LAIVOS DE AQUENTEJO O panal era branco em rendas de suor, como a cal que a Ti Liberta fervia
no azado, ao fundo da rua do monte. O ervaçal no empedrado. O monte
era o rumo dos dias nas tardes calmosas. Deixava a tarimba ao luzir do
buraco, enquanto o cão ansiava a bôla de farelo, impaciente.
A cauda do animal agitava-se na cadência dos passos da mulher. — Bom dia, Ti Liberta, já soube da desgraça? O olhar da mulher fraquejou, começou a toldar-se, fundindo-se na sombra da azinheira solitária que o artista empresta à tela camponesa as tuas mãos em gesto ritmado no movimento da foice as paveias soam a queixume de quem implora o pão ..hás de fazer do teu lenço vermelho a única bandeira viva sobre a terra... Sim, a desgraça, ti Liberta. Ela caiu. Ali mesmo. Entre a terra e o céu. Lá. Pelo Maio calmoso das aceifas
escureceu o sol tardiamente, beijando-lhe a face pela última vez.
Lá. Onde a imensidão. Vagueiam gestos ousados em lágrimas
de sangue da mulher. Ti Liberta, abra os olhos. Já faz tempo que a ceifeira, na voz de todas as ceifeiras, deixou
rolar a foice entre o trigal, desesperada. Foi por mor do acrescento de
uns tostões à jorna. |