Apelo à consciência dos povos
Nota do Gabinete de Imprensa do PCP
27 de Março de 2006

Por diversas vezes, na história, intelectuais têm assumido o dever, entendido simultaneamente como direito, de lançar um grito de alerta.
O momento actual clama por um veemente apelo à consciência dos povos. Estamos perante um crescendo de irracionalidade brutal, cuja principal origem não reside, como afirma a ideologia dominante, na violência inata de grupos humanos atrasados e fanatizados, mas sim no sistema globalizado de exploração, domínio e opressão que espalha à escala planetária violência, agressão, atraso e miséria.

Foi num ambiente semelhante que, há menos de um século, germinaram as ideologias e os regimes fascistas e nazi-fascistas protagonistas das maiores tragédias que a humanidade viveu até hoje. É nesse ambiente que renascem e ganham fôlego novas expressões do mesmo flagelo.
Hoje, como então, avançam sob a capa do anticomunismo. Clamam pela criminalização, a perseguição, a proibição da existência e da acção dos comunistas. Mas o que pretendem de facto criminalizar, perseguir e reprimir é a liberdade, a democracia, o direito dos trabalhadores, dos cidadãos, dos povos à resistência e à luta por direitos humanos, pelo simples direito a sonhar, sequer, que outra sociedade é possível.

Não usam, hoje, camisas negras ou castanhas os porta vozes deste sombrio programa. Vestem fato e gravata e têm assento em importantes organismos internacionais.

Quiseram aprovar no Conselho da Europa uma resolução anticomunista que, se aplicada, teria como consequência uma implacável escalada persecutória, de repressão e de violência, não apenas contra os comunistas mas contra todos os que resistem e lutam contra o intolerável estado de coisas hoje dominante. Há muito que não era ouvida com tanta clareza, numa instituição europeia, a voz secular da opressão, do ódio à duríssima marcha da emancipação humana.

Conhecemos, por dolorosa memória histórica, o significado destes sinais.
Este é, por isso, o momento para exercermos o dever e o direito de lançar um vigoroso e urgente grito de alerta.

Independentemente de diferentes apreciações individuais sobre várias das matérias em causa, não deixaremos que, com o nosso silêncio, se repitam actos e tragédias que marcaram a horror e a fogo a face dos povos.
Não permitiremos, com o nosso silêncio, que a história se repita.


Primeiros subscritores:


Alberto Vilaça - Advogado, Investigador de História
Alcino Soutinho - Arquitecto
Álvaro Magalhães – Escritor
Álvaro Siza Vieira - arquitecto
António Avelãs Nunes - Professor Universitário
Armando Alves - Pintor
Domingos Tavares – Professor Universitário
Eduardo Souto Moura – Arquitecto
Filipe Diniz – Arquitecto
Fausto Neves - Músico
Francisco Allen Gomes - Médico Psiquiatra
Frederico Carvalho – Investigador
Hélder Costa – Autor, Encenador
Isabel Allegro de Magalhães – Professora Universitária
João Arsénio Nunes - Historiador
João Ferreira – Bolseiro de Investigação
José António Gomes – Escritor
José Barata Moura – Reitor da Universidade de Lisboa
José Luís Borges Coelho – Músico
José Rodrigues – Artista Plástico
José Saramago - Escritor, Prémio Nobel da Literatura
Manuel Gusmão – Jornalista, Escritor
Manuel Louzã Henriques - Médico Psiquiatra
Maria Helena Serôdio - Professora Universitária.
Miguel Urbano Rodrigues – Escritor
Óscar Lopes – Escritor
Rogério Ribeiro – Artista Plástico
Rui Namorado Rosa – Professor Universitário
Urbano Tavares Rodrigues – Escritor