"“A a Z” de uma guerra e dos desígnios do Império"
António Abreu na "Capital"
31 de Março de 2003

 

América. O novo império. O maior deficite mundial que todos pagamos, em vários pontos do mundo com as Manuelas F. Leite que cada país tem a conter os deficites de cada um. Têm 2.1% das reservas do petróleo mas são os seus principais predadores. Este carácter revelou-se ao longo dos anos, nos mais diversos domínios, e gerou aquilo que alguns incondicionais e apologetas do império designam por “anti-americanismo”. Os últimos dias foram arrasadores na expressão desses sentimentos. Responsável: o Pentágono e todos o que ele representa.

Bin Laden. Momentaneamente calado. Formado e equipado pelos EUA. Aparentemente mata o pai, beneficiando desse anti-americanismo. O seu terrorismo e o Pentágono vivem um do outro. Um e outro, usurpando o nome de Deus aos seus representantes, utilizam oportunistamente religiões para promover o genocídio.

Construção civil. Com o devido respeito por muita gente boa que trabalha neste sector, este é um segundo móbil da guerra. As empreitadas de reconstrução do que está as ser arrasado, já foram adjudicadas. Uns Blairs ,Aznares e Barrosos disputam as sub-contratações. O terceiro são os interesses das indústrias de armamento, onde Portas está atento.

Durão Barroso. Falta-lhe tudo, a começar pela vergonha. Mas essa é uma questão interna. Só nossa. Saibamos todos, numa situação tão adversa, perigosa , por isso muito exigente, tecer os caminhos do futuro. Para que as expectativas de mudança, no momento mais adequado, gerem outro crédito por parte dos que têm sido sucessivamente enganados.

Efeitos colaterais. Uma redundância. Algo nunca evitável. Introduzida para manipular consciências com o carácter “cirúrgico” das intervenções, outra arma do arsenal táctico, para entreter as mesmas consciências.

F-117. Os caça-bombardeiros que iniciaram a agressão dia 20 com os mísseis Tomahawk.

George Bush. Um inculto que chegou onde chegou mas que não se pode ignorar ter por detrás o Pentágono.

Horror. O que nos entra em casa todos os dias, apenas na pequena dose a que os jornalistas têm acesso.

Iraque. Berço de civilizações. A Mesopotamia dos nossos livros de estudo.. Um país que já foi dos mais desenvolvidos. Onde há vários povos, uns constituindo um país, outros aspirando a sê-lo na base de uma identidade nacional. Onde há quase 25 anos Saddam manda prender e matar comunistas e curdos. Que não se provou estar as preparar um ataque a outro país. Onde o seu próprio povo deve determinar o futuro, dispensando a ajuda dos que bem consolidaram Saddam no poder.

Jardim do Eden, regado, segundo o Genesis, por um rio, que se dividia em quatro, dois dos quais eram o Tigre e o Eufrates. Local de Paz.

Liberdade informação. Dá jeito quando servem Blair e Bush. Quando não servem, paciência! Que o digam Madona, os U-52 e outras bandas que viram as suas canções proibidas da rádio e TV britânicas, no MTV/Europa. Ou a televisão de Bagdade, primeiro dos alvos, para que o mundo só visse a guerra contada por uma parte.

Médio Oriente. Tem 62.9% das reservas do petróleo. Percebe-se o que anima a vontade de democracia que Bush vai prometendo como grande motivação mas em que muitos teimam em não acreditar.

Nudaf. Uma das cidades santas dos chiitas, onde repousa o genro de Maomé e que tem resistido com heroísmo. O comando “aliado” vangloria-se de ter provocado centenas de mortes.

ONU, o seu Conselho de Segurança. Instituições que causam incómodos aos senhores dos States, que ao longo dos anos quiseram asfixiar financeiramente e paralisar as suas instituições, incluindo as humanitárias.

Petróleo. O primeiro objectivo dos agressores.

Quem vai pagar tudo isto? Os povos do Iraque, em primeiro lugar. As suas crianças, os idosos, as mulheres, os jovens, o seu futuro, a forma como olham os outros. Todo o mundo vai pagar. Mas os States serão importadores líquidos financeiros como já aconteceu na 1ª guerra do Golfo.

Rússia. Também é objectivo. Num outro prazo e circunstâncias. Tem 6.2% das reservas de petróleo.

Saddam. Um ditador como outros que os States têm apoiado quando lhes dá jeito e que pode aspirar a herói no mundo árabe, onde a causa central da Palestina está por resolver e vários outros países estão em fila de espera a aguardar a agressão.

Tony Blair. O mais liberal dos trabalhistas. De verbo apurado mas a perder apoio interno. Disputa os despojos da guerra, por detrás de Bush.

UNMOVIC. A equipa de inspectores, destacados pela ONU para o Iraque, cujo trabalho o Pentágono não deixou concluir.

Venezuela.7.1% das reservas de petróleo. Bush tentou objectivos, em relação aos quais, para já, foi derrotado.

Xiitas. Onde estão as recepções com flores pelos chiitas que Bush e Blair prometeram aos seus soldados?

Zonas de exclusão aérea. Zonas do Iraque a norte do paralelo 36 e a sul do paralelo 33, que desde 91 e 92, respectivamente, são controladas pelos EUA e onde nunca pararam os bombardeamentos.