Sr. Presidente,
Sr. Ministro da Justiça,
V. Ex.ª fará a justiça de reconhecer que o PCP não acordou agora para os problemas da justiça. Aliás, lembrar-se-á que, ainda na última legislatura, uma das interpelações ao Governo - creio que foi, porventura, a última que tivemos oportunidade de fazer, mas se não foi a última, foi uma das últimas - foi precisamente sobre os problemas que já, então, se avolumavam relativamente à área da justiça.
Também fará a justiça de reconhecer - aliás,
fê-la no debate da semana passada - que o PCP tem apresentado iniciativas
legislativas pertinentes sobre esta matéria, de que é exemplo
o projecto de lei sobre a criação de julgados de paz. O Sr.
Ministro, até relevou este projecto de lei no debate que, por nossa
iniciativa, se realizou aqui na semana antepassada, dando, inclusive, conta
da intenção, meritória, de o Governo de participar no
processo legislativo relativo a estas iniciativas legislativas.
Ouvi com particular atenção a intervenção do Sr.
Ministro, uma atenção até muito particular, porque tive
oportunidade de a ir seguindo, através do despacho da Agência
Lusa, à medida que a ia fazendo.
Hoje, com esta intervenção, o Sr. Ministro fez-me lembrar uma personagem de banda desenhada, aquela que é mais rápida do que a própria sombra; ou seja, a sua intervenção foi como o Lucky Luke.
O Sr. Ministro ainda estava a fazer a intervenção e ela já estava na mão dos Deputados dos partidos da oposição, por via da Agência Lusa.
E verifiquei que a intervenção não está, de facto, transcrita na íntegra, porque o Sr. Ministro veio para aqui fazer algumas perguntas, que, se estivessem no texto e já com espaço para as respostas, poderíamos devolver-lhe a intervenção já com as respostas dadas nos sítios certos.
Mas, Sr. Ministro, tudo isto para dizer que o problema fundamental da justiça
não é equacionável apenas ou sobretudo pelas intervenções
que o Ministro da Justiça tem feito aqui, na Assembleia da República,
embora isto seja muito importante, porquanto temos tido, ao longo dos últimos
anos, exemplos de eloquentes intervenções de ministros da Justiça
acerca da firmeza e da determinação com que estão a encarar
os problemas e como os vão resolver.
O problema é que sempre que cada ministro cessa funções
verificamos que as situações não melhoraram e que, de
facto, não se encontraram respostas para os tão graves problemas
que afectam a justiça, como sejam os da inacessibilidade dos cidadãos
de menores recursos à justiça, os da morosidade geral com que
o sistema funciona, a situação de crise que é por todos
reconhecida. De facto, apesar de todos os belíssimos discursos feitos
nesta Assembleia, ainda não conseguimos encontrar, da parte dos governos,
soluções reais para resolver os problemas de fundo com que a
justiça se confronta.
Até agora o que o Sr. Ministro aqui nos trouxe - vou abreviar - foi
uma proposta de lei, que discutiremos amanhã, mas que é reconhecidamente
uma solução de recurso, uma solução de emergência
absoluta e não uma solução estrutural. Porém,
o Sr. Ministro já nos fala do PIDDAC que vai apresentar, com exemplos
que são particularmente elucidativos, e com isto termino. O Sr. Ministro
traz-nos um exemplo espantoso, o do tribunal da Amadora, que agora aparece
no PIDDAC. Simplesmente, Sr. Ministro, ele já aparecia há quatro
anos, e lembro-me, perfeitamente, que na discussão do primeiro Orçamento
do Estado da legislatura anterior colocámos essa questão e que,
na altura, o Sr. Ministro da Justiça nos disse que era uma primeira
prioridade, uma prioridade absoluta do Governo construir o palácio
da justiça da Amadora. Por que é que o Sr. Ministro agora no
diz que é uma solução provisória?
Não sei se o Sr. Ministro já viu a solução provisória, mas, se não a viu, aconselho-o a vê-la, porque a solução provisória é um barracão que fica junto a um apeadeiro desactivado da CP, na Damaia.
Na Amadora, até se diz que, enquanto as outras cidades têm um palácio da justiça, a Amadora tem uma barraca da justiça.
Sr. Ministro, terá de arranjar outros exemplos, porque este dá uma imagem da política do seu Governo, no seu pior.