Petição n.º 28/VIII, qu exige a suspensão imediata da revisão
curricular do ensino secundário em curso e a eliminação do "numerus clausus"
Intervenção da Deputada Margarida Botelho
1 de Junho de 2001
Sr. Presidente,
Aproveito, desde já, para saudar o Dia Mundial da Criança, esperando
que esta seja uma data em que se comemore e se lute por constituir melhores
condições de vida para o crescimento das crianças.
Sr. Presidente,
Sr.as e Srs. Deputados,
O Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português não poderia
estar mais de acordo com o conteúdo da petição que hoje
discutimos. Já lhe demos inclusivamente resposta ao propor nesta Assembleia
no passado mês de Fevereiro a suspensão dos decretos-lei da reorganização
curricular do básico e da revisão curricular do secundário,
discussão na qual ficou bem claro o isolamento do Governo e do Partido
Socialista nesta matéria.
É de louvar a oportunidade e a responsabilidade políticas com
que os subscritores desta petição a entregaram: há mais
de um ano, antes da publicação dos decretos-lei, exigindo ser
ouvidos num processo mais ou menos clandestino que, enquanto estudantes do ensino
secundário, lhes diz directamente respeito, perfeitamente a tempo de
que o Governo inflectisse o percurso autista em que, à data, construía
a revisão curricular.
A resposta foi a teimosia numa reforma inaceitável que ninguém,
a não ser o PS, defende. Professores, educadores, pais e estudantes,
em perfeita sintonia, manifestam-se contra as reformas impostas. Merece destaque,
pela consequência e pela tenacidade, a luta dos estudantes do ensino secundário,
que envolveu já centenas de milhares de jovens em todo o país
e que tem nesta petição uma pequena parte da sua acção.
Sr. Presidente,
Sr.as e Srs. Deputados,
Como já tivemos por diversas ocasiões oportunidade de referir,
estas reformas correspondem a uma desresponsabilização da administração
central face às condições de financiamento, de equipamento
e de oferta curricular das escolas, desistindo do combate às desigualdades
sociais, caminhando no sentido da elitização do sistema ao questionar
uma verdadeira igualdade de oportunidades de acesso e sucesso educativos das
crianças e dos jovens. No fundo, e porque a brevidade da grelha não
permite elencar exaustivamente as muitas falhas destas reformas, o que o Governo
com elas faz é abrir descaradamente a porta a que existam escolas e estudantes
de primeira e de segunda.
Paralelamente, é o próprio Ministro da Educação
quem admite que faltam os currículos, a avaliação, os programas,
a organização e as condições materiais das escolas,
a maior qualidade e quantidade dos meios humanos, a informação
às escolas, aos estudantes e às famílias... Apetece pois
perguntar: porquê insistir numa reforma depois de um diagnóstico
destes?
O PCP considera que é necessária e é urgente uma intervenção
profunda nos ensinos básico e secundário, que envolva todos -
e sublinhamos todos - os agentes educativos.
A luta dos estudantes do ensino secundário é uma lição
de participação democrática, de reivindicação
de direitos, de defesa da educação pública, gratuita e
de qualidade para todos. O comportamento do Governo do PS, ao tratar a comunidade
educativa como adversários num braço de ferro sem fim, é
um bom exemplo do que é nesta área uma política de direita.
Disse.