Declaração de voto sobre o projecto
de lei que altera o Decreto-lei nº 166/93, de 7 de Maio, que estabelece
o regime de renda apoiada
Intervenção de Honório Novo
26 de Março de 2004
O voto do PSD e do CDS/PP contra o Projecto de Lei do PCP (382/IX), que visava alterar o regime da renda apoiada e criar critérios socialmente mais justos para a fixação dos valores das rendas dos prédios de habitação social no País não surpreende.
De facto, o Governo e a maioria parlamentar que o suporta estão mais interessados em alterar o Regime Privado de Arrendamento Urbano, ou em promover a recuperação privada de centros históricos, do que em encarar de frente os problemas do arrendamento de milhares de fogos de habitação social sob gestão do Poder Local e da Administração Central.
Neste aspecto sabe-se que:
1. São muitos milhares os fogos de arrendamento apoiado em todo o país, dos quais 25.000 estão em Lisboa e cerca de 15.000 no Porto e que, no fundamental, constituem a residência de milhares de famílias com baixos recursos económicos;
2. E conhecendo que são poucos os municípios que utilizam os critérios de fixação das rendas sociais estabelecidas pela actual lei, os quais se revelaram completamente inadequados, conduzindo, a maior parte das vezes, a valores incomportáveis para as débeis capacidades financeiras das famílias que residem no parque habitacional social público;
3. A inutilidade do actual regime levou a que cada vez mais se criassem, local a local, município a município, regimes diferenciados, socialmente mais favoráveis;
4. Sem prejuízo da bondade destas opções, que sempre foram aliás apoiadas pelo PCP, esta diferenciação originou também muitas injustiças relativas, de município para município vizinho, muitas vezes no próprio Concelho, até no mesmo prédio, com pessoas de rendimentos semelhantes a pagarem rendas bem diferentes, algumas das quais pouco têm de social;
5. Hoje há já muitos municípios em todo o País que utilizam critérios muito semelhantes – quando não iguais – àqueles que o PCP procurou, com o seu Projecto, introduzir na Lei para a fixação das rendas;
Face a tudo isto mandava o bom senso que se alterasse um Decreto-lei que (quase)
ninguém cumpre.
Face à situação real importava criar um novo enquadramento legal para fixação das rendas que afastasse de vez os regimes de 1945 (do regime fascista) e de 1983 e que, lançasse as bases para alguma harmonização a observar quer pela Administração Central quer pela Administração Local na fixação das rendas de natureza social.
Perante as soluções concretas propostas pelo PCP (considerar o rendimento líquido em vez do ilíquido, excluir rendimentos não permanentes, excluir rendimentos de jovens, alargar deduções, considerar valores parciais de pensões inferiores a dois salários mínimos e limitar a 15% a taxa de esforço de agregados com rendimentos também inferiores a dois salários mínimos) era esperável que a “consciência social” que o PSD/CDS anuncia para a 2ª parte da actual legislatura aceitasse no mínimo o debate na especialidade.
Afinal prova-se que perante propostas concretas e sustentadas (porque já ensaiadas e experimentas em algumas autarquias) com objectivos precisos de apoiar as populações mais necessitadas, o PPD/CDS só tem uma resposta: a rejeição.
Mas o que mais espanta é que o Partido Socialista também tenha votado contra o Projecto do PCP!
Nem o benefício da dúvida concedeu o PS aos novos critérios para a fixação de rendas sociais apresentadas pelo PCP.
Nem a discussão em especialidade, e a possibilidade de introduzir alterações e melhorias (até aquelas que foram sugeridas pela Associação Nacional de Municípios) o PS permitiu.
Lamentável que este Partido tenha neste debate sustentado teses absolutamente inqualificáveis do ponto de vista social, como seja a defesa de que as receitas das rendas têm que ter valores capazes de permitir ao Estado ou/e ao Poder Local fazer frente aos custos com o parque habitacional social…
Com o voto da Direita e do PS contra este Projecto do PCP, ficou demonstrado, quanto declarações recorrentes quer do PSD, quer do CDS/PP, quer também do PS, em aparente defesa de regimes de fixação de rendas sociais reduzidas servem apenas ambições de poder localizadas e não são sustentadas em propostas concretas de defesa dos interesses dos moradores dos bairros sociais mais desfavorecidos.
O voto do PSD, do CDS e do PS contra o Projecto do PCP que pretendia a criação de critérios sociais mais justas para a fixação das rendas nos bairros sociais mostra bem quando aqueles partidos pretendem continuar a enganar moradores e munícipes dizendo defender uma coisa e depois votando contra