Comício do 79º aniversário Intervenção de Carlos Carvalhas, 11 de Março de 2000 Camaradas e amigos: Comemoramos hoje, aqui em Lisboa, os 79 anos de vida e luta do Partido Comunista Português, cuja história se funde com a história da luta do nosso povo e com o que de mais progressista se tem enraizado na sociedade portuguesa ao longo do século XX. Comemoramos a luta abnegada, generosa e corajosa daqueles que em 1921 e depois na longa noite fascista, levantaram a bandeira da liberdade e da democracia, do pão, da paz, da justiça social, que deram corpo a este grande Partido e que, com sacrifícios sem conta, sempre estiveram na frente de combate contra a tirania, a opressão e a exploração. Comemoramos a luta de um Partido que deu uma contribuição essencial para a fundação e consolidação do regime democrático saído do 25 de Abril, por conquistas e avanços democráticos e também no combate ao fatalismo, ao egoísmo e à resignação face ao que é injusto e intolerável. E celebramos a coerência, a verticalidade, a seriedade, a capacidade de revolta e de indignação, a vontade de construir e de rasgar novos horizontes de esperança, de transformação e de progresso, que caracterizam a intervenção e a luta do Partido Comunista Português. E comemorando este aniversário com os olhos postos no futuro e com as energias voltadas para a transformação do presente e para a prossecução dos valores de esquerda, as nossas primeiras palavras vão para as gerações de comunistas que nos precederam a quem prestamos profunda homenagem. E também por isso, aqui levantamos a voz para afirmar que com novas energias e combatividade renovada prosseguiremos o combate que marca a incomparável presença do PCP na sociedade portuguesa ao longo da sua história, para afirmar que aqui estamos para dar novo fôlego à intervenção e à iniciativa política do nosso Partido empenhado em alargar a sua influência e em ganhar novos apoios para as suas medidas e propostas construtivas ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país. Para afirmar que profundamente vinculados à nossa identidade, à nossa matriz e património político e ideológico que - como comunistas que somos e queremos continuar a ser - estamos profundamente empenhados no reforço da nossa organização e no rejuvenescimento do Partido, que continuamos profundamente empenhados em dar maior irradiação e projecção às nossas propostas, à dimensão humanista e revolucionária do nosso projecto, à actualidade e modernidade da nossa causa - a grande causa da justiça social, do bem estar dos trabalhadores e do povo, do aprofundamento da democracia, do socialismo. Mas ao celebrarmos o aniversário do nosso Partido queremos também saudar as mulheres aqui presentes e, por seu intermédio, a luta das mulheres portuguesas pela sua intervenção em igualdade. Como sabem nós assinalámos o 8 de Março com uma campanha que designámos por "Tolerância Zero" às discriminações e às desigualdades e apresentámos na Assembleia da República dois projectos de lei sobre o reforço de direitos da mulher e temos vindo ainda a desafiar o Governo e a Ministra para a Igualdade, que até agora se têm remetido a um significativo e comprometedor silêncio, a avançar também, com uma campanha própria e com meios naturalmente mais avultados. Creio que estais de acordo com esta nossa postura. Queremos também neste dia, de uma forma muito particular saudar a JCP, a juventude do PCP, as suas iniciativas políticas a sua campanha por melhores salários e melhor emprego, a sua luta por um ensino público de qualidade e os êxitos que têm tido em novas adesões: mais de 3 400 novos membros nestes últimos anos e mais 434 até 10 de Março deste ano A luta dos trabalhadores e do povo E ao celebrarmos os 79 anos de vida e luta do nosso Partido, queremos também reafirmar que temos uma profunda confiança nos trabalhadores e na sua luta! Num tempo em que se assiste à ofensiva multifacetada para destruir e desregulamentar conquistas históricas, numa época de mutações e alterações aceleradas e complexas, com fortes implicações na consciência, na organização e na unidade dos trabalhadores, as questões centrais, os valores, princípios e objectivos da sua luta continuam válidos e actuais. Aqui no nosso