Intervenção do Deputado
Lino de Carvalho
Pedido de esclarecimento ao Ministro das Finanças
e da Economia
no decorrer do debate na generalidade
do Orçamento do Estado para 2000
17 de Fevereiro de 2000
Sr. Presidente,
Sr. Deputado Manuel dos Santos
O senhor tem o mau hábito de amalgamar e confundir as posições
diferenciadas de crítica ao Orçamento, dizendo que toda a oposição
critica o Orçamento por este ser despesista e por ignorar que essa
despesa tem uma função redistributiva em relação
ao rendimento nacional.
Como o Sr. Deputado sabe, a nossa crítica não é a da
dimensão da despesa pública. A nossa crítica é
a da natureza dessa despesa pública; é a da orientação
dessa despesa pública, que tem, de facto, uma função
redistributiva, mas, ao contrário do que o Sr. Deputado afirma, é
uma função redistributiva a favor do rendimento do capital contra
o rendimento do trabalho.
É por isso que lhe coloco a seguinte questão: o Sr. Deputado
acha que o Orçamento tem uma função redistributiva de
natureza social quando, como já o dissemos e demonstrámos sem
contestação, diminui a taxa do IRC em dois pontos percentuais
para as empresas com um volume de negócios acima dos 100 milhões
de contos o que se traduz num ganho de 50 milhões de contos
para as grandes empresas , deixando praticamente inalterada a carga
fiscal sobre os rendimentos do trabalho? Que «raio» de natureza
redistributiva é essa, Sr. Deputado?
O Sr. Deputado considera que este Orçamento e a política fiscal
do Governo são justos quando continuamos com uma situação
escandalosa em que se eu ganhar 2000 contos a trabalhar, pago 150 contos de
IRS, mas se ganhar 2000 contos por mais-valias na venda de acções
em Bolsa, na prática, não pago nada de imposto ao Estado?!
É essa a função redistributiva da política fiscal
deste Governo, Sr. Deputado?
Por último, como é que o Sr. Deputado compatibiliza esta justiça
social, a equidade social deste Orçamento, quando ele foi preparado
para ser viabilizado pelo partido da direita parlamentar desta Câmara,
pelo partido mais próximo das sociedades neoliberais, pelo partido
mais próximo dos interesses empresariais? Como é que o senhor
compatibiliza a função social com essa viabilização,
Sr. Deputado?