O Comité Central do Partido Comunista Português, reunido a 8 de
Julho de 2006, procedeu a uma análise ao desenvolvimento da situação
política nacional decorrente da acção do Governo do PS
presidido por José Sócrates e da ofensiva em curso contra direitos
e conquistas sociais, bem como a uma avaliação da situação
internacional, designadamente no Médio Oriente, e em particular na Palestina,
e em Timor-Leste. O Comité Central avaliou ainda a concretização
da acção de reforço da organização do Partido
e definiu as principais linhas de trabalho para o futuro imediato.
1. O Comité Central do Partido Comunista Português avalia com
grande preocupação o desenvolvimento da política de direita
e da ofensiva contra direitos e conquistas sociais que o actual Governo tem
em curso.
Suportada num quadro político-institucional favorável aos interesses
do grande capital — decorrente da presença e afirmação
nos principais órgãos de soberania de um bloco central de interesses,
traduzido na existência de um governo com uma maioria parlamentar e da
«cooperação estratégica» que o actual Presidente
da República lhes garante —, a acção política
do actual Governo corresponde a uma nova fase, quer pela intensidade quer pelo
seu carácter global, de uma ofensiva dirigida para a destruição
dos direitos sociais e para a realização dos interesses do grande
capital.
2. O Comité Central do PCP chama a atenção para o facto
de estar em curso não apenas uma acção destinada a reduzir
direitos e a impor retrocessos sociais, mas sim uma ofensiva dirigida contra
o regime democrático consagrado na Constituição, no sentido
de reconfigurar a estrutura e papel do Estado aos interesses do capital monopolista.
As declarações recentes de conhecidos e proeminentes representantes
do grande capital no sentido, já não só da reclamação
de políticas económicas e sociais mais favoráveis aos seus
interesses e mais negativas para os trabalhadores, mas da apresentação
de uma verdadeira agenda de subversão do regime político e constitucional,
são expressão das condições que julgam poderem estar
criadas, animados pela acção e compromissos do Governo, para levar
mais longe a sua ofensiva contra o regime democrático. Recompostos o
capital monopolista nacional e a sua ligação ao capital estrangeiro,
e garantido o domínio do poder económico sobre o poder político,
o capital e os círculos políticos ao seu serviço inscreveram
como seu objectivo o assalto ao regime democrático e constitucional.
3. Como insistentemente o PCP tem sublinhado, a ofensiva contra a democracia
social e económica terá, inevitavelmente, expressão no
empobrecimento da democracia política e na restrição das
liberdades e garantias dos cidadãos.
Os projectos de revisão das leis eleitorais, as alterações
anunciadas na política de segurança interna e o chamado pacto
de regime para a área da justiça — que PS e PSD, e o bloco
central de interesses que representam, se dispõem a viabilizar —
são inseparáveis da ofensiva mais geral em curso e constituem
uma condição necessária para, pelas limitações
impostas aos que a ela resistem e se opõem, operacionalizar a concretização
dos objectivos da direita e do capital.
No plano da Segurança Interna, o Governo tem em curso — a pretexto
das acrescidas ameaças e complexificação dos fenómenos
criminais e da necessidade (inevitável) de uma reorganização
das forças de segurança — a aplicação e preparação
de medidas de reforço do aparelho repressivo do Estado. Vão nesse
sentido os projectos de subordinação à tutela do MAI de
todas as forças e serviços de segurança, de centralização
da informação criminal e da crescente militarização
da GNR. É todo um vasto conjunto de medidas securitárias no quadro
de novos conceitos de segurança em preparação, que vão
desde o reforço de Schengen e da generalização da vigilância
e policiamento da sociedade à concentração no primeiro-ministro
dos serviços de informações, num deslizante e ilegal processo
de fusão.
A estratégia em curso na área da Justiça tem por objectivo
enfraquecer o poder judicial, limitar a independência dos tribunais, governamentalizar
e privatizar a justiça.
