Reforçar a intervenção e organização
no seio da classe operária e dos trabalhadores
Resolução do Comité Central do PCP
20 e 21 de Abril de 2001
I
O reforço da intervenção e organização do
Partido no seio da classe operária e dos trabalhadores em geral tem constituído
uma questão central em todas as grandes realizações, orientações
e decisões, e reafirmada no XVI Congresso.
A questão que se coloca é como dar conteúdo e aplicação
concreta a orientações aprovadas, se as considerámos como
eixo central da natureza de classe do Partido, da sua estratégia política
e política de alianças, da sua acção no desenvolvimento
das organizações unitárias de trabalhadores e na luta de
massas, do seu futuro e influência na sociedade portuguesa.
Tal não significa o alheamento ou abandono da acção do
Partido junto de outras camadas e classes sociais. Antes realça que a
organização e intervenção partidária entre
a classe operária e outros trabalhadores desempenham um papel fundamental
na força política e ideológica do Partido num contexto
político e social em que é incontornável a afirmação
e o reforço de um Partido com uma identidade própria, autónomo
e independente face aos interesses de classe (económicos, políticos
e ideológicos) do capital.
O PCP, em resultado da sua acção e da sua luta, e pela identificação
com os interesses e direitos dos trabalhadores, desfruta actualmente dum largo
prestígio e influência social cuja expressão se manifesta
na composição das estruturas do movimento sindical e das Comissões
de Trabalhadores (CT).
Subsistem, no entanto, grandes dificuldades e debilidades da organização
do Partido nas empresas e locais de trabalho que resultam em primeiro lugar
de factores objectivos, mas também do grau de compreensão, da
definição de prioridades, de medidas, meios e quadros conducentes
à concretização das orientações que se aprovaram.
II
A possibilidade de um acréscimo de importância da força
social e do desenvolvimento da luta dos trabalhadores é real não
obstante todas as alterações objectivas e subjectivas que se têm
verificado.
Tendo em conta o seu papel decisivo como força do trabalho, na produção,
do valor da riqueza, nas lutas de sentido progressista e contra a exploração
capitalista, os trabalhadores dão uma contribuição insubstituível
no desenvolvimento da luta de massas e no combate à política de
direita.
A acção política, social, parlamentar e autárquica,
deve estar comprometida permanentemente com o objectivo da afirmação
e defesa dos direitos e justas aspirações dos trabalhadores, factor
fundamental do próprio desenvolvimento, progresso e democratização
da sociedade portuguesa.
A relação do PCP com os trabalhadores, a intervenção
e iniciativa sobre os seus problemas e reivindicações não
devem nem podem ser função exclusiva e atribuída apenas
aos organismos específicos de trabalhadores comunistas, antes deve ser
preocupação e empenhamento permanente de todo o colectivo partidário,
em especial nas comissões concelhias e outros organismos de direcção
intermédios.
A relação interactiva da iniciativa política e legislativa
com o desenvolvimento da luta de massas tem demonstrado em muitas situações,
seja no combate às tentativas de condicionar ou eliminar direitos sociais
e laborais, seja na sua defesa, manutenção e alargamento uma linha
de trabalho de grande actualidade e validade.
A proposta e a luta pela valorização do trabalho, por melhores
salários, pela redução da jornada de trabalho, pela efectivação
dos direitos individuais e colectivos, da segurança no emprego e o consequente
combate à precariedade, à insegurança e sinistralidade
no trabalho; o desenvolvimento da solidariedade da defesa e dignificação
do estatuto laboral dos trabalhadores imigrantes, a articulação
da luta em defesa do sector público e dos serviços públicos
com os direitos dos trabalhadores e dos utentes, a especificidade e relevo dos
problemas das mulheres e dos jovens trabalhadores, constituem entre outras,
áreas de intervenção e acção que merecem
um contínuo esforço do Partido.
As campanhas nacionais ou específicas de contacto com os trabalhadores
demonstraram ser uma linha de trabalho a prosseguir, sem vulgarizar, na medida
em que permitem divulgar junto de centenas de milhar de trabalhadores de centenas
de empresas e locais de trabalho as propostas e iniciativas do Partido, facilitam
uma maior aproximação aos trabalhadores, estabelecem contactos
que potenciam o recrutamento e a possibilidade de reforço da organização
nas empresas e do prestígio e influência do Partido.
Mas sendo importante "ir lá", o que é fundamental é
"estar lá" na empresa, nos locais de trabalho, de forma organizada.
As células e outras organizações e organismos do Partido
nas empresas e locais de trabalho têm um papel determinante para a elevação
da consciência social e de classe, para forjar uma identidade de classe
integradora das novas camadas de trabalhadores, para promover a evolução
da consciência social para uma mais avançada consciência
política e para o apoio ao PCP.
