Sobre a entrega/extradição de Slobodan
Milosevic
Comunicado do Secretariado do CC do PCP
29 de Junho de 2001
1. É com profunda indignação e firme condenação
que o Partido Comunista Português toma conhecimento da forçada
entrega/extradição do antigo Presidente da República Federal
da Jugoslávia, Slobodan Milosevic ao Tribunal Penal Internacional
ad-hoc de Haia.
2. Uma tal entrega/extradição é o resultado de um longo,
sofisticado e violento processo de ingerências e chantagens imperialistas
sobre a Jugoslávia, que se seguiu à ilegal e criminosa agressão
da NATO a este país soberano, e prossegue sob as mais diversas formas.
O facto de a entrega se realizar por ultimato dos EUA, na véspera da
Conferência de Doadores sob a chantagem da ajuda económica,
é bem ilustrativo da indignidade e cinismo que caracterizam os protagonistas
de tal acto.
3. Afrontando a Constituição da RFJ, as competências do
seu Parlamento, a decisão do seu Tribunal Constitucional, a oposição
do próprio Presidente Kostunica, a entrega/extradição de
Slobodan Milosevic constitui um exemplo vergonhoso e particularmente grave da
negação dos mais elementares direitos, liberdades e garantias
democráticas e do espezinhamento da dignidade de um povo e de um Estado
soberano. Põe simultaneamente em evidência a verdadeira natureza
do Tribunal Penal Internacional, como instrumento político
de vingança e de imposição da justiça
dos vencedores.
4. O PCP chama a atenção para que um tal acto, a todos os títulos
ilegal e ilegítimo, só pode contribuir para agravar ainda mais
a situação na Jugoslávia e desestabilizar perigosamente
toda a região dos Balcãs. A ofensiva dos bandos do UCK na Macedónia,
com a cobertura e apoio dos EUA e das forças da KFOR, pode conduzir a
uma tragédia de grandes proporções.
5. O PCP considera que é dever elementar do governo e do Estado português
tomar posição contra tão flagrantes atentados da legalidade
internacional. Considera também que esta é uma nova razão
para pôr fim à presença de tropas portuguesas nos Balcãs
e ao envolvimento de Portugal na política agressiva da NATO e no processo
de militarização da U.E.. É particularmente importante
que os portugueses, pelos meios ao seu alcance, expressem o seu protesto e indignação.