país, quando alguns anunciaram e teorizaram sobre o fim ou a desnecessidade da luta de massas, este Partido não só confiou como animou essa luta. Nós comunistas, continuamos e continuaremos a dar combate aos que, com novos adjectivos, perseguem velhos objectivos da dominação e exploração dos trabalhadores. Quando o Governo tinha por adquirido o pacote laboral e o desconto das pausas no horário de trabalho, centenas de milhar de trabalhadores e trabalhadoras souberam travar uma luta notável, obrigando os interessados e proponentes a um recuo considerável. Quando o Governo PS festejou, no passado, o acordo estabelecido com os sindicatos da Administração Pública, nós sabíamos que mais cedo que tarde as coisas concretas, as aspirações concretas desses trabalhadores haveriam de sobrepor-se ao calculismo negocial do Governo. E, por isso, estes realizaram não só uma grande manifestação, como uma greve de grande significado pelo grau de adesão e convergência e com a adesão de muitos trabalhadores socialistas. Quando, há anos, fez notícia a perda da lista unitária para a Comissão de Trabalhadores da Lisnave, os comunistas e aliados persistiram na defesa dos direitos dos trabalhadores. E nenhum órgão da comunicação social registou o facto de, há poucas semanas na Lisnave, a lista unitária ter alcançado 9 dos 11 mandatos em disputa, assim como, 10 dos 11 mandatos para a Comissão de Trabalhadores da Gestenave. Na intervenção política, na acção parlamentar e na iniciativa legislativa, por intermédio dos nossos militantes, das nossas células e organizações sectoriais e regionais, foi este Partido que se identificou, que tomou posição, que esteve lá, em grandes e pequenas lutas travadas por diversas camadas da população e pelos trabalhadores no sector rodoviário, aéreo e ferroviário, na pesca do arrasto, na Administração Pública, nas comunicações e na energia, nos têxteis, na hotelaria, na Norporte, nos Cabos D'Ávila, com os trabalhadores do Chiado, da Kalen, da EPAC, entre tantos outros. É importante aqui sublinhar e saudar o papel da grande Confederação Geral dos Trabalhadores e de toda a estrutura do movimento sindical e das comissões de trabalhadores na mobilização e na luta que tem vindo a ser realizada. Daqui apelamos aos trabalhadores para corresponderem à convocação da CGTP-IN e participarem na manifestação do próximo dia 23 de Março, em Lisboa, como mais uma contribuição da luta pelo emprego com qualidade e com direitos e para o combate à precarização. Correspondendo ao apelo de diversas organizações sociais, o PCP participará também na cimeira alternativa, a realizar no dia 24 de Março. Este empenhamento do PCP, significa que este Partido continuará a bater-se pelas grandes causas, valores e objectivos do trabalho e dos trabalhadores. Um Partido que quer que os trabalhadores não só saibam que está com eles nas suas justas reivindicações e com a sua luta, mas que quer também que estes o sintam como seu! Um dos aspectos mais marcantes e mais significativos da nossa actividade diz respeito à nossa intervenção na apresentação de propostas e na resolução de problemas como é reconhecido no Poder Local e nas mais diversas esferas da vida nacional onde actuamos. Um Partido de propostas É significativo que a preocupação deste Partido logo no primeiro dia da abertura da Assembleia da República foi a de apresentar um importante conjunto de projectos lei que correspondiam a sentidas questões que levantámos durante a campanha eleitoral, como o aumento do salário mínimo nacional, o aumento de reformas e pensões mais degradadas, ou a reposição da idade da reforma das mulheres para os 62 anos e que, ao longo desta legislatura, continuou com a apresentação de diversos projectos confrontando o Governo com propostas e medidas alternativas, tendo algumas feito vencimento. Tal como no debate do Orçamento do ano passado, conseguimos fazer aprovar as nossas propostas sobre o sistema fiscal. E é por isso, que este ano, muitas dezenas de milhar de portugueses estão a pagar menos IRS do que pagaram há um ano. Como sabeis nós demos o nosso voto negativo na generalidade ao Orçamento do Estado para este ano, a um Orçamento de um governo socialista que mantém os privilégios à