"O 'sucessor'"
Ruben de Carvalho no "Diário de Notícias"
23 de Março de 2003
Além de um texto do seu director sobre política (só comparável às suas recentes e inesquecíveis elucubrações sobre o beijo), o Expresso dá uma notícia a reter: o general que comanda as forças americanas no Iraque «será o sucessor de Saddam Hussein» (sic!) e, segundo a mesma fonte diplomática, «Franks será o MacArthur do Iraque».
A formulação é significativa. MacArthur - a quem George Marshall dissera durante a II Guerra «o senhor não tem um Estado-Maior, tem uma corte»... - era o ai-jesus da extrema-direita republicana, ainda saudosa de um general meio paranóico que pretendeu resolver o seu fiasco na Coreia com recurso à bomba atómica e que ela sonhou fazer presidente.
David Halberstan, Pulitzer referencial do jornalismo americano, escreve no fundamental livro The Fifties: «Os seus discursos [de MacArthur quando pró-cônsul em Tóquio] e a sua conversa enchiam-se de referências simplistas e racistas ao "espírito asiático" ou "oriental" que inteiramente ignoravam as enormes diferenças étnicas, históricas e sociais dos numerosos países asiáticos.»
Além de ser um «maníaco da publicidade e da glória que não se deslocava nunca sem a sua roda de jornalistas e fotógrafos». O padrão, como se vê, é inteiramente recomendável. E esclarecedor.