Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Na véspera do novo milénio, Portugal continua a ter a mais elevada taxa de analfabetos
da União Europeia e uma das mais elevadas do mundo.
E não se vislumbram políticas que considerem a educação como prioridade para
o desenvolvimento do país.
É exemplo disto mesmo, a actual situação vivida no ensino Superior, quer público
quer privado e que tem constituído objecto de notícia diária desde o inicio
deste ano lectivo e desde a constituição do governo do partido socialista.
Alunos e professores têm vindo a chamar a atenção do governo, do parlamento
e do país para a grave crise que as diferentes academias de Norte a Sul do país
enfrentam.
Associações de estudantes, Federações e Sindicatos de professores, Conselho
de Reitores são unânimes em considerar que a ausência de medidas de financiamento
e a desresponsabilização do estado estão a pôr em risco o Ensino Superior em
Portugal.
Desde o dia em foram divulgadas as medidas educativas para a actual legislatura
e até hoje, sucedem-se as tomadas de posição de toda a comunidade educativa.
É cada dia mais difícil, encontrar uma faculdade ou instituto que não tenha
feito ouvir a sua voz preocupada perante a inoperância e a ineficácia do governo
do partido socialista.
Os estudantes do Instituto Politécnico da Guarda exigiram, durante dois meses
o início do ano lectivo.
Denunciaram a ausência de funcionamento democrático dos órgãos de gestão da
escola, a longa série de ilegalidades e prepotências de alguns professores.
Acusaram um professor licenciado de usurpar o título de agregado às universidades
portuguesas.
Os estudantes dos diferentes Institutos Sociais do país, um de Beja, dois do
Porto, dois de Coimbra e dois de Lisboa denunciaram que a opção por uma licenciatura
de Serviço Social obriga à frequência do Ensino Particular e Cooperativo, com
o pagamento de propinas elevadíssimas, porque não existem alternativas no Ensino
Superior Público.
No entanto o Estado é o principal empregador destes jovens licenciados, prova
clara da sua necessária formação.
A acção social escolar é praticamente inexistente quer no público, quer no privado.
Bolsas de estudo, residências universitárias, cantinas, assistência médica,
bibliotecas actualizadas, apoios em material escolar constituem cada vez mais
excepções no sector público e primam pela ausência no sector privado.
Muitos destes alunos dos Institutos Sociais e outros, apesar de cumprirem os
requisitos impostos pela lei da Acção Social Escolar, não são contemplados por
falta de verbas.
Mas, agravando ainda mais a situação destes jovens, o seu plano de estudos prevê
um estágio curricular de dois anos e por isso são recrutados para satisfazer
necessidades permanentes dos serviços público e privado, continuando a pagar
à escola privada as propinas, ao mesmo tempo que passam a suportar os custos
de transporte e alimentação como se fossem trabalhadores e não estudante estagiários.
Os estudantes da Faculdade de Ciências Sociais Humanas de Lisboa acusaram o
governo de subfinanciar a escola e de ignorar a situação deficitária em infra-estruturas,
acção social escolar e corpo docente.
Dizem os alunos que, ao pretender-se a redução dos gastos da faculdade com a
contratação de professores, algumas cadeiras, núcleos de estágio, seminários
de mestrado em diversas licenciaturas ficaram sem funcionar.
E, posteriormente, para colmatar as necessidades, passou-se a pagar aos professores
à conferência, não tendo estes docentes qualquer vínculo à faculdade.
A carga horária de algumas disciplinas transformou-se em conferências.
Entretanto, e porque dinheiro não há, o Conselho Directivo propôs uma reforma
curricular e científica dos vários cursos que reduz o corpo docente, a carga
horária dos alunos, o número de cadeiras e as variantes de opção.
Esta semana, no decurso de uma audição com a Associação de Estudantes da Faculdade
de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, proposta pelo Grupo Parlamentar
do PCP, quando da discussão de uma Petição desta Associação de Estudantes, ficamos
a saber que, a insustentável e antidemocrática situação vivida no seio desta
escola pública quer do ponto de vista da gestão cientifica quer pedagógica,
continua a agravar-se, apesar das denúncias feitas pelos estudantes nos últimos
três anos.
Ocorrem atropelos à legalidade, agressões físicas, ameaças de morte, promessas
de reprovação em provas académicas, etc. etc.....
O medo está instalado.
Alunos há a quem é recusada a matrícula
Alunos há que há quatro anos são impedidos de fazer qualquer cadeira.
Alguns, como foi dito, irão para o estrangeiro com o objectivo de poder terminar
o curso que o país lhe recusa.
Se o aluno é trabalhador estudante ou dirigente associativo está condenado.