banca, que concede mais de 400 milhões de contos de benefícios fiscais, que no essencial vão para as operações financeiras e especulativas, que reduz em dois pontos percentuais o IRC sobre as empresas com um volume de negócios superior a 100 mil contos e que paralelamente mantém as taxas e os escalões sobre o IRS, isto é, sobre os rendimentos do trabalho. Na próxima semana vamos votar o Orçamento na especialidade. Creio que também estais de acordo que o Partido não desista de nenhuma das suas propostas, nomeadamente as relativas à justiça fiscal, aos investimentos da Administração Central, aos salários, aos vencimentos dos trabalhadores da Administração Pública e ao aumento das pensões e reformas. Como sabem nesta legislatura já apresentámos propostas, resoluções e projectos de lei em relação a importantes áreas como as pescas e a agricultura, o ambiente, a saúde ou o ensino. Ainda recentemente apresentámos seis projectos de lei relativos ao combate à droga que é um grave problema dos nossos dias, um grave problema que toca tantas e tantas famílias. O nosso objectivo é o de apostar na prevenção primária e na intervenção nas áreas de risco, nos muitos pequenos e grandes "Casais Ventoso" que proliferam pelo país; recuperar os que caíram nas garras da droga - defendendo a ideia de que o consumidor é um doente e propondo o alargamento da rede pública de tratamento e reinserção social de toxicodependentes e não dar tréguas no combate ao tráfico e ao branqueamento de capitais. Também em relação à Justiça não ficámos pelas declarações de indignação face às prescrições, nem pela enfatização da sua crise, que dá cada vez mais a ideia ao cidadão comum que os grandes e os protegidos sempre escapam às suas malhas... Temos já hoje 40 000 processos prescritos e mais de 132 mil processos crime parados só no Distrito de Lisboa e, mesmo assim, há quem insista em que os responsáveis seriam apenas uns poucos magistrados. Todas estas prescrições, mesmo as de casos mediáticos, não são imputáveis a simples aspectos circunstanciais, ainda que nalguns desses casos a fuga à notificação ou o abuso da manipulação dilatória, indiquem que os arguidos mais não queriam que furtar-se ao julgamento. As causas profundas das prescrições estão num grave entorse legislativo e processual que o Cavaquismo criou e deixou arrastar e que tem agora estes efeitos, e resultam da falta de vontade política e do laxismo dos sucessivos governos do PSD e PS, que assistiram sem tomar medidas de fundo ao progressivo estrangulamento e asfixia de todo o sistema de justiça, motivado pelo aumento exponencial dos processos nos tribunais. A Justiça é lenta, cara e distante dos cidadãos e carece de medidas de fundo como as que o PCP há muito vem defendendo e nalguns casos já traduziu em propostas legislativas - um observatório da Justiça, que acompanhe a evolução da situação para que se tomem as medidas necessárias em tempo útil, formas extra judiciais de resolução de conflitos e Julgados de Paz para os problemas de menor gravidade; um instituto público de acesso ao direito, que informe e defenda os cidadãos perante a Justiça, a desburocratização e simplificação processual; a eficácia na investigação criminal, com a atribuição dos meios necessários e a eficiente utilização dos já disponibilizados para combater os crimes de colarinho branco e para apurar e levar a julgamento casos bem conhecidos. Também em relação a esta área dizemos aos portugueses que podem contar com o PCP para dar o seu contributo à solução dos problemas da Justiça, para a garantia dos direitos e liberdades dos cidadãos e da sua real e efectiva igualdade perante a Lei. Mas o nosso empenhamento tem-se dirigido também em relação ao reforço de direitos e à conquista de novos direitos quer pelos trabalhadores, quer pelos cidadãos em geral, assim como, temos procurado através de várias propostas que sejam concedidos, por exemplo, direitos sindicais aos polícias de Segurança Pública e direitos de cidadania aos agentes da GNR e aos militares que os continuam a ver renegados e que continuam a defrontar agudas distorções de carreira e remuneratórias. E como é também conhecido persistem por parte do Governo relativamente às Forças Armadas, erradas