ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2003 PROPOSTAS DO PCP
Conferência de Imprensa Grupo Parlamentar do PCP
29 de Outubro de 2002
Durante o debate na generalidade do Orçamento do Estado para 2003 afirmámos
que este estava marcado por uma opção que fazia pagar aos grupos
sociais de menores recursos, designadamente aos trabalhadores e às famílias
mais carenciadas, as dificuldades económicas e financeiras do País;
por uma política restritiva de cortes acentuados no investimento público,
particularmente nas funções sociais do Estado, que em vez de estimularem
a retoma da actividade económica e prepararem o País para o futuro
irão, pelo contrário, acentuar a quebra de todos os indicadores
da economia e hipotecar o futuro do País enquanto; pela ausência,
na proposta de Orçamento de Estado, de medidas efectivas de combate à
fraude e à evasão fiscal.
Com opções tão gravosas para Portugal e os portugueses,
contrárias, aliás, às promessas eleitorais do PSD e do
CDS/PP, ninguém esperaria outra atitude do PCP que não fosse o
da oposição clara ao Orçamento do Estado para 2003 e o
consequente voto contra. Mas, apesar disto, não nos demitimos de até
à última votação do Orçamento procurarmos
contribuir com propostas no sentido de tentar minimizar os seus danos e os aspectos
mais gravosos para a vida dos portugueses. Esperamos que não sejam totalmente
desmentidos os apelos do Primeiro-ministro à oposição para
que participe na elaboração do orçamento e que a atitude
da maioria de direita não seja a do rolo compressor, assumindo a postura
de avaliar as propostas não pelo mérito em si mesmo mas com a
maniqueísta tese de que se são da oposição são
más, logo são para chumbar.
As 60 propostas de alterações que desde já apresentamos
centram-se nos seguintes objectivos centrais: reduzir a carga fiscal
sobre os trabalhadores dependentes, sobre os cidadãos portadores de deficiência
e sobre os pensionistas e reformados; contrariar o aumento da tributação
sobre as micro e as pequenas empresas; aumentar a receita fiscal do Estado;
impedir a redução dos direitos dos trabalhadores da administração
pública em matéria de aposentações; aumentar as
pensões de reforma para valores mais dignos; fazer cumprir a Lei de Bases
da Segurança Social; promover a habitação social; reforçar
a solidariedade nacional para a reconstrução de habitações
afectadas pelo sismo de 1998 na Região Autónoma dos Açores;
garantir dotação mínima para o funcionamento dos estabelecimentos
de ensino superior público; repor os valores destinados à acção
social escolar do ensino superior ao nível actual; apoiar os trabalhadores
estudantes e as famílias de estudantes deslocados com encargos no arrendamento
de habitações; impedir o estrangulamento das autarquias em matéria
de investimento e procurar garantir a tão anunciada política de
descentralização; reforçar o investimento público,
designadamente nas áreas sociais; impedir a perda de autonomia dos Laboratórios
de Estado.
Neste quadro eis as nossas propostas mais significativas:
- Actualização dos escalões do IRS e dos abatimentos
e deduções à colecta em 3%;
- Não incidência do IRS sobre as bolsas atribuídas aos
praticantes de alta competição;
- Não incidência do IRS sobre os rendimentos auferidos por trabalhadores
estudantes até ao limite do salário mínimo nacional mais
elevado;
- Dedução à colecta de 25% das despesas suportadas com
o pagamento de rendas de habitação por estudantes deslocados
a mais de 50 km até ao limite de 100 Euros;
- Eliminação dos aumentos previstos para o regime simplificado
e para os pagamentos especiais por conta em IRS e IRC;
- Reposição da tributação sobre as mais valias
e imposição de tributação às Sociedades
Gestoras de Participações Sociais (SGPS) e Sociedades de Capital
de Risco (SCR);
- Aperfeiçoar o regime de tributação das instituições
bancárias;
- Eliminação dos benefícios fiscais nos Planos de Poupança
Acções e na aquisição de acções
em privatizações e em OPV realizadas pelo Estado;
- Fim dos benefícios fiscais às entidades financeiras instaladas
no offshore da Madeira e da Ilha de Santa Maria;
- Definição das regras necessárias ao levantamento das
informações protegidas pelo sigilo bancário previsto
na reforma fiscal em 2000 (Lei 30-G/2000) e obrigatoriedade do Governo apresentar
anualmente à Assembleia da República, com a Proposta do Orçamento
de Estado, informação de carácter estatístico
sobre o uso deste instrumento legal;
- Eliminação do artigo 8.º da proposta do Orçamento
de Estado que altera as condições de aposentação
dos trabalhadores da Administração Pública;
- Reforço da transferência para o Fundo de Estabilização
Financeira da Segurança Social em 148,8 milhões de Euros (cerca
