Reivindicações Portuguesas
As organizações portuguesas, aderentes
à Marcha, opõem-se a políticas governamentais que
favoreçam a desregulamentação económica, geradora
de desemprego, de discriminação, precariedade e exclusão
social.
Opõem-se à crescente desresponsabilização
do Estado em áreas sociais fundamentais e às restrições
orçamentais que impedem a concretização de medidas
específicas de promoção da qualidade de vida e dos
direitos das mulheres.
Opõem-se aos constrangimentos ao integral cumprimento
das leis que consagram a igualdade de direitos e de oportunidades no trabalho
e na família, que põem em causa os direitos associados à
maternidade-paternidade e a participação social e política.
Opõem-se a todas as práticas discriminatórias
em função do sexo, designadamente, ao nível da publicidade,
da divulgação e tratamento de imagens atentatórias
da dignidade da mulher nos grandes órgãos de comunicação
social.
Defendem o direito das mulheres à informação,
designadamente das mais jovens, acerca dos direitos legalmente consagrados.
Defendem o desenvolvimento de trabalhos de análise
e de avaliação que permitam detectar os diferentes aspectos
da desigualdade, entre mulheres e homens, nos domínios económico,
social, político, cultural e desportivo.
Exigem uma crescente participação das mulheres
aos vários níveis da vida social, política, cultural
e desportiva.
Por isso decidem afirmar reivindicações
comuns, organizando, em todo o país, várias iniciativas.
Com o objectivo de as integrar na Marcha Europeia que
se realiza no dia 14 de Outubro em Bruxelas, e na Marcha Mundial que no
dia 17 de Outubro termina com uma manifestação em frente
da ONU, em Nova Iorque, estas organizações estabelecem uma
plataforma de consenso em torno das seguintes reivindicações:
Somos contra a precariedade instituída como regra,
a falta de autonomia económica e as discriminações
sexistas sofridas pelas mulheres no mundo do trabalho, por isso exigimos:
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- Uma política global de igualdade no trabalho que articule
as suas diversas vertentes empenhamento político, programas,
contratação colectiva, legislação, fiscalização.
- Eliminação das discriminações existentes
e aplicação rigorosa do princípio constitucional
a trabalho igual salário igual.
- Respeito pelo exercício dos direitos, nomeadamente dos associados
à maternidade e à paternidade.
- Combate à precariedade do emprego e eliminação
dos incentivos ao trabalho a tempo parcial.
- Fixação da semana de 35 horas de trabalho como duração
máxima normal, sem redução de salário nem
perda de direitos e enquanto meio importante para a conciliação
entre vida familiar e profissional.
- Implementação de uma rede pública de educação
pré-escolar, universal e gratuita para crianças dos 3
aos 6 anos.
- Reforço do investimento público visando a criação
de infra-estruturas para apoio à maternidade e à infância
no mundo rural e zonas suburbanas.
- Somos contra a pobreza e a exclusão social, a maior das violências,
que vitimiza as mulheres em primeiro lugar. Por isso exigimos:
- A redistribuição das riquezas e com esse objectivo
a introdução de uma taxa que fiscalize os movimentos de
capitais nas bolsas nacionais e nos intercâmbios internacionais,
que disponibilize meios financeiros para a erradicação
da pobreza no mundo.
- Que a todas(os) as(os) cidadãs(ãos) seja garantido
um serviço nacional de saúde de qualidade, a protecção
social através do sistema público de segurança
social e uma escola pública de qualidade.
- A elevação significativa do salário mínimo
nacional, dos salários, das reformas e pensões.
- Medidas que permitam que a velhice seja vivida com dignidade, em
que se valorize a experiência, os saberes das (os) idosas(os)
e se combatam as situações de exclusão social,
solidão e pobreza.
- Medidas que permitam pôr fim ao processo que conduz ao fenómeno
crianças da rua, recuperando e integrando essas crianças
garantindo-lhes efectiva igualdade de oportunidades.
- Contribuição de Portugal para o desenvolvimento dos
países mais pobres apoiando, nomeadamente, a exigência
da anulação da dívida.
- Somos contra todas as formas de violência doméstica exercida
contra as mulheres. Por isso exigimos:
- O cumprimento da legislação existente de protecção
às mulheres vítimas de violência, designadamente
no domínio da prevenção e do apoio à vítima
(garantia de afastamento do agressor, atendimento nas esquadras, centros
de encaminhamento e casas de abrigo), com garantia de dotações
orçamentais adequadas às necessidades.
- Somos contra o aborto clandestino e a ausência de uma política
global que promova os direitos sexuais e reprodutivos das(os) cidadãs(ãos).
Por isso exigimos:
- A aprovação de uma lei de despenalização
do aborto a pedido da mulher até às 12 semanas.
- A generalização de consultas de planeamento familiar
nos centros de saúde e garantia de acessibilidade aos meios contraceptivos
de acordo com a legislação aprovada.
- Implementação da educação sexual nas
escolas.
- Somos contra todas as formas de discriminação que, sem
serem específicas das mulheres, constituem também outras
formas de violência por elas sofridas. Por isso exigimos:
- A não discriminação dos cidadãos em função
da sua orientação sexual como um dos critérios
pelos quais ninguém pode ser discriminada(o) e, nomeadamente,
o reconhecimento das uniões de facto sem qualquer discriminação
sexual.
- A não discriminação da pessoa em função
da sua cor, religião, cultura ou do seu país de origem,
exigindo assim a legalização de todas e todos as(os) imigrantes
clandestinos e o reagrupamento familiar.
- A não discriminação da(o) cidadã(ão)
portadora de deficiência, exigindo assim a adaptação
da arquitectura urbanística, tal como, dos transportes públicos.
Exigimos também a plena integração social destes
cidadãos.
- Somos pelo direito ao desporto em igualdade. Por isso exigimos:
- Medidas urgentes em favor do desporto feminino que visem o aumento
do número de praticantes e do número de mulheres no enquadramento
e nos postos de decisão do sistema desportivo.
- A criação de programas desportivos que tenham em conta
a diversidade e as necessidades de raparigas e mulheres.
- A adopção de estratégias educativas que incorporem
a perspectiva de género, motivadoras de uma melhor e maior participação
das raparigas na Educação Física e Desporto Escolar.
- O fim da discriminação no acesso às instalações
desportivas e nos prémios financeiros das competições.
- Somos contra a prostituição e contra o tráfico
de mulheres e de menores. Por isso exigimos:
- O desenvolvimento de políticas e programas nas vertentes económica
e social para reabilitação e integração
das pessoas traficadas com adequada disponibilização de
verbas por forma a garantir a eficácia dos programas.
- A aplicação da Convenção para a Repressão
do Tráfico de Seres Humanos e de Exploração da
Prostituição.
- A concretização de medidas de guarda e protecção
das vítimas de tráfico.
- A concretização de medidas de apoio à integração
social das mulheres prostitutas.
A Plataforma Nacional da Marcha
Lisboa, 2 de Fevereiro de 2000
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