Relatório Othmar Karas - sobre as consequências económicas dos ataques de 11 de Setembro
Declaração de Voto da deputada Ilda Figueiredo no PE
28 de Fevereiro de 2002

 

A entrada do ciclo económico, em 2001, em período recessivo, não foi só agravada pela quebra na procura mundial e pelas consequências sectoriais decorrentes dos atentados nos EUA, mas por uma política de aplicação estrita do Pacto de Estabilidade e uma obsessão pela convergência nominal.

Na prática, são esquecidas as questões que afectam a qualidade e o nível de vida da população, como o investimento produtivo, nomeadamente o investimento público, a manutenção de um crescimento salarial compatível e impulsionador da produtividade, as profundas desigualdades na distribuição de rendimentos, o elevado desemprego e pobreza. Objectivos prejudicados pela rigidez da política monetária, em que assenta o euro, e que criará, a prazo, dificuldades acrescidas ou um aumento não desejado da flexibilização noutras áreas, nomeadamente sobre os vínculos laborais e o trabalho.

Não é, por isso, de estranhar, que um relatório que devia ser sobretudo sobre as formas de apoiar os sectores directamente afectados pelos atentados de 11 de Setembro, acabe por ser um reafirmar do dogma vigente: o que é necessário é, em Barcelona, acelerar as liberalizações e as reformas do mercado de trabalho e cumprir, de uma forma cega, os objectivos traçados no Pacto de Estabilidade sem se ter em conta os problemas da fase do ciclo em que nos encontramos.

O relator levanta, contudo, duas questões positivas: o facto das empresas não deverem utilizar o 11 de Setembro como desculpa para reduzirem pessoal e a insistência junto ao Banco Central Europeu para reduzir a sua taxa de juro de referência. Contudo, face aos pressupostos iniciais, só podemos votar contra este relatório.