Os instrumentos legislativos que regulam estes estudantes estão no índex, a
escola desconhece-os e recusa as matrículas destes alunos, como já o fez este
ano, incluindo, nestes procedimentos uma jovem francesa a estudar na escola,
ao abrigo de um programa Europeu.
Este ano também, a escola diminuíu em cerca de 3 centenas o número de alunos
que, segundo a informação que foi dada, se matricularam numa faculdade privada,
onde encontraram muitos dos professores da escola pública de arquitectura, à
procura do reconhecimento de cursos que a faculdade de arquitectura ministra
mas a ordem dos arquitectos não reconhece.
Recentemente também, o Sindicato dos Professores da Região Centro chamava a
atenção para a abertura de mais uma universidade privada - a Universidade Vasco
da Gama, cujos promotores já haviam viabilizado 800 pré-inscrições, criando
expectativas aos jovens que se inscreveram, sem que existisse autorização para
avançar com o projecto.
Entretanto, os critérios de selecção permitiram práticas de exclusão e de segregação,
pondo em causa direitos fundamentais consagrados na Constituição da República
Portuguesa.
Alunos com dificuldades de aprendizagem, com problemas comportamentais, com
antecedentes policiais e de droga não poderiam candidatar-se.
Recentemente também, o Conselho de Reitores veio a público denunciar aquilo
que considerou ser o estado de degradação para que se caminha no Ensino Superior,
acusando o governo de desrespeito e quebra de compromissos.
O actual Presidente do Conselho de Reitores receia que estejamos perante um
grave retrocesso no financiamento das instituições e considera que não se vislumbram
mudanças nas propostas do actual executivo que o distingam do anterior.
Mas não é só a política de financiamento que preocupa o Conselho de Reitores,
também o decreto-lei aprovada em Conselho de Ministros e vetado pelo Senhor
Presidente da República, que pretendia dar mais autonomia às universidades privadas,
permitindo que estas criassem cursos sem autorização do governo, a ser concretizada,
era uma medida que desrespeitava compromissos assumidos com o Conselho de Reitores.
Lamenta ainda o Conselho de Reitores que nenhuma das prioridades traçadas pelo
governo do partido socialista em Janeiro de 1999 relativamente ao financiamento,
tivesse tido consequências, o que levou a que, hoje, o ensino superior esteja
mais degradado.
Também o constitucionalista Jorge Miranda denunciou há dias em Faro a existência
de um grave défice de gestão democrática nas instituições de ensino superior
privado, afirmando que a participação de professores e alunos na gestão destas
escolas é deficiente e atenta contra a Constituição.
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Estamos perante um grande consenso, relativamente à grave situação vivida neste
subsistema de ensino, consenso de que se auto-exclui o governo do partido socialista.
Um governo e uma tutela que continuam a avaliar o sistema educativo e os diferentes
subsistemas que o integram, numa lógica exclusivamente economicista, como se
as escolas fossem hipermercados em permanente fim de época e só disponíveis
para a prática dos saldos.
O governo tem vindo a ignorar os problemas estruturais e tem vindo a apostar
em medidas de imposição neoliberais que têm conduzido à condenação das instituições
e à exclusão dos alunos.
E perante o avolumar das dificuldades, o governo descobre como terapia única
a substituição do financiamento do estado às instituições pelas propinas, impostas
aos alunos, defraudando escolas e estudantes.
O acréscimo de financiamento que deveria decorrer das propinas, verbas próprias
das faculdades, dizia o governo, e destinadas à melhoria da qualidade de ensino
prestado, transformou-se em instrumento de redução da responsabilidade financeira
do estado.
E perante o sub-financiamento, roubadas as instituições, o país tem vindo a
saber que:
não há salas de aulaque respondam às necessidades dos jovens estudantes, às necessidades do país, mesmo quando, unanimemente, se reconhece quer há falta de médicos, que há falta de enfermeiros, que há falta de quadros técnicos qualificados. Mas para o governo do partido socialista o filme é outro.
não há bibliotecas
não há laboratórios
não há professores
não há funcionários
não há cantinas
não há residências
não há vagas
É urgente defender e aperfeiçoar a autonomia no quadro das orientações nacionais da política educativa democrática;Disse.
É urgente alargar a frequência, elevar a qualidade e garantir o financiamento sustentado do sistema público;
É urgente apoiar o aperfeiçoamento científico curricular e pedagógico;
É urgente prosseguir e generalizar os processos de avaliação e acompanhamento das instituições;
É urgente elevar a alargar significativamente a acção social escolar;
É urgente defender a qualidade do ensino e os direitos educativos dos alunos do ensino privado;
É urgente qualificar os recursos humanos;
É urgente dignificar e valorizar as carreiras docentes.