A ofensiva, de uma intensidade sem precedentes, que o actual Governo tem em
curso para controlar a justiça — acompanhada da retirada de direitos,
do afrontamento da dignidade dos profissionais do sector e de insidiosas campanhas
para minar aos olhos dos cidadãos a credibilidade da justiça —
não é separável da escalada contra o regime democrático.
Ela visa, em última análise, manter impunes os poderosos consolidando
ainda mais os traços de uma justiça de classe, já hoje
prevalecentes.
O PCP alerta para as cada vez mais frequentes acções de limitação
de direitos e restrição de liberdades de acção política,
de propaganda e de acção sindical. A frequência com que,
em violação da lei, as forças de segurança intervêm
em nome do patronato para cercear a actividade sindical dentro ou junto da empresas,
as tentativas de restrição do direito de propaganda e de liberdade
de expressão em vários concelhos do País e os repetidos
actos de intimidação junto de dirigentes sindicais e activistas
do PCP — dos quais ressalta, pela sua gravidade, a acusação
de «manifestação ilegal» movida a dois dirigentes
do PCP, actualmente constituídos arguidos com termo de identidade e residência,
em resultado de uma acção de entrega de um abaixo-assinado na
residência do primeiro-ministro — são sinal de um preocupante
recurso, à margem da Constituição e dos direitos nela consagrados,
a actos intoleráveis de limitação das liberdades.
O Comité Central do PCP rejeita firmemente a intimidação
e os ilegítimos condicionamentos no exercício de liberdades e
direitos democráticos, e reafirma a sua determinação em
os defender e exercer.
4. O Comité Central do PCP sublinha o facto de o Partido Socialista
e o seu Governo terem tomado em mãos a liderança da concretização
da agenda e objectivos do capital financeiro e dos grandes grupos económicos.
Não se trata já de uma política justificada a pretexto
de «reformas» ou de aberta colaboração com os partidos
da direita. A acção do Governo do PS nos planos económico,
social e político constitui um verdadeiro programa dirigido contra os
direitos dos trabalhadores, os serviços públicos e as funções
sociais do Estado. A cobertura aos objectivos do patronato em matéria
da liquidação da contratação colectiva e da redução
de salários, os projectos de liquidação da segurança
social enquanto direito universal, a ofensiva contra a administração
pública e os serviços públicos e a redução
da despesa e investimento públicos são a expressão mais
visível dos objectivos, programa e acção do actual Governo.
A remodelação ocorrida na sequência da demissão do
ministro dos Negócios Estrangeiros, sendo expressão da instabilidade
que a actividade do Governo vem provocando junto de vários sectores da
sociedade portuguesa, traduz-se objectivamente no reforço das orientações
e eixos essenciais da sua política, designadamente em matéria
de política externa e de defesa, e da sua subordinação
aos objectivos estratégicos do imperialismo norte-americano e da União
Europeia.
5. O Comité Central do PCP regista que os principais traços da
situação económica e social resultantes da avaliação
feita em Abril passado se mantêm: estagnação económica,
crescimento do desemprego, degradação dos rendimentos da generalidade
dos portugueses e um preocupante défice externo. Uma situação
que ? apesar dos esforços do Governo para encobrir a dimensão
da sua ofensiva, com medidas avulsas e propagandísticas, designadamente
na área das novas tecnologias ? testemunha em toda a sua extensão
a falência das políticas de direita e o agravamento dos problemas
nacionais.
Desmentindo o esforço propagandístico do Governo, que apresenta
como positivos indicadores sem qualquer sustentação real, é
o próprio INE que revela «sinais desfavoráveis em todos
os sectores ? indústria, serviços e construção»,
acrescentando que o «indicador de actividade reforçou em Abril
a tendência negativa que vem a registar desde finais de 2004».
É ainda o próprio INE que vem desmentir o crescimento «virtuoso»
inventado pelo primeiro-ministro, ao evidenciar que o crescimento das exportações
nos primeiros três meses de 2006 foi mais aparente que real, resultante
das dificuldades verificadas nas exportações de têxteis
o ano passado, tendo o País continuado a perder quota de mercado no corrente
ano, com uma quebra naquele período que iguala a média de 2005
(5,6%).
