSD ou PS dos últimos anos. Na saúde, conduzindo
o País á escandalosa situação de importar
médicos e enfermeiros enquanto milhares de jovens portugueses
não concretizavam o curso que pretendiam. Demonstrando o
crime das privatizações com a substituição
da lógica do serviço público pela lógica
do lucro, com a substituição dos direitos do utente
pelos interesses do cliente. Mostrando como o critério da
maximização da taxa de lucro se sobrepõe aos
direitos dos cidadãos trabalhadores e dos povos e denunciando
as políticas de direita que apadrinham esses investimentos
beduínos e se opõem a dispositivos legais que pelo
menos dificultem ao máximo tais comportamentos empresariais.
Travando a luta contra a persistente ofensiva que pretende pôr
em causa os direitos dos povos serranos a gerir o que historicamente,
com consagração constitucional, é seu. Denunciando
com vigor as verdadeiras razões do agravamento das assimetrias
regionais e do subdesenvolvimento relativo de tantas regiões
portuguesas: as políticas económicas e sociais, a
não concretização da regionalização,
uma desajustada e limitada política orçamental levadas
a cabo pelos governos do PSD e do PS.
Para que os eleitos do PCP ou da CDU na Assembleia ou Junta de
Freguesia, na Assembleia o Câmara Municipal, na Assembleia
da República ou no Parlamento Europeu levantem a voz na denúncia
e proposta dos problemas.
Para mobilizar os utentes, cidadãos, trabalhadores, fregueses,
munícipes, etc., numa reunião, num abaixo-assinado,
numa exposição para reclamar a resolução
do problema. Para os organizar numa Comissão de utentes.
Para organizar uma concentração junto da instituição
pública de tutela para desenvolver a democracia participativa.
Para dinamizar a actividade da organização local
do Partido. Para fazer sair o comunicado da comissão de freguesia
ou concelhia do PCP. Para organizar o debate com dirigentes, especialistas,
eleitos comunistas e outros cidadãos. Para recrutar para
o Partido os activistas da luta.
Em síntese:
Para transformar todo o movimento vivo de denúncia, protesto,
reclamação, proposta , todo o movimento de vontades
e objectivos por uma vida melhor em luta política, de combate
á política de direita, por uma alternativa democrática
para Portugal.
E acrescentando localidade a localidade em todas as regiões
do País, queremos chegar a Novembro e dizer:
Aqui estão mil exemplos concretos da acção
dos comunistas e dos comunistas em acção.
Aqui está, com mais ou menos ou nenhuma repercussão
mediática (o que não significa desvalorizar esta vertente),
o trabalho sereno, persistente, eficaz das organizações
do PCP, em defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo a que
pertencem.
Aqui está , mais uma resposta viva aos que pretendem amesquinhar,
destroçar, liquidar mesmo, o papel central e decisivo na
sociedade portuguesa destes homens e mulheres guiados por ideais
e valores de liberdade e democracia, fraternidade e justiça
social.
Aqui estão também algumas das razões da inextinguível
força e contínua presença deste Partido na
sociedade portuguesa. E não haverá intrigas, campanhas
ou leis capazes de destruir o que tem raízes no povo, a energia
dos que trabalham, um percurso libertador, um projecto transformador
e revolucionário.
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