Sobre questões da Paz e do Desarmamento
Conferência de Imprensa, com Margarida Botelho,
da Comissão Política do PCP
4 de Agosto de 2005
No ano em que se comemora o 60º aniversário do fim da II Guerra Mundial, feito maior da luta e da resistência dos povos contra o nazi-fascismo, que pôs fim ao terrível cortejo de horrores que marcaram e mancharam a história recente da humanidade, o PCP recorda que a este grandioso acontecimento está também associado, pelas piores razões, o bombardeamento atómico das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
Nas primeiras horas dos dias 6 e de 9 de Agosto de 1945, os Estados Unidos da América, evocando a necessidade de pôr fim à guerra no Pacífico, fizeram explodir sobre a população indefesa dessas cidades duas bombas atómicas, matando milhares de homens, mulheres e crianças, num acto que não é demais classificar como um dos mais hediondos crimes jamais perpetrados contra a Humanidade.
O PCP associa-se a todos os que no mundo, e em particular no nosso país, assinalam esta efeméride, num espirito de profundo respeito pela memória das vítimas. E alertamos também para o processo de revisão de história em curso, que tenta a todo o custo diminuir o significado e o impacto desses actos terroristas, omitindo o nome dos seus autores e diluindo o impacto e as razões reais que levaram à execução deste execrável crime. Não é aceitável que paulatina e subtilmente se caucione a admissão da utilização da arma nuclear no quadro da resolução de qualquer conflito. E menos aceitável se torna, quando tomado o exemplo em concreto, se recorre a justificações mentirosas para ocultar as verdadeiras razões que lhe estiveram subjacentes. A verdade de Hiroshima e Nagasaki tem a sua raiz na demencial manifestação de poderio militar dos Estados Unidos da América, particularmente face à União Soviética, potência aliada vencedora da II Guerra Mundial, procurando desta forma submeter o mundo e os povos, através da chantagem nuclear, às suas pretensões hegemónicas.
Recordar o bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki, bem como as causas e razões que o tornaram realidade, é um imperativo para impedir que mais nenhum país e nenhum povo venha a sofrer a terrível devastação presenciada há 60 anos.
A trágica lição de Hiroshima e Nagasaki, não trouxe contudo a resposta mais esperada: a abolição completa de todas as armas de destruição maciça. Pelo contrário, assiste-se hoje a uma corrida aos armamentos sem precedentes, na qual colossais orçamentos são postos ao serviço da ampliação e do aperfeiçoamento de arsenais nucleares, criando novas armas cada vez mais sofisticadas e com capacidade destrutiva esmagadoramente superior às bombas que flagelaram Hiroshima e Nagasaki.
Os EUA relançam a “Guerra das Estrelas” implementando o sistema de defesa Anti-míssil, e persistem na violação e abandono de importantes tratados internacionais, visando o desarmamento. Outorgam a si próprios o direito de primeiro utilizador de armas nucleares, deixando claro que de doravante, a posse destas deve ser entendida como uma séria possibilidade ofensiva.
A NATO, da qual Portugal é membro activo e de pleno direito, não exclui a possibilidade de primeiro utilizador. Mas não fica por aqui: Portugal não manifestou qualquer oposição ou reserva à alteração do Conceito Estratégico da NATO, que passou a assumir-se como organização claramente agressiva, arrogando-se o direito de intervir em qualquer parte do mundo onde os seus “direitos” se sintam ameaçados. Estas alterações e a subserviência que muitos países manifestam face a elas, vêm confirmar o renovado entusiasmo com que o imperialismo encara a via da guerra e o papel da arma nuclear na persecução dos seus objectivos. O recente envio de 150 militares portugueses para o Afeganistão vem confirmar esta política de subserviência de Portugal face à NATO, sobrepondo as agendas hegemónicas dos EUA e do Reino Unido aos interesses nacionais e ao espírito de paz e solidariedade que presidem à Constituição da República portuguesa e que encontram eco profundo no povo português.
É oportuno lembrar que a guerra ilegal e criminosa lançada contra o Iraque teve como justificação a mentirosa afirmação de que este país possuía armas de destruição maciça, procurando legitimar a guerra e uma eventual utilização de armamento nuclear por parte dos países agressores. Esperemos que desta vez não tenha razão o sensato ditado popular que afirma não haver fumo sem fogo, e que, os EUA e seus obsequiosos seguidores, não se lembrem de aplicar contra o povo Iraquiano ou outro, a mesma medida de Hiroshima e Nagasaki,
Os milhões investidos na indústria militar são proporcionais aos milhões de seres humanos flagelados pela guerra, a fome, a doença, a exploração e a guerra. Os países mais ricos do mundo são simultaneamente os que mais investem na indústria armamentista e, na recente Cimeira do G-8 de Edimburgo, galreando o empenho na resolução dos problemas da humanidade, anunciaram medidas de apoio aos países subdesenvolvidos, que mais não constituem que um insulto à inteligência humana. A verdade é só uma: o orçamento militar anual dos EUA, poderia por si só, resolver os mais urgentes problemas da fome e da doença que matam diariamente milhares de seres humanos.
O PCP denuncia esta política de hipocrisia e alerta os trabalhadores e o povo português para os perigos resultantes do militarismo, do intervencionismo imperialista e da campanha propagandista em curso, que visa a aceitação de medidas de restrição de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e de reforço dos orçamentos militares, em nome de uma suposta segurança colectiva e luta contra o terrorismo.
Na data em que se assinalam os 60 anos dos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, o PCP apela à mobilização dos trabalhadores e do povo Português em torno dos valores da paz, da solidariedade e do desamamento, certo que a luta e a resistência dos povos inverterá o rumo militarista e impedirá os projectos demenciais que ameaçam a humanidade.
Lisboa, 4 de Agosto de 2005