O Relatório do Banco de Portugal sobre a evolução do sector
financeiro em 2005, divulgado em fins de Junho, põe a nu mais uma vez,
a brutal contradição entre a «saúde» da banca
(que regista um crescimento dos lucros de 71,5%) e a «doença»
da generalidade das outras áreas económicas, em particular das
micro, pequenas e médias empresas, e dos sectores produtivos. O empolamento
dos lucros financeiros é também confirmado pelo facto de a remuneração
dos accionistas das empresas cotadas na Bolsa ser a segunda maior entre os países
da Europa.
6. A recente apresentação na Assembleia da República do
documento das Grandes Opções do Plano (GOP) para 2007, confirma
a inteira assunção de reforçadas orientações
capitalistas neoliberais, designadamente o programa de privatizações,
que constitui, para além da alienação de importantes empresas
de valor estratégico, um expediente de obtenção de receitas
destinado a atenuar o crescimento da dívida pública decorrente
da incapacidade de tapar por outras vias o buraco dos desequilíbrios
orçamentais.
O Comité Central do PCP chama a atenção, mais uma vez,
para as consequências desastrosas destas políticas para os sectores
produtivos nacionais. A opção de fazer dos investimentos do capital
estrangeiro o eixo nuclear do crescimento económico nacional constitui
um factor de fragilidade e dependência, testemunhado pelo abandono do
País de dezenas de empresas, de que são exemplo as do sector da
indústria eléctrica e electrónica, a Bombardier, a instabilidade
que atravessa a Autoeuropa e, mais recentemente, as ameaças que pesam
sobre a GM/OPEL de Azambuja.
Na actual conjuntura assume ainda particular gravidade os elevados preços
da energia que os sectores produtivos continuam a pagar, agravando drasticamente
as condições da sua competitividade com as empresas espanholas
e de outros países, e em flagrante contradição com os vultuosos
lucros das empresas fornecedoras, como a GALP e a EDP.
O Comité Central do PCP destaca ainda a insustentável situação
vivida pelas pescas, no fundamental decorrente dos elevados preços dos
combustíveis, tendo-se verificado em 2005 uma nova quebra do peixe descarregado
em portos portugueses. Uma situação semelhante à que atravessa
o sector agrícola, com uma forte penalização do seu rendimento
no ano passado (menos 12%), com elevadas dívidas do Estado aos agricultores
e organizações agrícolas e, mais uma vez, com a vitivinicultura
sob a ameaça de uma desastrosa reforma da OCM do Vinho pela Comissão
Europeia.
7. O Comité Central do PCP chama a atenção para as graves
consequências que o desenvolvimento da política económica
e social do actual Governo do PS tem para os trabalhadores e para o País.
A situação económica e social continua a ser marcada pelo
agravamento da exploração e das injustiças sociais, pelo
baixo valor dos salários e a sua limitação, pela tentativa
de liquidação da contratação colectiva e de eliminação
dos direitos que esta consagra, pelo aumento do desemprego que atinge hoje 10,2%
da população activa (cerca de 570 mil trabalhadores), pelo estímulo
à generalização da precariedade enquanto forma privilegiada
de regulação das relações de trabalho (abrangendo
cerca de um milhão e trezentos mil trabalhadores), pelo aumento do custo
de vida e dos bens de primeira necessidade (habitação, transportes,
energia, despesas de saúde, despesas de educação, bens
alimentares e outros), pelo empobrecimento e rápida degradação
das condições de vida de vastas camadas da população,
pelo endividamento e crescente dependência da banca, pelo feroz e cínico
ataque às organizações dos trabalhadores — nomeadamente
à CGTP — e às suas formas de luta.
Uma política económica e social, que se não for interrompida,
continuará a contribuir para a concentração da riqueza
nas mãos do grande capital nacional e estrangeiro e para uma insuportável
degradação das condições de vida dos trabalhadores
e do povo português, bem como a perpetuar e agravar sérios atrasos
estruturais de que o nosso País padece.