Num quadro de uma poderosa ofensiva política e ideológica do capitalismo,
a organização do Partido no seio dos trabalhadores não
é substituível no combate a concepções conformistas
e de capitulação que tentam moldar e condicionar os comportamentos
e valores dos trabalhadores nos quadros e limites ideológicos do capitalismo,
que procuram separar a acção social e sindical na empresa da acção
política, que pretendem fragmentar e diluir a compreensão pelos
trabalhadores dos mecanismos da sua exploração, da promiscuidade
entre o poder económico e o poder político, e reduzir o trabalhador
ao papel de cidadão que delega periodicamente no voto o poder de "fazer
política". A evolução da consciência social
para consciência política, a formação da opção
de voto desenvolve-se mais rapidamente se houver Partido organizado a intervir
politicamente dentro da empresa.
III
O XVI Congresso, tendo em conta as exigências que se colocam ao Partido e visando ultrapassar insuficiências e estrangulamentos detectados, apontou os princípios de trabalho para o reforço da organização. O objectivo de reforçar a organização e intervenção do Partido nas empresas e locais de trabalho é dirigido a todos os trabalhadores no entanto há empresas, locais de trabalho e zonas industriais que pela sua dimensão e/ou importância justificam medidas especiais.
1. O XVI Congresso definiu como prioridade e
objectivo nacional a existência de trabalho organizado do Partido, nas
empresas e locais de trabalho com mais de mil trabalhadores e/ou de importância
estratégica, a par de outros objectivos sectoriais e regionais de enraizamento
do Partido.
Isto significa assumir que, independentemente da dinâmica existente em
cada uma destas unidades, é objectivo da organização regional
respectiva e do Partido em geral assegurar a existência de trabalho organizado
nessas empresas, locais de trabalho (designadamente locais de trabalho da Administração
Pública Central como hospitais e universidades e das câmaras municipais)
ou zonas industriais constituídas por unidades empresariais de diversa
dimensão.
Isso significa que o Partido assume o objectivo no quadro das suas organizações
de ter uma estrutura de organizações de base de maior ou menor
dimensão em todas as empresas, locais de trabalho ou zonas industriais
referidas, que garantam aí o trabalho organizado do Partido.
Trata-se de uma estrutura de organizações de base para o trabalho
com os respectivos trabalhadores e para o trabalho geral do Partido e não
de uma frente de trabalho.
O reforço efectivo da organização do Partido exige a adopção
de medidas urgentes, um verdadeiro plano de trabalho em cada região que
com o acompanhamento, apoio e estímulo das estruturas centrais do Partido,
defina prioridades e sobretudo formas e meios para a sua concretização.
2. A partir de todos os elementos disponíveis
é necessário definir claramente em cada região quais são,
além das empresas e locais de trabalho com mais de mil trabalhadores
(que devem também ser identificadas), as empresas, locais de trabalho
e zonas industriais consideradas estratégicas e prioritárias.
Num levantamento com insuficiências, que não inclui os locais de
trabalho da Administração Pública Central e Local, foi
apurada a existência de mais de 1 000 empresas e locais de trabalho acima
de duzentos trabalhadores, mais de 200 acima de quinhentos trabalhadores e mais
de 100 acima de mil trabalhadores.
As empresas nacionais (exemplo: PT, CTT, EDP, Bancos, etc.) com vários
locais de trabalho num concelho ou distrito, e que no conjunto têm milhares
de trabalhadores, têm de ser consideradas para o plano de cada região
como prioritárias para a acção do Partido.
Os trabalhadores da Administração Pública Central (nomeadamente
da saúde, do ensino e da segurança social) e Local, que na generalidade
dos distritos são muitos milhares, têm também de ser consideradas
nas medidas a tomar.
3. A concretização, o aprofundamento
e continuidade deste trabalho prioritário reclamam orientações
e definições.
- Tendo em conta o número de locais de trabalho existentes em cada distrito
e a estrutura e capacidade de intervenção do Partido em cada região,
é necessário que sejam tomadas medidas de quadros, designadamente
funcionários do Partido, em alguns casos com o apoio de uma linha de
trabalho central do Partido, que deverão ter em exclusivo tarefas ligadas
ao acompanhamento e desenvolvimento do trabalho do Partido nas empresas e locais
de trabalho.
É particularmente necessário que seja destacado um quadro do Partido
que tenha como responsabilidade principal, em muitos casos exclusiva, o trabalho
de cada empresa ou local de trabalho definido como prioritário, com condições
para acompanhar e dinamizar esse trabalho (tenha ou não tenha essa empresa
neste momento membros do Partido conhecidos).
Face à realidade concreta de cada distrito e tendo em linha de conta
o número de trabalhadores e de empresas de cada sector de actividade
devem ser responsabilizados camaradas pelo acompanhamento de sectores que têm
coordenação no plano nacional e por outros que a realidade regional
justifique.