opções e graves lacunas que comprometem o desempenho de missões, como ficou patente em relação a Timor e em relação à ajuda a Moçambique. E reiterando a nossa solidariedade activa ao povo Moçambicano, queria aqui sublinhar que no Parlamento Europeu exigimos atempadamente o apoio e a ajuda da União Europeia a Moçambique e que na Assembleia da República tomámos a iniciativa de propor que cada deputado contribuísse com um dia de salário às vítimas das cheias. Quero aqui informar que os deputados do PCP já todos contribuíram. É uma vergonha que a ajuda da chamada Comunidade Internacional se tenha processado de forma limitada, atrasada e a conta gotas, em contraste com a determinação e a celeridade quando se trata de actos bélicos e das designadas intervenções militares humanitárias, ou em relação aos avultados meios dispensados na corrida aos armamentos para se obter a supremacia militar como é o caso dos EUA. E falando sobre a corrida aos armamentos e sobre o domínio americano, vem a propósito lembrar o sistema de espionagem global Echelon, com que os Estados Unidos procuram, nas suas próprias palavras, assegurar a "superioridade informativa da América", para fins de espionagem política, militar e económica, não só dos seus inimigos potenciais ou inventados, mas também dos países seus aliados. O Echelon apoia-se em 120 satélites espiões e numa panóplia de tecnologias sofisticadas. A espionagem desta rede anglo-saxónica é feita no mais absoluto desrespeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos e as soberanias nacionais e, apesar de se exercer presumivelmente também sobre as redes de comunicações do nosso país, nunca mereceu qualquer esclarecimento do Governo, nem tão pouco em resposta às questões levantadas pelo PCP na Assembleia da República já em Abril de 1988. Por isso, é imperioso que o Governo esclareça se aceita que o Echelon opere sobre Portugal e qual a colaboração com os Serviços de Informações nacionais, que explicite o objecto do memorando secreto assinado pelos governos da União Europeia em Novembro de 1995 e explique a participação de Portugal em 1994 e 1997 em Bonn e Dublin nas reuniões da estrutura (do ILETS) fundada pelo FBI como cortina de fumo da espionagem do Echelon. O Governo deve esclarecimentos à Assembleia da República e à opinião pública. A nova versão do Oásis Camaradas, O Governo continua a pintar de cor de rosa a situação económica do país e na Assembleia da República o Primeiro Ministro até ensaiou um nova versão da velha e mistificadora tese cavaquista do Oásis. Mas a verdade é que o ritmo da convergência real da nossa economia com a média europeia não só se tem processado a passo de caracol como o seu ritmo tem vindo a diminuir. A substituição da produção nacional pela estrangeira e a subcontratação crescente da nossa economia é uma realidade, nomeadamente na agricultura, e na industria transformadora. Em matéria agrícola, o Governo PS, encandeado pelos "milhões de contos" que anuncia, fica cego e surdo com as suas próprias mistificações. Cego, não vê a dura realidade da continuação da crise da agricultura portuguesa. Surdo, não ouve as insistentes reclamações dos agricultores portugueses. Não ouve nem quer ver os graves problemas do escoamento e dos preços da batata e do vinho. E também da fruta, que vai sendo enviada para lixeiras, enquanto os agricultores esperam que lhes paguem a produção. Não quer ver a situação da crise do bovino, que os seus "amigos" da União Europeia continuam a embargar, e o crescimento de inúmeros problemas de sanidade animal (brucelose, leucose, etc.). Não quer ver a situação dos pequenos agricultores que vão sendo expulsos do sistema de Segurança Social, por dificuldades no pagamento das suas prestações. E insiste nas exigências feitas aos trabalhadores da Reforma Agrária (hoje com pensões de miséria), por dinheiro do Crédito Agrícola de Emergência, de que não tiveram qualquer benefício e que, pretensamente, devem, enquanto entrega milhões aos latifundiários. E fecha também os olhos ao escândalo das quotas leiteiras, que prova o mau acompanhamento do problema pelo Ministério, e o mau negócio da Agenda 2000/Berlim, e que vai obrigar os produtores a pagarem pesadas multas. Mas