O agravamento da situação económica e social do País
corresponde não a uma qualquer inevitabilidade, mas sim a uma opção
política que, embora não declarada, está subordinada por
inteiro aos interesses dos grandes grupos económicos — nacionais
e estrangeiros — e é subserviente às imposições
que as estruturas da globalização capitalista determinam.
8. O Comité Central do PCP releva como elementos mais recentes da ofensiva
do Governo, o ataque sem precedentes à Administração Pública
e ao papel e natureza das suas funções, da qual não são
separáveis o brutal e sistemático ataque aos direitos dos respectivos
trabalhadores, o encerramento de serviços e a alienação
de funções sociais do Estado.
Os decretos-leis recentemente aprovados sobre os denominados processos de «Reorganização
de Serviços Públicos e de Racionalização de Efectivos»
e «Regime Comum de Mobilidade entre Serviços», constituindo
uma grosseira violação do direito de negociação
dos sindicatos e um violento ataque aos direitos dos trabalhadores, são
um novo passo no projecto de abandono pelo Estado das suas obrigações
constitucionalmente consagradas. A ofensiva contra os trabalhadores da Administração
Pública (baseada em linhas diversificadas de ataque, designadamente em
matéria de carreiras, de que é exemplo o estatuto da carreira
docente), o encerramento de serviços públicos em vastas zonas
do País — maternidades, centros de saúde, escolas, repartições
de finanças, postos de correios — e a transferência para
o sector privado de áreas lucrativas, através das chamadas parcerias
público-privadas, ou da «externalização» ou
«contratualização» de serviços, inserem-se
no objectivo estratégico de subversão do regime democrático
e constitucional.
O ataque à Segurança Social, consubstanciado nas propostas de
lei agora anunciadas pelo Governo, constitui uma verdadeira contra-reforma dirigida
contra o sistema público de Segurança Social constitucionalmente
consagrado. No desrespeito pela Lei de Bases de Segurança Social em vigor,
o Governo do PS prossegue o objectivo de reduzir os direitos dos trabalhadores
e dos reformados, e comprometer o direito à reforma dos trabalhadores,
traduzido no aumento da idade da reforma, na redução do seu valor
e na diminuição da sua progressão. Ao recusar tomar as
medidas adequadas à cobrança dos 3400 milhões de euros
de dívida do patronato à Segurança Social, e ao rejeitar
o alargamento das suas fontes de financiamento — designadamente através
da tributação das grandes empresas e da especulação
bolsista — o Governo prossegue o objectivo da destruição
do carácter universal da Segurança Social e da sua redução
a uma mera função assistencial.
O Comité Central do PCP destaca ainda que o Governo, após reduzir
brutalmente o investimento público nacional, procura agora impor no plano
local a concretização de políticas convergentes com as
suas orientações neoliberais. A proposta de revisão da
Lei de Finanças Locais, assente numa ampla operação de
propaganda e de mistificações, traduzir-se-á num novo e
mais expressivo corte nos recursos financeiros postos à disposição
das autarquias (com consequências directas na sua capacidade de investimento
e repercussões quer para as populações quer para a economia
local), numa mais acentuada desigualdade entre municípios que se transformará
no aumento das assimetrias e do empobrecimento dos municípios do interior
do País, e numa intolerável violação e desrespeito
pela autonomia do poder local.
O Comité Central chama igualmente a atenção para o facto
de o Governo do PS não só ter fugido à sua promessa de
revisão do Código do Trabalho, como estar a contribuir objectivamente
para animar o ataque do patronato dirigido contra a contratação
colectiva, atingindo milhares de trabalhadores nos seus direitos e desequilibrando
ainda mais as já muito fragilizadas relações laborais.
Não deixa de ser elucidativo que seja uma empresa pública —
o Metropolitano de Lisboa — a ameaçar os direitos conquistados
no domínio da saúde, subsídios e complementos de reforma,
entre outros, procurando utilizar a caducidade do actual Acordo de Empresa.
