Imposto sobre os produtos petrolíferos
Intervenção do deputado Octávio Teixeira
31 de Março de 1999

 

Senhor Presidente
Senhores Deputados

As duas razões que justificam este projecto de resolução do PCP são simples, directas e claras:

1ª - em termos reais, os preços dos combustíveis líquidos em Portugal são os mais caros da União Europeia;

2ª - o facto de esses preços serem a cabeça do pelotão não resulta de o petróleo bruto ser mais caro para Portugal nem de os custos de refinação no nosso país serem mais elevados que nos resto do continente europeu; decorre, apenas e exclusivamente, do elevado peso dos impostos que sobre eles recaiem.

Por acréscimo, e essa é a questão básica colocada pelo nosso projecto de resolução, é que o imposto pago pelos portugueses tem vindo a aumentar sucessivamente, sem razões outras que não sejam engordar o Orçamento do Estado e impedir que a baixa de preços do petróleo bruto seja repercutida numa baixa dos preços de venda ao público dos combustíveis líquidos, em particular das gasolinas e do gasóleo rodoviário.

Os números não deixam margem para dúvidas: durante a governação do PS, entre Novembro de 1995 e Março de 1999, o preço da gasolina super com chumbo aumentou 12$00 por litro, sendo certo que os impostos correspondentes aumentaram 14$00; no mesmo período o preço por litro do gasóleo rodoviário aumentou 6$00, enquanto os impostos respectivos aumentaram mais de 8$00!

Isto é, o aumento dos preços dos combustíveis resulta exclusivamente do aumento dos impostos que, por acréscimo, ainda metem ao bolso a baixa dos preços de produção.

Isto é excessivo, é injusto, é demais.

Para além de ser politicamente incoerente com toda a postura do Governo, para quem, em todas as áreas incluindo a área dos direitos laborais, a filosofia básica é a de que o mercado todo poderoso é quem mais ordena. Pelos vistos, só nos combustíveis é que não é assim. Aqui, o Governo do PS entende ser ele, pela "via" da manipulação dos impostos, a fixar os preços de venda ao público. É uma originalidade por explicar, talvez caracterizadora da via dos socialistas portugueses alternativa à "terceira via" de Tony Blair.

De qualquer forma, não é uma "via" aceitável.

O que o PCP propõe é que os portugueses, pelo menos e no imediato, à semelhança do que sucede com os cidadãos dos restantes países europeus, beneficiem da baixa de preços do petróleo bruto no mercado internacional.

E desta baixa imediata de preços que propomos não resulta qualquer conflito com a receita orçamental prevista no Orçamento de Estado aprovado na Assembleia da República.

A esse propósito recordo o que o Governo escreveu no Relatório do Orçamento para 1999, acerca da previsão de receitas do Imposto sobre os produtos petrolíferos: "considera-se como pressuposto da previsão orçamental a manutenção, no essencial, da carga fiscal em cada um dos produtos sujeitos a este imposto".

Ora, a verdade é que o ISP médio cobrado em 1998 foi de 100$50 para a gasolina super e de 55$80 para o gasóleo rodoviário. Mas em Março de 1999 esses impostos são, respectivamente, de 105$90 e de 59$20.

Ou seja, sem perda da receita orçamentada, os preços de venda ao público da gasolina e do gasóleo podem baixar imediatamente cerca de 5$00 por litro.

ISTO É O MINIMO EXIGIVEL, e o PCP exige-o com a apresentação desta Resolução.

Mas, num prazo relativamente curto, pensamos que é necessário ir mais longe.

Por razões que têm a ver com a imensa fronteira terrestre do nosso país com a Espanha, e consequente desvio de comércio de combustíveis, e com questões de concorrência turística e de competitividade da generalidade das empresas portuguesas com as do país vizinho, impõe-se que a tributação dos combustíveis em Portugal não se afaste muito da carga fiscal praticada em Espanha. São razões de peso a que o Governo não pode ficar alheio. O Governo, nesta situação como noutras, não pode continuar a meter a cabeça na areia.

O projecto de Resolução do PCP é económica e socialmente justo, responsavelmente ponderado e orçamentalmente inquestionável. Não é populista nem demagógico. A seriedade do nosso projecto de resolução reclama a seriedade dos restantes Grupos Parlamentares, incluindo o do PS.

Por isso não consideramos outra hipótese que não seja o da sua aprovação.

Disse.