- Em cada Direcção de Organização Regional (DOR)
deve ser criada uma comissão, organismo de coordenação
ou de direcção, que de forma não diluída no acompanhamento
dos dirigentes sindicais comunistas, tenha por responsabilidade acompanhar e
dirigir a concretização de medidas constantes do plano regional
de acção previamente estabelecido.
- Os responsáveis por cada um dos sectores, empresas, locais de trabalho,
ou zonas industriais deverão tomar a iniciativa de desenvolver o trabalho
para a criação e reforço da organização associado
com iniciativa política do Partido, com o trabalho para o fortalecimento
das Organizações Representativas dos Trabalhadores (ORT), e a
procura de um conhecimento aprofundado da situação económica
e financeira, das relações de trabalho das empresas e sectores
de modo a contribuir para a definição de propostas do Partido
e a emissão regular de informação aos trabalhadores sobre
a realidade com que estes se confrontam e sobre a actividade geral do Partido.
- O objectivo definido exige medidas específicas, mas deve ser uma preocupação
de todo o Partido, a começar pelas organizações concelhias
e de freguesia. A tomada de medidas, a preocupação constante dos
Executivos das DOR e Comissões Concelhias, com a organização
e luta dos trabalhadores são indispensáveis. Assume particular
importância o levantamento dos locais de trabalho dos membros do Partido
e da sua disponibilidade para dar uma colaboração na sua empresa
independentemente do sitio onde estão organizados. É igualmente
necessário proceder ao levantamento de nomes de trabalhadores ainda não
membros do Partido, nomeadamente jovens, que estejam disponíveis para
este trabalho. O trabalho conjunto com a JCP e o levantamento de contactos que
tem é também de grande valor nesta linha de intervenção.
- O trabalho de enraizamento do Partido nas empresas e locais de trabalho beneficiará
dos levantamentos que permitirão localizar membros do Partido que não
são conhecidos, no entanto o objectivo de garantir o trabalho organizado
do Partido no universo de empresas considerado, pelo facto de não haver
membros do Partido em muitas delas, vai exigir o prosseguimento de contactos
à porta das empresas e, particularmente, um trabalho partidário
com trabalhadores que não são membros do Partido (ou que ainda
não são membros do Partido). Mesmo em locais em que já
há membros do Partido è preciso ver a forma de alargar a intervenção
e influência partidária com iniciativas e trabalho que envolvam
trabalhadores não membros do Partido. Isto além da compreensão
que é necessário vincar que o Partido se dirige a todos os trabalhadores
de uma dada empresa ou local de trabalho e que a célula ou os membros
do Partido aí existentes são o instrumento essencial desse trabalho
junto de todos os trabalhadores.
- O Comité Central decide integrar neste plano de trabalho de enraizamento
do Partido junto dos trabalhadores uma campanha de recrutamento para o Partido
de 2000 novos membros, a decorrer até 1 de Maio de 2002, centrada nas
empresas e locais de trabalho, nomeadamente junto dos jovens. Os militantes
do Partido que são dirigentes sindicais e membros de Comissões
de Trabalhadores devem ter um papel importante na adesão ao Partido de
trabalhadores dirigentes sindicais, membros de CT, de Comissões Sindicais,
Comissões de Higiene, Saúde e Segurança nos locais de trabalho,
delegados sindicais e membros de sub-CT que não são do Partido.
- A acção junto dos trabalhadores implica também meios
de propaganda permanentes, designadamente meios móveis que facilitem
o contacto à porta das empresas, alargando o dispositivo já hoje
existente a um maior numero de regiões.
- A coordenação nacional de sectores de empresas deverá
ser alargada ao sector automóvel, das indústrias eléctricas
e electrónicas, ao sector da construção, mármores
e madeiras e ao sector da vigilância e limpeza, prosseguindo o desenvolvimento
de coordenação dos sectores e empresas já definidos.
- O desenvolvimento do trabalho do Partido exige um conhecimento profundo e
actualizado que só é possível com uma ligação
estreita à realidade e simultaneamente com o estudo dos elementos disponíveis,
tornando-se por isso necessárias medidas que permitam manter actualizada
a informação sobre as empresas e locais de trabalho e aprofundar
o conhecimento da realidade social e das suas alterações.
- O Comité Central decide a realização de reuniões
nacionais com os quadros responsáveis pelas empresas e locais de trabalho
prioritários e aponta a realização da iniciativa nacional
decidida no XVI Congresso, de balanço do trabalho realizado e relançamento
da intervenção, para o segundo semestre de 2002.
A realidade demonstra que dificuldade não significa impossibilidade. O reforço e a melhoria das organizações do Partido, nomeadamente a sua ligação aos trabalhadores e aos locais de trabalho, determinarão o seu reforço político, social e eleitoral para encarar com mais confiança e capacidade de intervenção as tarefas do futuro.