9. O Comité Central do PCP sublinha que a solução dos
problemas nacionais, um Portugal mais desenvolvido e mais justo, exigem não
apenas esta ou aquela mudança pontual, mas sim uma ruptura com a política
de classe ao serviço dos grupos económicos e financeiros e de
declínio nacional que está a ser praticada, e uma mudança
profunda, uma nova política, voltada para as necessidades do País
e do povo português, que responda ao presente e abra as portas do futuro.
O País precisa de uma política que defenda e valorize a produção
nacional, combatendo firmemente as deslocalizações e as falências
fraudulentas; que interrompa imediatamente as privatizações; que
promova o investimento público; que estimule o mercado interno através
da elevação dos salários — a começar pelo
salário mínimo nacional — e pensões; que proteja
sectores estratégicos da economia nacional (nomeadamente o sector têxtil)
e apoie as MPME; que rompa com o espartilho da Política Agrícola
Comum e valorize o sector agrícola e as pescas.
O País precisa de uma política que promova o emprego, valorize
o trabalho e o emprego com direitos; que promova uma Administração
Pública eficaz e moderna, que dê resposta às necessidades
das populações, combatendo o encerramento de serviços públicos
e os despedimentos associados à ideia de mobilidade; que combata de forma
determinada o problema do desemprego; que tenha no horizonte a redução
do horário de trabalho para as 35 horas; que erradique todas as formas
de precariedade, com a obrigação de transformação
de todos os contratos a termo e outras formas de relações precárias
correspondentes a funções de natureza permanente, em contratos
sem termo; que, através da permanente fiscalização, combata
o trabalho ilegal ou não declarado, que promova e defenda o direito de
participação dos trabalhadores e das suas organizações.
Uma política que tenha por base a ideia de que só há desenvolvimento
se, no centro das preocupações, estiverem os interesses dos trabalhadores,
do povo e do País.
É neste quadro que se valoriza a iniciativa «Portugal precisa,
o PCP propõe/Produção, emprego, trabalho com direitos»,
que se desenrolará abordando várias questões da vida nacional,
e que corresponde a uma vasta acção de contacto com os trabalhadores,
iniciativas públicas e de esclarecimento, acções diversificadas
das organizações regionais do Partido, intervenções
na Assembleia da República e Parlamento Europeu onde. para além
do diagnóstico, se avançam propostas para a resolução
dos problemas dos trabalhadores e do País.
10. O continuado e brutal agravamento das condições de vida dos
trabalhadores e do povo, o clima de crescente ameaças e repressão
sobre os trabalhadores, a insegurança de milhares de trabalhadores precários
e o desrespeito pelas leis e a impunidade do patronato, criam um quadro extraordinariamente
complexo e exigente no plano da resposta e da luta de massas.
O Comité Central valoriza o conjunto das lutas desenvolvidas em defesa
dos postos de trabalho e do aparelho produtivo, contra o encerramento e a deslocalização
de empresas, por melhores salários e em defesa da contratação
colectiva, e em defesa das liberdade e do regime democrático. As grandes
manifestações do 25 de Abril e do 1º de Maio, as manifestações
e concentrações de 8 de Junho promovidas pela CGTP-IN em todo
o País, a expressiva greve nacional da Administração Pública
no passado dia 6, convocada pela Frente Comum dos Sindicatos, as vigílias,
manifestações, paralisações e greves sectoriais
dos trabalhadores da Hotelaria, Metalurgia, mineiros de Aljustrel, IMAL, da
Têxtil Triunfo Internacional, Química, Indústrias Eléctricas,
Transportes Ferroviários, Soflusa, Metro, Carris, trabalhadores das Autarquias
Locais, Função Pública, Professores, Enfermeiros, Forças
Militares e de Segurança, PT, CTT, Opel, as lutas das populações
contra a destruição e encerramento dos serviços públicos
e as acções dos agricultores em defesa da lavoura, constituem
um importante sinal da disposição de resistência e de oposição
aos objectivos do Governo.
