A agressão à Jugoslávia
Intervenção do deputado Carlos Carvalhas
8 de Abril de 1999
Senhor Presidente,
Senhor Primeiro Ministro,
Senhores Deputados,
O Governo português precisamente no 25º aniversário do 25 de Abril, que nos
trouxe a paz envolveu Portugal numa guerra, sem autorização da Assembleia da
República, à margem do direito internacional comprometendo o País num acto agressivo
de consequências incalculáveis, para a paz na região e no mundo, o que é intolerável
e inaceitável.
Ao fazê-lo comprometeu Portugal no enfraquecimento e desprestígio da ONU que
não foi ouvida nem achada, comprometeu o País na regressão do direito internacional
e deu o seu apoio na prática, à radical alteração dos objectivos e fins proclamados
pela NATO, o que constitui um gravíssimo precedente.
Sem dar quaisquer explicações ao País envolveu Portugal na agressão a um País
soberano, que agravou todos os problemas que dizia querer estancar ou evitar,
nomeadamente os dramas e massacres no Kosovo e o êxodo dos albaneses que estão
a ser usados como carne para canhão.
Comprometeu Portugal com os enormes sofrimentos, as destruições e as mortes
que se estão a verificar na Jugoslávia e comprometeu o País numa "derrota da
humanidade" e numa "derrota da Europa".
O Governo português ao alinhar subservientemente - e o facto de pertencer à
NATO a nada o obrigava - na agressão a um Estado soberano, deu também o seu
apoio à política hipócrita de dois pesos e duas medidas, pois sabe bem que aqueles
que pretextam o combate aos massacres e a defesa dos albaneses no Kosovo, são
os mesmos que apoiam a brutal repressão dos curdos na Turquia e fazem letra
morta das resoluções da ONU sobre a questão da Palestina e sobre Timor, precisamente
quando assistimos aos massacres de Liquiçá.
Portugal só se prestigiaria se em vez de tomar uma posição seguidista e subserviente,
em relação aos Estados Unidos retirasse de imediato as suas forças militares
desta operação agressiva e defendesse no seio da NATO, da União Europeia e da
ONU o fim dos bombardeamentos e busca de uma solução política que assegure a
autonomia e o regresso pacífico dos albaneses ao Kosovo com o respeito pela
soberania e integridade territorial da Jugoslávia e o respeito pelos direitos
das minorias nacionais.
Mas quem desprestigia a ONU perde autoridade e dificulta a exigência da intervenção
dos capacetes azuis.
Portugal só se prestigiaria e daria um importante contributo para a Paz se o
Governo respondesse positivamente ao apelo que aqui lhe foi feito pelos Vice-Presidentes
desta Assembleia.
O PCP opõe-se firmemente à engrenagem da guerra e da destruição, à hipocrisia
dos que fazem dos direitos do homem um instrumento de geometria variável, dos
que gostam de fazer a guerra com o sangue dos outros e reclama o fim do envolvimento
de Portugal nesta guerra que à medida que o tempo passa não só agrava os problemas
que dizia querer resolver, como aumenta as fracturas religiosas e culturais
e os perigos do alargamento do conflito em pleno coração da Europa.