Formação de professores - uma questão que necessita de
ser tratada com seriedade
Nota da Comissão Coordenadora da Área da Educação,
Ciência e Tecnologia do PCP
15 de Julho de 1998
A Comissão Coordenadora da Área da Educação, Ciência e Tecnologia do PCP vem
observando com preocupação os mais recentes acontecimentos relativos à formação
inicial e ao complemento de formação dos professores da educação pré-escolar
e dos ensino básico e secundário.
Aprovadas nesta matéria, há cerca de um ano, alterações significativas à Lei
de Bases do Sistema Educativo, nenhum diploma legal regulamentador dos perfis
de competências e dos novos cursos - todos de nível de licenciatura - está ainda
publicado.
Também ainda não está criado o quadro jurídico que regule o modo como os professores
actuais que sejam bacharéis poderão - caso o desejem - prosseguir a sua formação
e vir a obter o grau de licenciado.
Recorde-se que as alterações introduzidas na Lei de Bases se revestiram de grande
polémica: o PCP, ao mesmo tempo que apoiou e saudou a passagem para o nível
de licenciatura das formações de professores para todos os graus de ensino,
bateu-se para que essa elevação do grau académico correspondesse efectivamente
a uma melhoria da qualidade da formação e para que as instituições de ensino
superior tanto universitário como politécnico que viessem a produzir essas formações
devessem possuir recursos, nomeadamente em docentes devidamente qualificados,
para que, por exemplo, a atribuição da faculdade de formar os futuros professores
do 3º ciclo, concebida agora também no ensino politécnico, não se traduzisse
em efeitos indesejáveis. E a somar a tudo isto, o papel sempre crescente de
um ensino superior particular fracamente ou nada fiscalizado pelo Estado, cuja
produção todos os anos lança no circuito do ensino milhares de novos professores
que o próprio Estado aceita recrutar tem sido e continua a ser motivo de apreensão
- nomeadamente por falta de regras que a todos obriguem.
Recentemente e apesar de toda a indefinição jurídica, o Ministério da Educação,
através do Departamento do Ensino Superior, urgiu as Universidades a indicarem,
em oito dias, os números de professores que previam que no próximo ano lectivo
já poderiam iniciar cursos de complemento de formação. Na situação descrita,
sem se saber o que devem ser os cursos e em que domínios são necessários, parece
tratar-se de brincadeira. Ou talvez não o seja: talvez seja apenas uma forma
obtusa de afastar as Universidades públicas do seu papel tradicionalmente importante
na formação de professores, para a entregar a outros. É evidente que decorrentes
da ausência de medidas decididas nesta fase pelo Ministério da Educação ou de
medidas desajustadas, os impactos negativos desta situação não se farão esperar
sobre os professores - algumas dezenas de milhar - e sobre a vida das escolas
dos ensino básico e secundário e da educação pré-escolar.
Por isso se reclama:
1. Definição de regras claras por parte do Ministério da Educação em relação
aos níveis de exigência no que toca à formação de professores, visando a melhoria
de qualidade da mesma.
2. Reconhecimento do papel do Ensino Superior Público no que se refere à formação
de professores com respeito pela autonomia dos estabelecimentos de ensino, o
que exige a abertura de vias de negociação efectivas.
3. Intervenção real das organizações sindicais docentes, através da negociação
de toda essa problemática, seja no sentido de ser defendida a qualidade das
futuras formações iniciais seja no sentido de serem defendidos os direitos e
aspirações de todos os professores já em exercício.