XIV BIENAL DA FESTA DO “AVANTE!” TEMPO MAU PARA LIRISMOS Eu bem sei: só o feliz A árvore aleijada no pátio Os barcos verdes e as velas alegres do Sund Na minha mão uma rima Dentro de mim lutam Bertolt Brecht
Tal como acontece com o projecto geral da Festa, o seu programa e o desenho da sua arquitectura, é essencial que cada edição da Bienal seja irrepetível, não apenas nos trabalhos e artistas que apresenta, mas também pelo projecto específico, original, que a enforma. É importante para a Festa do Avante, para os que a visitam e para os artistas que aí apresentam o seu trabalho que a Bienal represente uma reflexão multifacetada, e controversa e empenhada sobre o mundo e a arte nele. Para a edição deste ano, a organização da
XIV Bienal da Festa do Avante! apresentou aos artistas plásticos
uma proposta de reflexão inspirada no poema «Tempo mau para
lirismos», de Bertolt Brecht. Trata-se de um belíssimo manifesto,
onde o poeta expõe a luta interior entre o desejo de felicidade
e de beleza, e a urgência da luta política contra o horror. Mas, acima de tudo, o que é marca distintiva deste evento é o seu público, oriundo de todas as regiões do país, de todos os estratos sociais, de ambientes culturais muito heterógeneos, que, em festa, de forma despreocupada mas atenta, percorre os espaços da Bienal da Festa do Avante. Como sempre tem acontecido, e por responsabilidade perante este público único, temos procurado garantir a qualidade renovada do nosso projecto. Sem nunca esquecer aqueles que são seus traços essenciais: a Festa, a sua gente e o projecto político de emancipação, de liberdade e solidariedade que os envolvem. No domingo, quando a Festa chegar ao fim, haverá sempre momentos, sabores, mensagens e imagens que ficam para recordar esse ano e dar ânimo e alegria à luta dos dias que virão. A Bienal faz parte desse rosto da Festa.
Álvaro Cunhal, pintor e desenhador Junto à XIV Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante! será ainda instalada uma zona dedicada à obra de Álvaro Cunhal como pintor e desenhador, e como pensador de questões relativas à estética e ao papel da arte e do artista na sociedade. Serão expostas pela primeira vez, publicamente, duas pinturas da sua autoria, acompanhadas de uma projecção de reproduções das duas séries de desenhos executados na prisão, e de outras pinturas. O catálogo da Bienal e um painel junto a estas obras reproduzem trechos da intervenção proferida por Álvaro Cunhal no encerramento da 1.ª Assembleia de Artes e Letras da ORL, em 1978, importante testemunho não apenas na sua concepção acerca do papel que a criação artística pode desempenhar no processo de transformação social, mas também na orientação do Partido no sentido de reconhecer que uma opção progressista e revolucionária por parte dos criadores não só não deve implicar a adopção de um determinado estilo, escola ou modelo estético, como requer a maior amplitude de linguagens e a maior liberdade para os artistas. Neste espaço, poderá ainda ver, durante todo o dia, o projecto Extramuros, um espaço-cena, com componentes de arquitectura, vídeo, teatro e pensamento, com possibilidade de interacção quotidiana com os visitantes da Festa. Haverá também um labirinto, de oito por oito metros, com projecção audiovisual, projectado por Pedro Penilo, com a colaboração de Manuel Gusmão e Fernando Guerreiro, e quatro desenhos, acompanhados de excertos de entrevistas, subordinado ao tema «O Aborto», por Catarina Leitão. |