Declaração de Carlos Carvalhas, Secretário-geral do PCP,
no funeral do camarada Virgílio Azevedo
Lisboa, 16 de Junho de 2004


Camaradas e amigos


Com 17 anos um jovem operário na tenebrosa noite fascista adere ao Partido Comunista Português, no Barreiro das Fábricas, da ganga, da exploração, no Barreiro vigiado, temido e policiado.

Um jovem operário que adquire a sua consciência de classe e política, “toma partido” e ousa correr riscos, difíceis de conceber na sua extensão para as novas gerações de trabalhadores.

Um jovem operário, no Barreiro sitiado «sacode a asa do atrevimento, perante o atrevimento do obstáculo». A coragem de combater a ditadura. E este jovem, Virgílio Azevedo de seu nome, como outros jovens operários também obreiros do 25 de Abril vive com os seus camaradas a explosão da revolução, no seu posto de combate ajudando a fundar o regime, a fazer justiça, a erguer conquistas que povoaram os sonhos dos que viveram com as grilhetas.

É deste jovem que entregou a sua vida à luta pelas suas convicções, pelos seus ideais, que hoje nos despedimos.

Como dizia o poeta Armindo Rodrigues:

À morte voraz,
Nem boa, nem má,
Tanto se lhe dá
Levar o audaz,
Levar o sagaz, levar o tenaz,
Levar o mordaz,
Levar o capaz,
Levar o incapaz.
As destrinças que há
A vida é que as faz .

E a vida mostrou-nos um homem bom, generoso, simples, um lutador modesto que nunca abandonou a trincheira. Um camarada a quem nunca se lhe ouviu um lamento de cansaço, de dor, mesmo quando a doença já lhe tomava o corpo. Um camarada sempre preocupado com as tarefas do seu partido, com os seus compromissos, com a luta, desprendido dos bens materiais esquecendo-se de si e até da sua saúde.

Um homem que lutou toda a vida. Insubstituível, como os considera Brecht. É perante este homem, perante este camarada, perante a sua memória, que nos inclinamos. Um camarada que resistiu sempre a ser chamado a cargos de direcção, que resistiu sempre a ser chamado ao Secretariado do seu Partido, porque sempre resistiu às luzes da ribalta.

Incansável, trabalhador e lutador, era também um camarada que amava a vida, que viveu com paixão a Festa do Avante!, que com a mesma dedicação e zelo cumpria tarefas desde as mais complexas às mais simples. Um camarada de relacionamento fácil, humanista, sempre preocupado em ajudar os que atravessavam dificuldades. Numa palavra, um camarada com tudo o que este vocábulo encerra.

Apenas com 49 anos de idade – deixa-nos agora. Nesta hora de tristeza, de luto, de consternação pela partida de alguém que nos era tão próximo e que ao longo de tantos anos, todas as quartas-feiras se sentou ao nosso lado, manifestamos todo o nosso pesar e solidariedade à sua companheira, filhas e família, certos de que neste último abraço fraterno, amigo e comovido do grande colectivo partidário de que ele foi um construtor e destacado militante, o melhor tributo que lhe podemos prestar é prosseguir o seu combate pelas causas que o animaram: pela justiça social, pela paz, por um Portugal de democracia avançada, pelo socialismo.

Viva o Partido Comunista Português