O Comité Central saúda todos os trabalhadores, as populações,
os agricultores, os pescadores, os reformados em luta, e apela à sua
participação nas várias jornadas de luta agendadas, sublinhando
que é pela acção dos trabalhadores e do povo, em defesa
dos seus direitos e por melhores condições de vida, que se acabará
por impor uma ruptura democrática e de esquerda com a actual política
de direita, condição essencial para que se assegure para Portugal
um novo rumo e uma nova política, capazes de assegurar um futuro de progresso,
justiça e desenvolvimento.
II.
1. O Comité Central do PCP analisou aspectos da evolução da situação internacional e alguns dos mais recentes acontecimentos, que confirmam um quadro mundial de grande instabilidade com enormes perigos para a paz, a independência e a soberania dos povos, mas em que a ofensiva do imperialismo defronta uma forte resistência que impõe limites aos objectivos hegemónicos dos EUA, comprovando-se que não tem as mãos totalmente livres para realizar a sua política.
2. O Comité Central do PCP sublinha a importância da resistência
às guerras de agressão imperialista no Iraque e no Afeganistão
e alerta para os perigos da recente escalada israelita contra o povo palestiniano
que, acompanhada pelo recrudescimento de ameaças à Síria
e pela escandalosa violação do seu espaço aéreo,
torna ainda mais explosiva a situação no Médio Oriente
onde, no quadro de complexas manobras político-militares, subsistem sérias
ameaças contra o Irão.
O Comité Central considera particularmente graves as criminosas acções
de Israel contra a Palestina, a prisão de dirigentes, incluindo deputados
e membros do governo, os ataques a infra-estruturas civis e a edifícios
públicos, responsabilizando a União Europeia e os EUA pela dramática
situação humanitária dos territórios ocupados, o
que se insere nos objectivos sinistros de Israel de fazer vergar pela fome a
heróica resistência do povo palestiniano e de concretizar os seus
objectivos de expansão e anexação na região. O Comité
Central expressa a sua mais viva condenação por tais actos e manifesta
a solidariedade com a OLP e a luta do povo mártir e heróico da
Palestina contra a ocupação israelita, pela libertação
dos milhares de presos e pelo regresso dos palestinianos exilados, pela edificação
do seu Estado soberano e independente com a capital em Jerusalém Leste.
3. Face à complexa crise política e institucional em Timor-Leste,
o Comité Central reafirma a sua solidariedade de sempre com o povo timorense
e a Fretilin, na sua luta persistente e corajosa pela independência, pelo
progresso social e em defesa da soberania nacional, condenando todas as pressões
externas e, particularmente, a descarada ingerência da Austrália
nos assuntos internos de Timor-Leste, nomeadamente a acção das
suas forças armadas, que abertamente intervêm como força
ocupante para facilitar a concretização das ambições
económicas e políticas regionais da Austrália. O PCP alerta
para os perigos de soluções de cariz colonialista que possam resultar
de uma intervenção da ONU, e reafirma que cabe ao povo timorense
escolher o seu próprio caminho de desenvolvimento sem pressões
nem ingerências externas.
O Comité Central reafirma a sua posição de que em nenhuma
circunstância a força da GNR deslocada para Timor-Leste —
por solicitação dos órgãos de soberania e no quadro
do integral respeito pela Constituição timorense — se deve
imiscuir nos assuntos internos deste país soberano.
O Comité Central apela às suas organizações e aos
seus militantes em estruturas unitárias para o desenvolvimento de uma
linha de solidariedade com o povo timorense nesta situação particularmente
difícil e complexa.
4. O Comité Central chama uma vez mais a atenção para a problemática da União Europeia em que, passado um ano da «pausa para reflexão» imposta pelo «Não» francês e holandês ao chamado «tratado constitucional», a última Cimeira revelou que se mantêm, num processo profundamente contraditório, as dificuldades para o relançar, e em que se aprofundam as pretensões alemãs de grande potência. O PCP reafirma a sua oposição aos projectos de retoma do «tratado constitucional», com ou sem o nome de «constituição», e denuncia as políticas e orientações subordinadas, entre outras, ao Pacto de Estabilidade, à Estratégia de Lisboa e à liberalização e privatização de serviços, responsáveis pelo desemprego e a desvalorização do trabalho e pela degradação dos direitos sociais de quem trabalha. O PCP denuncia ainda o acelerado processo de militarização em curso e a estreita articulação política e militar, apesar das rivalidades no plano económico, entre a União Europeia e os EUA, de que a Palestina e a ofensiva relativamente ao Irão são claros testemunhos.
