Intervenção do Deputado
Octávio Teixeira
Pedido de esclarecimento ao Ministro das Finanças
e da Economia
no decorrer do debate na generalidade
do Orçamento do Estado para 2000
17 de Fevereiro de 2000
Sr. Presidente,
Sr. Ministro das Finanças e da Economia
Ainda não percebi bem, mas tenho esperança de vir a perceber,
por que é que, hoje, o PSD está com tanto interesse em demonstrar
que a responsabilidade deste Orçamento está nos malefícios
do anterior Ministro das Finanças. Há aí qualquer coisa
que ainda não consegui perceber, mas iremos, certamente, percebê-la
daqui a mais uns tempos.
Para além disso, o Sr. Ministro, possivelmente, ainda não conhece
bem o Sr. Deputado Rui Rio, mas o Sr. Deputado Rui Rio é, de facto,
um descrente e, ainda por cima, um mal-agradecido.
O Sr. Deputado Rui Rio disse: «Então, o Sr. Ministro das Finanças
não fala sobre o Orçamento que estamos aqui a discutir?».
De facto, há pouco, o Sr. Primeiro-Ministro falou sobre a Legislatura
anterior; agora, o Ministro das Finanças fala sobre os anos futuros
O Sr. Deputado Rui Rio é descrente, porque pensa que ninguém
vai falar do Orçamento. Não!
Tenho a certeza absoluta
de que algum membro do Governo ainda vai falar, neste debate, sobre este Orçamento.
Possivelmente, a Sr.ª Ministra do Planeamento falará sobre o Orçamento!
Talvez o Sr. Ministro do Trabalho e da Solidariedade ou o Sr. Ministro da
Ciência e da Tecnologia falem sobre o Orçamento!
Por isso, Sr. Deputado Rui Rio, não seja tão descrente! Aguarde
até ao fim para ver se alguém fala sobre o Orçamento
do Estado para 2000. Certamente, algum membro do Governo irá falar
sobre ele!
O Sr. Deputado Rui Rio é um mal-agradecido!
Sr. Deputado Rui Rio, então, por mera sorte nossa, míseros Deputados,
tínhamos hoje uma sessão plenária, que, por acaso, era
para discutir o Orçamento mas podia ser para discutir o que quer que
fosse, e, como tínhamos esta sessão plenária, o Sr. Ministro
fez o grande favor de vir aqui anunciar o novo Programa de Estabilidade e
Crescimento que vai entregar, amanhã, em Bruxelas. Se não tivéssemos
Plenário hoje, não ficaríamos a saber nada!
Portanto, Sr. Deputado Rui Rio, não seja mal-agradecido, porque, assim,
ainda fica a saber alguma coisa!
Depois, o Sr. Ministro falou sobre o futuro e é evidente que, falando
sobre o futuro, apresentou aqui um conjunto de compromissos não
sei se o serão ou não, mas, depois, veremos, pois é preciso
analisá-los mais em pormenor. De todo o modo, há duas ou três
coisas que se destacam.
A determinada altura, o Sr. Ministro diz e já tive oportunidade
de confirmar que isto está escrito que vão retomar o
processo de privatizações. Ora, a minha grande dúvida
reside em saber se alguma vez o suspenderam, porque eu não tinha dado
por isso.
Quando é que suspenderam o processo de privatização
para que agora o possam retomar?
Depois, o Sr. Ministro faz aquilo que, do meu ponto de vista, é uma
ameaça pelo menos, interpreto-o assim, o que não quer
dizer que V. Ex.ª o tenha colocado assim , que é dizer:
«Bem, isto dos serviços públicos vai falar pianinho!
Isto agora vai passar por uma análise de custo-benefício e se
o benefício não for superior ao custo, pura e simplesmente,
eliminamos!». O problema é que são apenas VV. Ex.as que
vão fazer a tal análise do custo-benefício e, aqui, tenho
muito receio daí falar em ameaça de que venhamos
a ter num futuro próximo a eliminação de vários
serviços públicos não porque os benefícios sejam
inferiores aos custos mas porque VV. Ex.as dirão que os benefícios
são inferiores aos custos.
Há ainda a parte daquilo a que poderíamos chamar reforma fiscal,
ou seja, o conjunto de normas que aqui vêm explicitadas, algumas relativas
ao domínio do IRS e outras ao domínio do IRC. Sobre isto, gostaria
de colocar apenas duas questões.
No domínio das orientações que servem de fundamento à
reforma fiscal, V. Ex.ª, cuidadosamente, não inclui neste texto
qualquer compromisso e ponho compromisso entre aspas ou referência
à hipótese de vir a reduzir a carga fiscal no IRS. As medidas
que prevê estão aqui, mas essa, cuidadosamente, foi esquecida.
V. Ex.ª fala muito em gradualismo. Fala em eliminação gradual,
redução gradual, etc. Veremos que gradualismo será esse,
Sr. Ministro, porque, se o gradualismo for idêntico àquele que
apresenta no Orçamento para este ano para os dividendos das acções
cotadas nas bolsas, significa a eliminação do benefício
num prazo de quatro anos. A partir de segunda-feira, segundo parece, passa
a ser apenas três anos, mas, mesmo assim, penso que um triénio
é excessivo. De qualquer modo, veremos mais tarde essa questão
do gradualismo.
Em relação ao IRC, também por mero acaso, V. Ex.ª,
nas linhas principais que aqui avança, nada diz sobre um problema em
relação ao qual o próprio Governo e o Sr. Primeiro-Ministro
em particular, a determinada altura, disseram: «De facto, isto não
pode ser!», que é a forma como estão a ser tributadas
ou como não estão a ser tributadas as instituições
bancárias. Sobre isto, aqui, há «zero»! Absolutamente
«zero»!
Para terminar, Sr. Ministro, quero dizer que, ainda que V. Ex.ª não
tenha falado do Orçamento e eu espero que alguém do Governo
ainda o venha a fazer , tem aqui um conjunto de medidas que diz ir apresentar
aos Deputados até Outubro.
Ora, a questão clara e concreta que quero colocar é a seguinte: o Sr. Ministro vem apresentar-nos estas propostas até Outubro para terem efeito já no Orçamento do Estado para 2001 ou apenas para terem um efeito hipotético no Orçamento para 2002?