apesar de não querer ver, o que é certo é que os agricultores o têm obrigado, como testemunham as recentes manifestações da CNA e dos produtores da batata, a sair do seu autismo. E permitam-me que daqui saúde a luta dos agricultores e a Confederação Nacional da Agricultura e a sua recente acção de solidariedade, em Santarém, com o Movimento dos Sem Terra no Brasil, em frente do Presidente da República do Brasil, inauguração da recém restaurada casa de Pedro Álvares Cabral . Com a crise na agricultura e nas pescas e a liquidação de importantes sectores industriais, o preocupante défice comercial continua a aumentar, como tem aumentado o domínio do capital estrangeiro sobre a economia nacional, graças nomeadamente ao vergonhoso leilão de importantes empresas públicas. Depois, ao estilo de quem faz o mal e a caramunha, o Governo queixa-se dos lobbies quando é cada vez maior a subordinação do poder político ao poder económico, com todas as consequências conhecidas nomeadamente de natureza social. É por isso que cresce a contestação e a frente social de luta à política deste governo é também por isso, que no PS já se pede a cabeça deste ou daquele ministro e que as contradições e acusações entre altos dirigentes do PS estão na praça pública. O grande protagonista Camaradas: De algum tempo a esta parte, não se passa um dia sem que, por esta ou aquela forma, e a pretexto da crise ou dificuldades do PSD, todos nós não sejamos bombardeados com a expedita sentença de que "não há oposição" ou que o governo do PS não tem na prática quem lhe faça oposição. Nós já sabemos que, no nosso país, não falta quem, ocupando muitas tribunas na comunicação social, tenha o íntimo desejo de que só houvesse dois partidos no nosso país - o PS e o PSD - e que, por isso, estando o PS no governo e não fazendo o PSD oposição, logo conclui que não há qualquer oposição ao governo do PS. Nós sabemos isso muito bem, mas francamente até para a confusão entre desejos e realidades deveria haver um limite e, por isso, é tempo de dizer a esses senhores que se acham que o PSD não faz oposição, então bem podiam prestar um pouco mais de atenção e destaque à oposição que há - e que é muita, e é forte, e é determinada e é combativa - e que é feita designadamente pelo PCP, e que - ponto importantíssimo - tem ainda a valiosa característica de estar a ser complementada como uma constante apresentação de múltiplas propostas concretas, construtiva e fundamentada para a solução de graves problemas do povo e do país. E aliás muito curioso ver como certos critérios de avaliação da oposição sempre mudam ao longo do tempo em função dos interesses que servem. Quando o PSD estava no Governo, não faltavam os que diziam que o PS é que liderava a oposição e que Guterres era o "líder da oposição". Quando o PS está no governo, não faltam os que dizem que o PSD é que lidera a oposição e que Durão Barroso é o "líder de oposição". Mas quando, entre 1983 e 1985, PS e PSD estavam ambos no governo do "bloco central" e o PCP era o maior partido da oposição, já ninguém dizia que o PCP liderava a oposição ou que o seu Secretário Geral era o líder da oposição. Mais: é tempo de dizer que a maior parte dos choradinhos que se ouvem sobre a "falta de oposição" do PSD (e do PP, que actualmente é o grande aliado do PS) o que traduz é a apetência não por uma real oposição do PSD, mas apenas por um seu melhor espectáculo e espalhafato de oposicionismo verbal. Porque a verdade é que os que mais choram pela falta de oposição do PSD sabem tão bem como nós que, depois de o PS nos últimos anos se ter apropriado de quase todos os eixos fundamentais da política do PSD, o PSD só pode mesmo fazer oposição em questões acessórias ou pontuais, só pode mesmo fazer uma oposição centrada em incidentes e episódios mais ou menos fúteis e nunca em questões de fundo. Mas, camaradas, o lado mais perverso deste pungente carpir sobre a falta de oposição do PSD que, desonesta e mentirosamente, alguns logo transformam em falta total de oposição, é que ele inculca implicitamente a ideia de que, quando houver mudança ela se há-de fazer e só se poderá fazer pela direita. No fundo, querem aprisionar as consciências e as vontades por detrás das grades