Comício de abertura da 27ª Festa do «Avante!» 2003
Intervenção de Carlos Carvalhas, Secretário-geral do PCP
5 de Setembro de 2003

 

A Festa está aberta, viva a Festa do «Avante!» Viva a Festa do Povo e da Juventude, a Festa da esperança, da alegria, da fraternidade!

Surpreendendo os que não conhecem a força das convicções, dos valores e de um projecto de transformação social, surpreendendo os que não conhecem a capacidade de realização, de criação, de dedicação que sustentam as causas mais generosas, operários especializados, intelectuais, jovens e mais idosos, ao longo de várias semanas deram mais uma vez milhares de horas voluntárias tornando possível erguer esta festa que não o poderia ser de outra forma.

É um trabalho militante de grande significado político e ético que não tem preço e que só é possível num partido cuja única razão de existir é servir os trabalhadores, o povo e o país.

Permitam-me por isso um agradecimento muito especial ao militante anónimo que aqui dá por bem empregue as suas horas de labor, que com grande consciência política e cívica dá desta maneira uma inestimável contribuição ao seu partido e à luta do nosso povo. É particularmente tocante visitar a Atalaia nos fins de semana que precedem a Festa, ver a entreajuda, a camaradagem, o convívio de famílias inteiras, o colorido da juventude num formigueiro de trabalho e de tarefas que no seu conjunto erguem a maior e mais bela festa político-partidária deste país.

Permitam-me também uma saudação muito particular à JCP, ao seu trabalho, à sua generosidade e ao esforço para mobilizar para a construção da festa jovens sem partido que depois aqui se sentem como se estivessem em sua casa. Para todos os construtores da festa, para os democratas que não pertencem ao PCP aqui vêm dar a sua ajuda, uma grande salva de palmas.

E é neste clima de Festa, de alegria, de construção, de arte e cultura, de gastronomia e mostra do país inteiro que sem preconceitos se podem ver as raízes populares deste partido e a adesão crescente da juventude.

Esta nossa festa, de convívio, alegria e confraternização, é também um espaço de reflexão, de intervenção e de luta, face a um governo que desencadeou uma ofensiva sem precedentes contra valores e conquistas de Abril, a um governo ao serviço da oligarquia e da concentração e centralização de capitais.

Se tivéssemos de classificar este governo em três palavras escolheríamos: hipocrisia, o reaccionarismo, o retrocesso.

A hipocrisia, que se manifesta, por exemplo, nas promessas não cumpridas, nas falinhas beatas sobre o país que trabalha e sofre e que depois é castigado com as medidas e as opções políticas, ou na substituição dos direitos pela «caridadezinha e o seu assistencialismo».

Reaccionarismo nas suas concepções sobre os valores e os direitos sociais, sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, sobre as concepções «tatcherianas» sobre os sindicatos, comissões de trabalhadores, direito à greve, direitos laborais, Serviço Nacional de Saúde, ensino público, tudo na óptica de quem quiser saúde e ensino que os pague, ou no seu seguidismo em relação às teses desses «grandes democratas» como Bush Junior, Aznar e Berlusconni.

De retrocesso porque, com a sua política neoliberal de concentração de riqueza e de submisso cumprimento dos ditames de Bruxelas e do Pacto de Estabilidade, afundou o país na recessão e no desemprego, liquida o aparelho produtivo nacional, entrega alavancas fundamentais da economia ao estrangeiro comprometendo o presente e o futuro do país e a sua soberania, afastando cada vez mais dos indicadores médios de desenvolvimento da União Europeia.

O país podia não ter entrado em recessão e à muito que já devia e podia estar em recuperação. A profundidade e a dimensão da crise são da responsabilidades deste governo. Há um ano nesta abertura da Festa do «Avante!» afirmámos: «o Governo quer passar a factura de uma política errada e injusta aos mesmos de sempre... e tudo isto com doses maciças de demagogia, de palavras doces para encobrir uma política retrógrada e socialmente injusta. Uma política que no plano económico vai agravar as dificuldades do país e acentuar os factores recessivos com graves repercussões no aparelho produtivo e mesmo no domínio do capital estrangeiro».

Um ano depois os factos aí estão, infelizmente para o país e para os portugueses, a dar-nos razão.

E hoje o que é que o nosso primeiro-ministro tem para oferecer ao país? Para além das habituais promessas da «retoma» e da «luz ao fundo do túnel», sucessivamente prometidas e adiadas, o que este governo tem para oferecer ao país é mais desemprego, mais dificuldades para quem apenas vive do seu trabalho, mais benesses para o grande capital, e mais degradação dos serviços públicos e das infra-estruturas básicas sociais e económicas, mais dependência, subcontratação e submissão da economia portuguesa, mais atraso em relação ao desenvolvimento da União Europeia.

E como não pode mostrar resultados no presente, promete a modernização do país para 2010.

Temos um governo de retrocesso social e económico, um governo que foge a assumir as suas responsabilidades nas mais diversas esferas da vida nacional, como se verificou, por exemplo, com a dimensão trágica dos incêndios, com as mortes provocadas pela vaga de calor, com a recessão ou com a postura de vassalagem ao império na guerra do Iraque, e as suas mentiras sobre as armas de destruição maciça. Continuaremos a exigir do primeiro-ministro as provas e as explicações sobre as suas afirmações peremptórias de que o Iraque detinha tais armas.

Nós daqui da Festa do «Avante!» queremos manifestar a todos que foram atingidos pela tragédia dos incêndios a nossa solidariedade, e queremos afirmar aos trabalhadores e ao povo que tudo faremos para que Portugal venha a ter uma nova política ao serviço dos trabalhadores e do povo.

Este combate exige a mobilização, a unidade na acção e a convergência das diversas forças políticas, sindicais e sociais. Pela nossa parte, é nesse sentido que caminharemos e interviremos.

Este é o Partido que não se cala perante as injustiças, que não se refugia nas ambiguidades face à política de concentração da riqueza e de ofensiva contra quem vive do seu trabalho, que não se limita à crítica e ao discurso, mas o Partido que apresenta propostas e medidas mostrando que há alternativa, que há outros caminhos que não os do retrocesso. O Partido de propostas e de protesto, que não se fica pela intervenção nas instituições, mas que luta no terreno, com os trabalhadores, com as populações, com o povo, e que com o povo está nesta magnífica Festa do «Avante!», sempre renovada e sempre invejada por outras forças, sempre fraterna, aberta e acolhedora para quem nos visita. Esta é também a grande festa da juventude, que queremos saudar por intermédio da JCP, na sua luta, valores e projecto.

Que sejam três dias de fraternidade, alegria, de debate e de retoma de energias para os exigentes combates que temos pela frente.