Referendo sobre a IVG e outros referendos
- o PS dá o dito por não dito
Declaração do deputado Octávio Teixeira
5 de Fevereiro de 1997
Faço uma declaração que tem em conta não só a questão do referendo sobre a
IVG como as questões relativas aos outros referendos, incluindo o referendo
sobre a regionalização.
1º Quanto ao referendo sobre o aborto
O PCP considera profundamente lamentável o anúncio da disponibilidade do PS
para considerar a realização de um referendo sobre o aborto.
Uma tal atitude testemunha uma forma de estar na vida política em que tudo parece
negociável, ilustra uma completa ausência de convicções e evidencia um total
desrespeito pela palavra dada e pelos compromissos publicamente assumidos.
Ainda há uma semana atrás, o Grupo Parlamentar do PS deliberou " não viabilizar
qualquer proposta de que resulte o aditamento de mais uma consulta popular para
além das que já se encontram previstas", deliberação que, aliás, terá sido
ratificada pelo Secretariado Nacional do PS.
Hoje, o PS e o seu Grupo Parlamentar dão o dito pelo não dito, legitimando que
daqui para diante não se atribua qualquer credibilidade a decisões e deliberações
anunciadas pelo PS e pelo seu Grupo Parlamentar.
Acresce que a posição do PS é feita imediatamente a seguir à aprovação de um
Projecto de Lei sobre a matéria, o que significa, objectivamente, que o PS adere
à tese do PSD da pretensa ausência de legitimidade da Assembleia da República
para legislar sobre esta questão, tese que ainda ontem rejeitou de forma clara
e fundamentada.
PCP recorda também que, após a rejeição em Fevereiro de 1997 do projecto da
JS, nunca o PSD ou o PS reclamaram qualquer referendo sobre o aborto, assim
rejeitando sempre a possibilidade de uma consulta popular directa poder rectificar
essa votação parlamentar.
Ao ceder agora às pressões do PSD, admitindo um referendo sobre o aborto depois
da votação favorável ontem feita pela Assembleia da República, o PS associa-se
ainda e tristemente às teses fraudulentas e interesseiras do PSD segundo as
quais a rejeição pela AR da despenalização do aborto não precisa de ser acompanhada
de referendo mas já uma sua decisão favorável à despenalização carece dessa
consulta popular.
Por acréscimo, a pretexto do referendo, arrastando inevitavelmente a solução
da questão do aborto clandestino.
2º - Quanto à Regionalização e à junção de referendos
É manifesto que esta posição do PS é igualmente contra a Regionalização. É mais
um pretexto do PS para adiar a Regionalização e para impossibilitar a sua concretização
na actual legislatura.
Quanto à convergência agora indiciada entre PSD e PS no sentido da realização
na mesma data dos referendos sobre a regionalização e sobre matéria europeia,
o PCP reputa a ideia de completamente absurda, inaceitável e só concebível por
quem pretenda brincar com coisas sérias, baralhar e complicar o debate de tais
matérias e impedir o exercício claro e transparente da soberania popular.
Por último, é completamente abusivo e inaceitável política e institucionalmente
que, quer o PS quer o PSD, pretendam fazer um acordo sobre a realização simultânea
de dois referendos, quando essa decisão cabe em exclusivo ao senhor Presidente
da República.