de uma eterna alternância entre o PS e o PSD, sabendo todos tanto como nós que essa é a alternância de etiquetas, de estilos e de caras que fazem a mesma política e que não há nisso nem um grama de política alternativa, nem um cisco de diferença quanto às grandes opções. Nós continuamos a achar que de política de direita feita por todas as variantes de governos possíveis, Portugal já teve mais do que a conta. Nós continuaremos a achar que a grande perspectiva que é preciso colocar e abrir, pela reflexão, iniciativa e vontade dos cidadãos, pelo crescimento e fortalecimento da exigência de uma nova política, é a de uma viragem à esquerda na política nacional, na qual o reforço do PCP desempenha um papel fundamental. A alternativa ao governo do PS e à sua política de que verdadeiramente o país precisa não tem nada que ver e é completamente estranha ao PSD e ao PP e aos enigmas e incertezas sobre se se entendem ou desentendem, se se abraçam ou se apunhalam, se se namoram ou se insultam. Mas já tem tudo que ver com a capacidade de ampliar a crítica pela esquerda à política do governo do PS, com a capacidade de, através do reforço da luta social, fazer recuar o governo em muitos domínios e ofensivas, com a capacidade de, aos mais diversos níveis e em torno de múltiplas causas, promover a agregação de energias e vontades de esquerda, com a capacidade de sacudir o amorfismo e a acomodação e de combater as redes de condicionamento e dependência social instaladas pela máquina clientelar do PS, com a capacidade - que queremos ter - de fortalecer o PCP como o grande protagonista de uma política de esquerda e de novas soluções políticas à esquerda. É com esta perspectiva que trabalhamos e lutamos dia após dia. E é para o êxito desta perspectiva que, dia após dia, apelamos a que mais portugueses e portuguesas se juntem a nós. A generosidade e a nobreza Camaradas: A circunstância de pertencermos a um partido, comunista e português, que acaba de completar 79 anos de vida e de luta e que os celebra, não do ponto de vista da mera passagem do tempo ou da simples sobrevivência, mas do ponto de vista de um percurso apaixonante e honroso marcado por um sólido compromisso com a causa da liberdade, da democracia e do socialismo - constitui seguramente para todos nós um justo motivo de orgulho, um factor de reforçada confiança para o nosso olhar sobre o nosso presente e sobre o nosso futuro. Mas deve também ser vista e sentida como um forte sublinhado da responsabilidade que, individual e colectivamente, a todos nós cabe assumir e de que hoje são portadores os militantes comunistas. O nosso Partido tem uma rica história, tem um vasto e incomparável património de experiência e de luta, tem princípios, valores, uma natureza de classe, uma identidade e objectivos que o diferenciam claramente de qualquer outro partido nacional e que o tornam um empreendimento humano cujo presente e cujo futuro são uma questão maior para o presente e o futuro da evolução da sociedade portuguesa e para a marcha de grandes aspirações de dignidade e felicidade humanas na nossa pátria. Por isso mesmo, é necessário dizer que nenhumas merecidas palavras de justo apreço, valorização e orgulho quanto à nossa história, ao nosso percurso, ao nosso património político e ideológico nos devem afastar da evidência maior de que sem os homens e as mulheres que hoje militam no PCP, se reconhecem no PCP ou confiam no PCP, estaríamos talvez a falar de memórias comoventes e de saudades respeitáveis, estaríamos talvez a dar uma aula de história contemporânea de Portugal, mas não estaríamos - como estamos - a falar de princípios e valores que aí estão pujantes no confronto com a vida e com a realidade, mas não estaríamos - como estamos - a falar de uma identidade e de um projecto comunistas dotado de fortes raízes populares na sociedade portuguesa, mas não estaríamos - como estamos - a falar de ideais e de valores voltados para o futuro. Por outras palavras: é sempre, e sempre, naqueles homens e mulheres que, em cada momento histórico, integram o nosso colectivo partidário, naqueles homens e mulheres que, na riqueza da sua diversidade de formações de situações ou origem social, de percursos, de gostos e