5. O Comité Central valoriza o desenvolvimento da luta que por todo o mundo, do Iraque e Afeganistão à Palestina, de Cuba à Venezuela, do Sahara Ocidental a Timor-Leste, na Bolívia e outros países latino-americanos onde os trabalhadores e os povos rejeitam as políticas neoliberais e enveredam por novas vias com reais potencialidades de desenvolvimento, e realça o profundo significado e importância de processos de rearrumação de forças no plano regional e mundial na contenção dos objectivos hegemónicos do imperialismo.
6. O Comité Central sublinha a importância que na actual situação internacional adquire a solidariedade internacionalista, e reafirma a decisão do PCP de contribuir, através do reforço das suas relações bilaterais e de iniciativas multilaterais — como será o caso do Encontro Internacional de partidos comunistas e operários a realizar em Lisboa em Novembro — para o necessário reforço do movimento comunista e da frente anti-imperialista que, potenciando as lutas no plano nacional, conduzirá a significativos avanços da luta dos trabalhadores e dos povos em defesa dos seus interesses, da soberania e independência nacionais e na luta pela paz, indispensáveis para inverter o actual curso da situação internacional.
III.
1. O Comité Central salienta o importante papel desempenhado pelo PCP
e os seus militantes na acção política contra a ofensiva
generalizada lançada pelos grupos económicos e financeiros, que
tem no Governo PS o seu principal promotor. No estímulo à luta
dos trabalhadores e das populações, na intervenção
institucional, na acção política geral, o PCP tem desenvolvido
uma acção sem paralelo na resistência à política
de direita e na afirmação de uma política alternativa para
Portugal.
Na actual situação, assume particular importância a articulação
do estímulo ao desenvolvimento da luta de massas e do fortalecimento
de organizações e movimentos do mais diverso tipo, com o reforço
da acção e iniciativa partidárias e a concentração
de atenções na decisiva tarefa do reforço do Partido.
O Comité Central considera que a situação actual, com a
grave ofensiva em curso e um domínio do poder político baseado
na «cooperação estratégica» entre o Presidente
da República e o Governo, apoiado numa maioria absoluta ao serviço
dos interesses e dos objectivos dos grupos económicos e financeiros,
contra os trabalhadores, o povo português e os interesses nacionais, coloca
com ainda maior importância o papel decisivo da luta de massas, da organização
e unidade na acção dos trabalhadores e dos mais diversos sectores
sociais vítimas da política de direita. A luta de massas é,
como a experiência mostra, a grande força de resistência,
transformação e construção de um futuro diferente.
O PCP apela aos trabalhadores e ao povo português para que prossigam e
intensifiquem a luta em defesa dos seus interesses e direitos, para que mostrem
o seu descontentamento e protesto, para que exijam uma alternativa de desenvolvimento
e justiça social para Portugal.
2. O Comité Central destaca, no âmbito de um vasta e diversificada
acção partidária das organizações e militantes
na resposta aos problemas do País e das áreas e sectores onde
actuam, as seguintes iniciativas:
? A acção «Portugal precisa, PCP propõe», centrada
nas questões da produção, do emprego e do trabalho com
direitos, que irá prosseguir com a denúncia de situações
e a proposta de alternativas na defesa e valorização do aparelho
produtivo e da produção nacional, contra o desemprego e pela protecção
aos desempregados, contra a precariedade e a violação dos direitos
dos trabalhadores.
