"Responsabilidades"
Ruben de Carvalho no "Diário de Notícias"
19 de Abril de 2003
Tem feito carreira entre os comentadores que apoiaram a agressão americana a ideia de que os que a ela se opuseram teriam que fazer uma espécie de mea culpa. Declara-se que não tinham razão - e porquê? Porque os americanos ganharam! Concordar-se-á que é a mais patética das razões. Sobre tal questão ninguém teve dúvidas - e esse era, de resto, exactamente um dos problemas: a cobarde desproporção de meios. Mas não sucederá exactamente o contrário? Não será aos defensores da guerra que têm de ser pedidas umas quantas explicações? José Manuel Fernandes, Luís Delgado, Vasco Graça Moura, Azevedo e Silva, Ribeiro Ferreira, Nuno Rogeiro e demais entusiastas da política Bush, expliquem lá: mas, afinal, onde é que estão as armas de destruição maciça? E onde é que estão as provas das cumplicidades terroristas do Iraque? Que nos dizem do organizado saque de Bagdad, vigiado à distância por marines? Consideram cinco mil mortos civis (mais que os militares) «efeitos colaterais aceitáveis»? E então ignoravam que a decisão de fazer a guerra estava tomada há mais de um ano? E claro que, depois do que se viu, continuam a achar que só anti-americanismo justifica chamar objectivo essencial ao saque do petróleo iraquiano? Aguarda-se com interesse as vossas informações sobre o perigo sírio.