As intervenções dos lideres do PS e PSD no passado fim de semana obedecem ao objectivo de tentar a criação de "factos políticos" artificiais, de intenção meramente mediática, visando a subalternização dos problemas do País, da situação social, da revisão constitucional e esconder as responsabilidades do PS e PSD nessas e noutras matérias.
O PCP não transigirá com a tentativa do PS de desviar as atenções dos fracassos governativos, dos problemas dos trabalhadores e dos mais carecidos que a política do PS não resolve, das alianças com o PSD nos mais diversos campos e designadamente na revisão constitucional. Chama, em particular, a atenção para a aprovação da lei de revisão constitucional, que decorrerá em 3 de Setembro e para os novos acordos e «negociatas» entre o PS e o PSD nos próximos meses.
O PCP não transigirá igualmente com o facto de o PSD ter mostrado ao longo de dez anos que não tem soluções para os problemas de fundo do País e ter agravado profundamente as desigualdades e injustiças sociais e agora, afirmando "liderar a oposição", não ter soluções alternativas para os problemas e estabelecer constantes acordos com o PS nas matérias fundamentais.
A particular natureza das questões relativas à lei eleitoral e as graves calúnias do líder do PSD justificam, porém, uma tomada de posição do PCP sobre estas matérias.
O PCP previne, entretanto, para que, por muito que o PS e o PSD o tentem, não conseguirão arredar da agenda e da cena política as lutas e os problemas dos que trabalham, dos que menos têm, dos que sofrem, dos que precisam de solidariedade, protecção e auxílio.
Lei Eleitoral:
Duas perguntas ao Secretário-Geral do PS
O PCP considera ser extremamente reveladora da orientação e reais prioridades do PS a pressa que acaba de manifestar na alteração da Lei Eleitoral para a Assembleia da República, assim ultrapassando o PSD na rápida exploração das malfeitorias acordadas entre ambos na revisão constitucional, por sinal ainda não aprovada.
O PCP recorda que o PS - partido que tanto fala em transparência - conseguiu passar três anos (desde que em 1994 lançou a exigência da alteração das leis eleitorais) sem nunca explicar de forma pública, detalhada, concreta e responsabilizante que novo sistema eleitoral pretendia, assim ocultando os reais objectivos e alcance das alterações constitucionais que, nesta matéria, acabou por acordar com o PSD.
Em vez de, como fez no passado domingo, voltar a repetir pela enésima vez os mesmos sofismas e proclamações gerais que nada esclarecem e a ninguém tranquilizam, o Secretário-Geral do PS devia corresponder ao desafio do PCP para responder imediatamente a duas perguntas cruciais :
- 1ª pergunta: se o PS jura a toda a hora que o seu novo sistema eleitoral para a AR não afectará a proporcionalidade; se a Constituição em vigor já consagra a obrigatoriedade do respeito pela proporcionalidade; se, em consequência, qualquer projecto futuro do PS que respeitasse a proporcionalidade em principio não correria o risco de ser considerado inconstitucional,porque razão fez o PS tanta questão em alterar a norma constitucional vigente sobre a eleição da AR ?
- 2ª pergunta: o PS insiste constantemente no sofisma de que a criação de círculos de eleição de um único deputado é que garantirá a "aproximação" entre eleitores e eleitos e que, com eles, é que "cada eleitor fica a saber quem é o deputado que o representa". Quererá finalmente o Secretário-Geral do PS fazer o favor de explicar qual é a impressionante "aproximação" que se passaria a verificar entre o único deputado eleito e os eleitores (provavelmente a maioria dos eleitores desse círculo) que nele não tivessem votado e antes tivessem votado nos candidatos não eleitos de outros partidos?
O PCP chama a atenção para que, a não ser que o Secretário-Geral do PS perfilhe da concepção antidemocrática (para não lhe chamar coisa pior) de que o único deputado eleito representaria todos os eleitores incluindo os que votaram noutros candidatos e noutras forças políticas, a principal consequência da criação de círculos uninominais será a de que a maioria dos eleitores desses círculos ficará, quando muito, a saber quem não os representa e sentir-se-á roubada na representação a que tinha direito.
O PCP adverte ainda para que a definição geográfica dos círculos uninominais criaria o perigo evidente de manipulações e "arranjos" da conveniência do PS e do PSD. E sublinha que, independentemente do que se passasse quanto ao apuramento global dos mandatos parlamentares, a criação de círculos uninominais. induziria modificações do comportamento eleitoral dos cidadãos ditadas pela pressão do chamado "voto útil", agora psicologicamente avolumada pela ideia de que, naqueles círculos, só o vencedor pode ser eleito.