? A realização de uma campanha nacional em defesa do direito à
reforma, que se iniciará em 1, 2, e 3 de Setembro na Festa do Avante!
e decorrerá com contactos, sessões, comícios e outras realizações
até final de Outubro. Num quadro em que o Governo quer pôr em causa
o direito à reforma, com o propósito de aumentar a idade da reforma
e baixar o valor das pensões e da sua progressão, e no seguimento
da recolha no ano passado de mais de 120 mil assinaturas contra o aumento da
idade da reforma, esta acção do PCP assume um particular significado
político.
? A realização a 28 de Outubro do Encontro Nacional do PCP sobre
a Administração Pública, inserido na acção
contra a linha de privatização e desmantelamento que o Governo
leva a cabo, e na afirmação da alternativa de um Administração
Pública eficaz ao serviço do povo e do País.
? A realização, em 16 de Dezembro, do Encontro Nacional sobre
a situação actual na União Europeia, as perspectivas e
a alternativa do PCP, no quadro da análise de 20 anos de adesão
de Portugal à CEE.
? A realização da Festa do Avante! em 1, 2 e 3 de Setembro, grande
realização política cultural que este ano assinala a sua
30.ª edição.
3. O Comité Central do PCP saúda o extraordinário êxito que constituiu a realização do 8.º Congresso da Juventude Comunista Portuguesa, em Vila Nova de Gaia. Valoriza também, os 950 recrutamentos alcançados, a participação de mais de 750 delegados e centenas de convidados, que confirmam a JCP como uma grande organização de massas, com capacidade de intervenção e rejuvenescimento, indispensável na luta da juventude portuguesa.
4. O Comité Central analisou o trabalho já realizado no âmbito
da concretização das orientações do XVII Congresso
para o reforço do Partido inscritas na Resolução «Sim
é possível! Um PCP mais forte.», que se caracteriza por
um grande dinamismo da organização e intervenção
partidárias, e por resultados positivos das medidas já tomadas
no decorrer do primeiro semestre deste ano, de que se destacam uma elevada responsabilização
de quadros jovens, a adesão ao Partido de mais de 1600 novos militantes
e a realização de 236 Assembleias das Organizações
no 1.º semestre de 2006, o que, por si só, representa a um número
de assembleias superior ao de qualquer ano anterior.
O Comité Central reafirma a importância de 2006 como ano de reforço
do Partido, sublinha a prioridade da acção com esse objectivo
no quadro da actividade partidária, chama a atenção para
o carácter integrado do conjunto das medidas de reforço do Partido
e destaca, entre outras, a importância das seguintes: uma maior iniciativa
das organizações e militantes na acção politica
e no desenvolvimento das lutas dos trabalhadores e das populações;
a responsabilização de quadros e sua formação; o
reforço da organização e intervenção nas
empresas e locais de trabalho, principalmente na definição da
estruturação e na responsabilização de funcionários
e outros quadros por este trabalho, na transferência ou ligação
dos membros do Partido com menos de 55 anos trabalhadores por conta de outrem
e na integração prioritária dos novos militantes em organizações
a partir dos locais de trabalho; o fortalecimento e dinamização
das organizações de base; o recrutamento de novos militantes;
a integração de mais membros do Partido em organismos; o completar
da entrega do novo cartão do Partido e uma maior ligação
aos membros do Partido; a finalização do esclarecimento da situação
dos inscritos no Partido; a difusão do Avante! e da imprensa do Partido
em geral, a dinamização da informação e propaganda;
a realização das assembleias das organizações e
a recolha de fundos.
5. O Comité Central sublinha a importância para o reforço da capacidade financeira do Partido do êxito da Campanha Nacional de Fundos, para o que concorrerá a definição de objectivos e a sua programação, permitindo alargar o contacto com um vasto número de militantes e simpatizantes e a realização de iniciativas diversas.
6. Sendo o segundo semestre, em que agora entramos, decisivo para consolidar
e potenciar muitos dos resultados já obtidos e para adoptar medidas e
realizar iniciativas que permitam alcançar os objectivos propostos, o
Comité Central apela às organizações e militantes
para que prossigam e intensifiquem a sua acção determinada e confiante,
para tornar o Partido mais forte e mais influente, mais preparado para cumprir
o seu papel insubstituível para com os trabalhadores, o povo e o País.