Reforma dos Impostos sobre o Rendimento
Intervenção de Octávio Teixeira na Assembleia da República
7 de Janeiro de 2000

 

Sobre o diagnóstico da situação a que chegou o sistema fiscal português nada mais é possível dizer do que aquilo que de há muito é publicamente conhecido: a repartição da carga fiscal é profundamente iníqua, penalizando os rendimentos do trabalho dependente e privilegiando os rendimentos de capital. A carga fiscal é excessiva e injusta para os contribuintes cumpridores, os rendimentos de capital vivem num paraíso fiscal, a evasão e os benefícios fiscais atingem proporções insustentáveis.

Mas não só o diagnóstico é conhecido. Também o são as soluções.

Nos últimos quatro anos foram elaborados 49 estudos e relatórios oficiais sobre a reforma fiscal, dos quais apenas 2 estão ainda pendentes de finalização e 37 foram já publicados. Com uma característica comum: na sua generalidade, esses estudos e relatórios convergem nas soluções com as propostas no primeiro de todos eles, o chamado “relatório Silva Lopes”.

Face a esta situação, e sendo certo que, no discurso, é unânime a opinião da necessidade e urgência da reforma fiscal, seria razoavelmente de esperar que o actual Governo a concretizasse rapidamente, atribuindo-lhe primeira prioridade.

Não é isso, porém, o que se está a verificar.

Logo no debate do programa do Governo, o Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças deixaram cair, quiseram enterrar, a perspectiva da reforma dos impostos sobre o património.

Mais recentemente, o Ministro das Finanças anunciou na Assembleia da República que o Governo assumia como espinha dorsal da reforma fiscal o “relatório Silva Lopes”. Face à convergência das soluções propostas nos restantes estudos, seria legítimo deduzir que o Governo iria avançar rapidamente com a reforma fiscal.

Mas não. Mais uma vez, o Governo optou por continuar a protelar. Ainda e de novo, com o pretexto de mais estudos.

Em vez do anúncio da apresentação no imediato de propostas de lei de concretização da reforma, o que o Governo nos anunciou foi a criação de mais uma Comissão, desta vez para fazer a “síntese das sínteses” dos estudos e relatórios. De relatório em relatório, de síntese em síntese, o resultado final é sempre o mesmo: concretização da reforma fiscal igual a ZERO.

O PCP não aceita nem dá cobertura a esta irresponsável passividade do Governo.

Por nós, dizemos basta!

Por isso apresentámos hoje na Mesa da Assembleia da República um Projecto de Lei de “Reforma dos Impostos sobre o Rendimento”.

Um projecto de lei que, a aceitarmos como boas as declarações do Ministro das Finanças, tem um conteúdo que será necessariamente apoiado pelo Governo e, logo, pelo Grupo Parlamentar do PS. E isto porque o nosso projecto de lei segue de perto as propostas do “relatório Silva Lopes” e o do “relatório Rogério Ferreira” que, neste âmbito, o desenvolveu.

O que agora estará expressa e claramente em questão, é apenas uma coisa: tem ou não tem o Governo efectiva vontade política de concretizar a reforma fiscal?

É esta a questão com que o Governo e o Grupo Parlamentar do PS passam a estar confrontados com a apresentação deste Projecto de Lei do PCP.

Neste Projecto de Lei privilegiamos o alargamento das bases de tributação, a opção por uma política de restrição dos benefícios fiscais (bases indispensáveis para promover uma moderação das taxas dos impostos a curto prazo) e o combate à fraude e à evasão fiscais.

Do conjunto de propostas constantes do presente Projecto de Lei, destacamos:

1 - No plano da luta contra a fraude e a evasão fiscais:

2 - No plano do alargamento da base tributária e de uma mais justa repartição da carga fiscal:

Em suma, com a apresentação deste Projecto de Lei, o PCP visa contribuir activamente para a reforma fiscal de que o país necessita e a justiça social impõe e forçar que essa reforma se concretize a curto prazo.