O PCP reafirma que dará um enérgico combate a todos os projectos de lei eleitoral que, de forma directa ou indirecta, atentem contra a proporcionalidade quer a nível global quer a nível de cada círculo e ofendam a representação pluralista e equitativa das diversas forças políticas no Parlamento, beneficiando uns e discriminando e prejudicando outras.
A regionalização
e a falta de escrúpulos do líder do PSD
O líder do PSD, dentro da sua conhecida ocupação de criar «novidades» políticas artificiais, dedicou-se no passado fim de semana a caluniar a regionalização, insultando as conclusões da Comissão de Poder Local em matéria de áreas regionais com epítetos como "escandalosa negociata política", e «vergonha nacional», afirmando que foi um acordo «feito à sucapa», etc..
O que o PCP de todo em todo recusa energicamente é que se pretenda justificar esta posição através de inverdades e calúnias. Com efeito, nas conclusões da Comissão de Poder Local da Assembleia da República apenas esteve presente uma posição de princípio, traduzida no respeito pelas posições manifestadas pelos municípios e no desejo de definir as áreas regionais a partir da posição destes, num processo de «baixo para cima» e devidamente participado.
Não se tratou de negociatas "à sucapa". Os trabalhos da Comissão de Poder Local assentaram num debate político, e em especial numa consulta feita aos municípios, muitos deles de maioria PSD, ouvidos em debate público cujos resultados estão editados em livro pela própria Assembleia da República. O que é intolerável é que o processo conducente à definição de áreas regionais tenha decorrido ao longo de quinze meses, com debates nas assembleias municipais do País e em muitas instâncias da mais diferente natureza e o líder do PSD se tenha mantido silencioso, sem intervir com a sua posição ou sem defender um qualquer modelo de regionalização.
"Negociatas políticas", essas sim, são as que o PSD e o PP estabelecem frequentemente com o PS, como aconteceu na revisão constitucional e vai continuar a acontecer em numerosas questões, desde a política comunitária, ao Orçamento de Estado, às leis eleitorais e muitas outras.
O PCP afirma que «vergonha nacional» é o líder do PSD se esquecer que está em vigor a Constituição e a Lei Quadro das Regiões Administrativas que foi aprovada por unanimidade em 1991. «Vergonha nacional» é também que o líder do PSD se faça esquecido de que a apresentação de uma proposta de lei de criação das regiões administrativas constitui um compromisso não cumprido do último Governo de Cavaco Silva, estampado na página 22 do Programa de Governo debatido na Assembleia da República em 11.11.91.
O PSD quer esconder que hoje já existe um amplo e poderoso aparelho regional que se imiscui constantemente no funcionamento dos municípios e tem um papel essencial na gestão de centenas de milhões de contos de verbas do Orçamento de Estado e dos fundos comunitários. É essa a burocracia que o PSD controlou e em nome da qual diz que não quer mais burocracia nem alargar a "classe política".
Para o PCP a regionalização não é uma nova burocracia, mas sim a possibilidade de democratizar a administração periférica e combater a burocracia existente, dando ao povo a liberdade de escolher titulares de cargos públicos que actualmente são nomeados.
O PP e o PSD dizem também que as regiões dividem o País. O PP chega ao ponto de instrumentalizar de modo oportunista e inaceitável a bandeira nacional. Omitem que o País está dividido em cinco Comissões de Coordenação Regional, em duas Regiões Autónomas, em dezoito distritos, em 305 municípios, muitos deles geridos pelos mais diferentes partidos, e que existem ainda dezenas de outras divisões regionais.
O facto de alguns pretenderem criar uma histeria em torno da possibilidade de o PCP obter a maioria em alguma região só demonstra o seu espírito antidemocrático e os estreitos limites do pluralismo e liberdade que apregoam. A verdade é que o PCP detém a maioria em 49 municípios no quadro da CDU (um terço da área do País), detém a maioria na Área Metropolitana de Lisboa, participa na gestão do município de Lisboa no quadro da Coligação "Com Lisboa" e detém importantes pelouros em muitos outros municípios, com reconhecidas vantagens para as populações.
O PCP chama entretanto a atenção para que a aprovação em comissão parlamentar do mapa das regiões e o eventual reacender do debate sobre a regionalização não significam que esteja em curso um processo seguro de avanço para a concretização desta reforma democrática.
A verdade é que, sendo de prever que o PS tudo fará para aparecer como grande campeão da regionalização até às eleições autárquicas, esse facto não chegará para apagar a verdade essencial de que o processo de concretização da regionalização que o PS acordou em sede de revisão constitucional com o PSD e o PP promete sérias dificuldades e entrega as decisões essenciais à direita. E não é de excluir que, passadas as eleições autárquicas, se assista sobretudo a um jogo em que o PS procurará sobretudo descarregar para outros as responsabilidades de uma eventual inviabilização da regionalização que, de facto, só a si pertencerão.