de 29,8 milhões de contos) para cumprimento da Lei de Bases da Segurança
Social;
- Aumento das pensões mínimas de Invalidez e Velhice do Regime
geral com alteração da grelha de escalões tendo em conta
aproximação ao Salário Mínimo Nacional sempre
conjugada com a carreira contributiva dos beneficiários. Esta proposta
assegura que a partir de Janeiro de 2003 seja cumprido o que dispõe
a Lei de Bases para a pensão mínima – menos de 15 anos
de carreira contributiva – (€ 201,34 – 40 365$00, mais 6,2%
do que o valor actual);
- Aumento da pensão social fixando-a em 50% do valor do Salário
Mínimo Nacional líquido de cotizações (actualmente
está fixada em 44,6% do SMN, o que significa um aumento dos actuais
€ 138,27 - 27 720$00 para € 154,87 - 31 050$00, mais 12%);
- Aumento da Pensão Mínima do Regime Especial das Actividades
Agrícolas fixando-a em 60% do valor do Salário Mínimo
Nacional liquido de cotizações (actualmente está fixada
em 55% do SMN, o que significa um aumento dos actuais € 170,14 –
34 110$00 para € 185,5 – 37 260$00, mais 9,2%);
- Aumento dos complementos por dependência fixando-os em 70% e 100%
da pensão social, respectivamente para dependentes de 1.º grau
e 2.º grau. Actualmente os valores deste subsídio têm diversas
variantes e oscilam entre € 62,25 e € 124,45. Passam a situar-se
em € 96,80 e € 170,14;
- Definição da data de 1 de Julho de 2003 para entrada em vigor
do complemento familiar para casais de idosos com mais de 75 anos de idade,
de modo a que o rendimento global seja, no mínimo equivalente ao Salário
Mínimo Nacional;
- Aumento do Abono de Família e respectiva Bonificação
Por Deficiência, num quadro de discriminação positiva
que tem em conta o número de filhos e os rendimentos dos agregados,
o que significam variações entre 5,55% e 64,06% no subsidio
familiar e de 36,12% na bonificação por deficiência;
- Aumento das comparticipações previstas no Regime Geral do
Serviço Nacional de Saúde para as Próteses e Ortóteses
de modo a aproximá-las das comparticipações previstas
no âmbito da ADSE;
- Reposição do regime geral e para jovens do crédito
bonificado à habitação;
- Transferência de atribuições e competências e
respectivos meios financeiros para as autarquias a fim de dar cumprimento
ao anunciado programa de descentralização do Governo;
- Exceptuar da norma que impõe um nível de endividamento zero
para os municípios (e só no caso de ser aprovada) os empréstimos
destinados à construção de habitação social
e ao financiamento de projectos com comparticipação comunitária;
- Reforço em € 2 500 000 (meio milhão de contos), fixando-a
em 20 milhões de euros, da transferência para o Governo Regional
dos Açores a título de comparticipação para a
reconstrução do parque habitacional das Ilhas do Faial e do
Pico;
- Excluir da imposição de um endividamento zero para as Regiões
Autónomas (e só no caso de ser aprovado) dos empréstimos
destinados à construção de habitação social,
ao financiamento de projectos com comparticipação comunitária
bem como a comparticipação regional na reconstrução
das Ilhas do Pico e do Faial;
- Disciplinar a alienação de património do Estado estabelecendo
um direito de opção para as autarquias e pessoas colectivas
de utilidade pública e administrativa e consagrando o princípio
da hasta pública;
- Descativação das verbas congeladas para investimentos no
PIDDAC e para o pagamento de abonos. Desta forma libertam-se verbas para estimular
a economia através do aumento do investimento público em particular
nas funções sociais mais afectadas do Ensino, da Formação,
da Cultura e da Ciência e Tecnologia mantendo-se a cativação
prevista para a Lei de Programação Militar;
- Aumentar em 25,8, e 10 milhões de Euros, respectivamente para as
Universidades e Politécnicos, as dotações para o funcionamento
das instituições do ensino superior público;
- Aumentar em 3,5 milhões de euros a dotação para acção
social escolar do ensino superior;
- Manter a autonomia administrativa e financeira dos Laboratórios
do Estado.
Estas são as nossas propostas, feitas com sentido de responsabilidade
e com o objectivo de contribuirmos para um Orçamento de Estado melhor
para a economia portuguesa e menos gravoso para os portugueses. Recusamo-nos
a aceitar a tese de que a única opção é a do Governo,
a do sacrifício e penalização sempre dos mais desfavorecidos.
O nosso desafio vai para as restantes bancadas parlamentares e em particular
para o PSD e o CDS/PP: avaliem as propostas pelo seu valor intrínseco
e não as rejeitem só porque são da oposição,
no caso, do PCP.
Da nossa parte cumprimos a nossa responsabilidade, criticamos o Orçamento
do Estado mas apresentamos também propostas alternativas. A resposta
está agora nas mãos da maioria.