Intervenção do Deputado
João Amaral
Voto de protesto pelos bombardeamentos
realizados pela aviação dos Estados Unidos
e do Reino Unido contra o Iraque
1 de Março de 2001
Sr. Presidente,
Srs. Deputados
O voto que o Grupo Parlamentar do Partido Comunista propõe à Assembleia
tem o claro sentido de, no contexto das operações realizadas pelos
Estados Unidos e pelo Reino Unido de bombardeamento das cercanias de Bagdad,
levantar, como questão determinante para uma Assembleia política
como é esta, a questão da defesa do direito internacional e da
legitimidade destas acções à luz do direito internacional
vigente.
Não tenho qualquer dúvida em afirmar aos Srs. Deputados, por mais
atentos ou desatentos que estejam, que estas acções não
têm cobertura em qualquer resolução específica das
Nações Unidas. É falso, é absolutamente falso, que
haja qualquer resolução das Nações Unidas que tenha
estabelecido as zonas de interdição aérea e que tenha permitido
aos Estados Unidos e ao Reino Unido procederem a estes bombardeamentos.
Aliás, esta posição foi assumida pela generalidade da comunidade
internacional, por toda a comunidade internacional que é capaz, com mais
ou menos dificuldade, de enfrentar as posições que os Estados
Unidos, unilateralmente, assumem na cena internacional e de dizer de frente
aquilo que é preciso dizer acerca de situações como esta.
E cito, para não falar de mais ninguém, o Ministro dos Negócios
Estrangeiros francês, que disse a uma cadeia de televisão o seguinte,
citado pelo jornal Le Monde: «Nós consideramos, há muito
tempo, que não há base, em termos de legalidade internacional,
para este tipo de bombardeamentos». E acrescenta: «Estas acções
não foram praticamente aprovadas por ninguém. Que eu saiba, foram
aprovadas pelo Canadá e pela Polónia». E comenta Védrine:
«Eu não sei bem porquê!». Todos os outros manifestaram
a sua reprovação, a sua crítica, interrogações
ou um mal estar, porque não têm, não conhecem, não
sabem, nem aceitam o sentido destas acções.
O que o Partido Comunista Português propõe aos outros partidos
nesta Assembleia é um acto de demarcação deste tipo de
violações do direito internacional e um acto de defesa da legalidade
num mundo que, de outra forma, se vai tornando crescentemente perigoso.
O que vos pedimos aqui, Sr. Presidente, é que se defenda nesta Assembleia
a legalidade internacional.
(...)
Sr. Presidente, uso da palavra para solicitar à Mesa que sejam anexadas
à acta as intervenções dos Srs. Deputados do Parlamento
Europeu, nomeadamente do Sr. Eurodeputado Mário Soares, que condenou
este ataque. Ainda o Sr. Deputado Carlos Encarnação andava de
chupeta e já ele defendia a construção europeia!