sensibilidades, se sentem identificados, unidos e solidários em torno do projecto democrático, revolucionário e humanista do PCP, naqueles homens e mulheres que se sentem mais livres, mais independentes e mais soberanos precisamente porque, consciente e voluntariamente, decidiram estabelecer entre si laços de solidariedade, fraternidade, respeito reciproco e acção comum, que está depositada a responsabilidade maior de assegurarem o presente e o futuro do nosso Partido. Sabemos todos, quantos esforços, quanta capacidade de entrega e de sacrifício, quantas exigências, quanto trabalho continuado e persistente, quanta dedicação a luta do nosso Partido tem pedido, ano após ano, aos militantes do PCP. Sabemos todos que assim é e sabemo-lo todos bem demais. Mas porque os outros têm - e nós não temos nem queremos ter - a força do dinheiro que resulta da exploração do trabalho humano, porque os outros têm - e nós não queremos ter - a força de séculos de ideias e práticas de dominação e opressão, porque os outros servem - e nós não queremos servir - os interesses dos que querem manter uma sociedade e um mundo injustos, nós só podemos continuar a apelar, ao esforço, ao trabalho, à intervenção, à capacidade, à energia, à dedicação, à inteligência e ao braço dos militantes do PCP para continuarem a fazer avançar as grandes causas porque nos batemos e que podem não ser e não têm de ser a vida toda de cada um de nós, mas que cada um de nós sente como fazendo parte harmoniosa da sua vida e componente incontornável da sua dignidade de cidadãos. E, por isso, o nosso vivo apelo a todos os membros do Partido para, que, desde já na primeira fase de auscultação que está lançada e depois no debate preparatório propriamente dito do nosso XVI Congresso, contribuam com as suas análises, opiniões e reflexões, num quadro de inteira liberdade, serenidade e sentido de responsabilidade, para que o próximo Congresso do PCP possa estar à altura dos estimulantes desafios que temos pela frente e possa significar um novo e audacioso passo no caminho para uma mais forte afirmação da nossa intervenção, da nossa luta, dos nossos ideais e do nosso projecto libertador. E também por isso, o nosso vivo apelo a todos os membros do Partido e da JCP para que contribuam activamente para uma mais vasta, mais forte e mais eficaz agregação das energias, das capacidade e da criatividade existentes no nosso colectivo partidário para que, este ano 2000 possa significar, a todos os níveis, novos passos no caminho para uma intervenção e iniciativas políticas ainda mais prontas, ainda mais dotadas de criatividade política, ainda mais atentas e mais próximas do sentimento, preocupações e aspirações dos trabalhadores e do povo português, ainda mais eficazes no combate aos muros de silêncio, discriminação e preconceito com que tantos, dia a dia, procuram esconder e sepultar o que realmente somos, o que realmente fazemos, o que realmente propomos, o que realmente queremos. E também por isso, o nosso vivo apelo a todos os militantes do Partido para que contribuam, a todos ao níveis de intervenção, para o fortalecimento essencial da movimentação social e da luta de massas, para tornar mais fácil e mais fecundo o diálogo aberto do partido com as novas gerações, para fazer avançar mais e mais por múltiplas vias e caminhos, a nossa afirmação de grande Partido de luta e de proposta, de grande Partido que combatendo fenómenos de degradação que estão à vista de todos nem por um minuto se afasta de uma visão da política como uma das mais nobres e elevadas expressões da acção humana, de grande Partido de esquerda que não se limita a pedir a confiança passiva dos trabalhadores e dos cidadãos e antes a todos convida para a iniciativa própria e para a confiança na sua própria razão e luta. No limiar de um novo século e de um novo milénio, não por que isso esteja escrito nas linhas do destino mas porque estamos certos de que haverá forças e vontade humanas para o assegurar, creio que a todos nos anima a perspectiva confiante de que os nosso ideais e o nosso projecto de democracia e socialismo para Portugal têm muito caminho para andar mas também têm muito tempo para viver e muito futuro para conquistar. Viva o Povo de Lisboa |